Esta quarta-feira (27) marca o Dia Nacional da Doação de Órgãos, data instituída pela Lei nº 11.584/2007 e inserida no contexto da campanha “Setembro Verde”, que divulga e busca fomentar a doação de órgãos para transplante no país.
A conscientização a respeito da data é encarada como uma missão por Tania Maia da Mata, de 58 anos, que passou por um transplante de coração em 2020 e, desde então, busca disseminar informações sobre a doação de órgãos e celebrar histórias de vida que foram transformadas por atos altruístas, como aconteceu com ela.
“Em 2018 sofri um infarto, foi quando começou a minha luta pela vida. Fui diagnosticada com uma miocardiopatia dilatada, que danificou bastante o meu coração, mas foi a partir do ano seguinte, 2019, que minha saúde começou a ficar cada vez mais debilitada e eu me sentindo muito fraca, sem condições de realizar atividades básicas do dia a dia”, relata.
Dois anos após o primeiro infarto, o prognóstico médico era desanimador. “O caso era cirúrgico, já que foi descoberta doença na válvula mitral e apenas 20% do meu coração estava funcionando. Porém, pelo resultado dos exames pré-cirúrgicos, o meu coração jamais suportaria um procedimento deste porte, e a minha sentença era de uma sobrevida curta”, conta. A indicação era entrar em cuidados paliativos, com apoio de psicoterapia.
O filho de Tania, que é médico ginecologista, não se conformou com o diagnóstico e decidiu procurar outros especialistas: “Era inadmissível aceitar o prognóstico de morte da minha mãe, então, percorri os melhores hospitais de São Paulo em busca do melhor especialista”, lembra Marcos Maia. Foi quando conheceu o cirurgião Fábio Antonio Gaiotto, que avaliou o caso e decidiu incluí-la na fila de transplante do Sistema Único de Saúde (SUS), como alta prioridade. O especialista é o mesmo que, recentemente, fez o transplante de coração do apresentador Fausto Silva, o Faustão, em agosto.
“Durante o meu período de recuperação após o transplante, ainda no hospital, eu decidi me engajar em uma ação que pudesse informar e orientar as pessoas sobre a importância de se tornar um doador de órgão. Três anos se passaram desde que renasci em vida, e isso só é possível graças a generosidade e o altruísmo de pessoas que, mesmo em um momento de grande dor, optaram por doar órgãos de seus entes falecidos”, comemora.
Como se tornar um doador
Dados do Registro Brasileiro de Transplantes apontam que, no último ano, foram realizados 356 transplantes de coração. Desde 2013, já foram realizados 3.505 transplantes desse órgão e, em março de 2023, a lista de espera para essa cirurgia continha 310 pacientes adultos e 59 pacientes pediátricos.
Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), de cada oito potenciais doadores, apenas um é notificado. Enquanto em países como a Espanha, referência mundial quando o assunto é transplante, são registrados cerca de 40 por milhão, no Brasil essa taxa ainda não alcançou 20 doadores para cada milhão de pessoas.
Para se tornar doador por aqui não é necessário deixar nada por escrito, em nenhum documento. Basta comunicar a família do desejo da doação, que só vai acontecer após autorização familiar. Os transplantes ocorrem através de uma cirurgia tradicional e ao fim do procedimento o corpo é reconstituído, podendo ser velado normalmente.
A doação de órgãos e tecidos pode ocorrer após a constatação de morte encefálica, que é a interrupção irreversível das funções cerebrais, ou até mesmo em vida.