Análises laboratoriais realizadas em amostras de parte dos vestígios arqueológicos recentemente encontrados em Montes Claros de Goiás, a cerca de 270 quilômetros de Goiânia, confirmam que a região já concentrava atividade humana há pelo menos 3,5 mil anos.
Entre o material encontrado na atual área de cultivo de cana-de-açúcar pertencente ao Parque Industrial do Setor Elétrico de Bioenergia de Montes Claros de Goiás estão restos ósseos, porções de carvão e artefatos de pedra e cerâmica, tais como ferramentas de corte e fragmentos de raspadores e vasilhas.
Ao todo, foram identificados e recolhidos 3.229 artefatos arqueológicos que estavam espalhados por uma área de 7.640 metros quadrados, escavada a profundidades de até 2,5 metros em alguns pontos. No local, um abrigo rochoso que recebeu o nome de Toca da Anta, também foram encontrados paredões com pinturas rupestres.
Amostras do material recolhido foram enviadas para um laboratório de Miami, nos Estados Unidos, referência no emprego da técnica de datação por radiocarbono e que concluiu que o sítio arqueológico tem ao menos 3,5 mil anos. Além disso, as escavações evidenciaram que houve pelo menos dois momentos distintos: o primeiro associado à presença de grupos horticultores-ceramistas e o segundo, mais antigo, vinculado aos vestígios deixados por grupos de caçadores-coletores.
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), toda a área já foi delimitada e está sendo preservada. Além disso, o novo sítio histórico foi cadastrado e os artefatos desenterrados foram entregues aos cuidados do Museu Histórico de Jataí (GO), instituição que apoia as pesquisas arqueológicas no Parque Industrial do Setor Elétrico de Bioenergia e habilitada para receber e manter sob sua guarda o acervo resultante.
Licenciamento ambiental
Desde 2018, outros quatro sítios arqueológicos já tinham sido identificados nas proximidades da Toca da Anta, onde a pesquisa arqueológica começou como parte das exigências do processo de licenciamento ambiental de um novo empreendimento econômico. Fato que, para o arqueólogo do Iphan, Danilo Curado, demonstra a importância dos processos de licenciamento ambiental.
“A ação promovida no empreendimento demonstra a importância de se realizar os estudos arqueológicos dentro do licenciamento ambiental, ainda que em áreas já alteradas pela agricultura. Neste caso, se não houvesse tal pesquisa, certamente um sítio de mais de três milênios poderia ter sido destruído”, afirma Curado, em nota.
O superintendente do Iphan em Goiás, Allyson Cabral, também destaca a participação dos técnicos da autarquia federal no processo de licenciamento ambiental. “Os empreendimentos agropecuários, assim como tantos outros potencialmente lesivos ao meio ambiente e, consequentemente, aos recursos culturais, necessitam de pesquisas preventivas e autorização deste Instituto, que tem a missão de preservar e difundir o patrimônio cultural do povo brasileiro, para o fortalecimento das identidades, garantia do direito à memória e contribuição para o desenvolvimento socioeconômico do país de forma sustentável e responsável.”
(Agência Brasil)