Leticia Sabatella, uma das atrizes mais emblemáticas do Brasil. Seus papéis mais lembrados são da personagem Latiffa, em O Clone e a religiosa Irmã Lavínia, em Páginas da Vida. Mas o papel que deu mais reconhecimento mundial para a triz, foi a Ivone, em Caminho das Índias. Leticia é uma das artistas que apoiou Lula durante a campanha do primeiro turno das eleições de 2022. Jorge Fontevecchia entrevistou a atriz durante o programa Modo Fontevecchia, transmitido pela TV, rádio e Youtube.
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Letícia, você foi uma das artistas que mais apoiou Lula durante a campanha. Gostaria de saber sua visão do que aconteceu ontem.
O meu apoio ao Lula ele é restrito em certos momentos. Porque eu mesma deixei de apoiá-lo e de apoiar o governo do PT. E nesse momento eu fiz uma campanha em função de alertar as pessoas, porque a minha relação principal é com os movimentos sociais, os movimentos indígenas, com a luta de preservação ambiental do país, pela educação e pela cultura. E também pelas mulheres, principalmente. E nesse quesito, um governo que tenha um olhar social, um olhar para desfazer desigualdades ancestrais que nós temos no nosso país e precisam ser refeitas. Desigualdades históricas, a gente tem sempre que estar ponderando e votando, e se orientando para que a gente possa eleger governos que tenham esse cuidado.
E é lógico que um governo como o do Bolsonaro, um governo de extrema direita, não é possível. A gente viu o que foi a pandemia, principalmente. O que foi feito pelos país, o que não foi feito, o que deveria ter sido feito, poderia ter sido feito e não foi feito. O descaso com Amazônia, o descaso com a educação, o descaso com a cultura, o descaso com as mulheres, enfim. Então é lógico que não poderia apoiar esse governo.
Como impactou o voto da mulheres nessa eleição. Por exemplo, na Argentina os comentários misóginos de Jair Bolsonaro surpreendem. Mas como você imagina que isso afetou o resultado de ontem?
O resultado de ontem ‘tá’ tão assustador, eu ainda estou digerindo. Quando eu disse não apoiar o governo de Bolsonaro, nesse momento meu apoio era justamente para uma candidatura de esquerda. O Lula ele surge como uma possibilidade de um retorno e de uma melhora ainda do que ele tinha sido em relação aos movimentos. De não se desligar e não esquecer das suas bases. Não esquecer da base que o elege, a base popular. Mas ao mesmo tempo um presidente, uma pessoa, um estadista capaz de conciliar opostos. De fazer algo e ao mesmo tempo ter um olhar e uma inteligência sobre o cuidado social. É um estadista.
Diferente do Bolsonaro. Diferente desse governo que a gente experimentou, que é um total descaso. Esse governo eu não apoio. Em relação ao resultado, é uma coisa a se dirigir. Porque pelo o que nós vimos nós perdemos. Os cuidados sociais, a luta pela cultura, a luta pela Amazônia. Ela realmente sai perdendo com essa votação.
Ainda teremos uma luta árdua ate o segundo turno e eu acho que esse é um momento de muita sensibilidade, para quem quer um país mais justo, um país de igualdade, principalmente das mulheres. Para a luta das mulheres é um retrocesso absurdo. Um governo formado por homens truculentos, que não tem sensibilidade, um descaso total.
Na argentina existe um coletivo de atrizes que defendem uma agenda feminista. No caso do Brasil existe algum tipo de coletivo feminista de atrizes. Como na Argentina e nos Estados Unidos.
Sim existe. Existe o “Xota Power”, que é um movimento que começou através de uma resistência de varias atrizes a uma ação machista, um assédio. Ele se une também a atrizes argentinas e as vezes tem feministas de outros países também.