Mais de 500 artistas, ativistas, escritores de todo o mundo denunciam a posição da Alemanha favorável a Israel no conflito em Gaza. Conhecido como Strike Germany, o movimento busca somar forças para que trabalhadores culturais deixem de colaborar com associações financiadas pelo Estado alemão.
Os signatários afirmam que a Alemanha tem reprimido qualquer defesa pró-Palestina, incluindo a proibição de símbolos de apoio e comícios. O chanceler alemão, Olaf Scholz, por sua vez, acredita que “o único lugar da Alemanha é ao lado de Israel“. “Nossa própria história e nossa responsabilidade no Holocausto fazem com que seja nosso dever permanente defender a existência e a segurança de Israel“, afirmou em evento no Parlamento alemão (Bundestag) em outubro do ano passado.
A campanha, lançada nesta semana, é apoiada pela autora francesa e ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura, Annie Ernaux, e pelo poeta e ativista palestino Mohammed El-Kurd. Eles alegam que a Alemanha adotou “políticas macartistas que suprimem a liberdade de expressão, especificamente expressões de solidariedade com a Palestina”.
A atriz americana Indya Moore, o vencedor do Prêmio Turner britânico, Tai Shani, e o cantor de rock alternativo libanês Hamed Sinno, do popular grupo dissolvido Mashrou’ Leila, também declararam apoio.
Ao jornal Al Jazeera, El-Kurd afirmou que “numa altura em que os palestinos estão sendo massacrados por um exército apoiado pela Alemanha a um ritmo sem precedentes, e numa altura de um totalitarismo crescente nas instituições alemãs, é mais importante do que nunca que pessoas boas rejeitem o racismo anti-palestino de forma assertiva e pública, e boicotem as organizações que espalham ou dão cobertura a esse racismo”.
Disse ainda que “não pode haver negócios como de costume durante o genocídio e não pode haver colaboração com aqueles que negam, justificam ou participam na campanha genocida de Israel atualmente travada contra o povo palestino na situada Faixa de Gaza. É nossa responsabilidade moral”.
O que busca a coligação de artistas?
Para os signatários, as ações das autoridades alemãs durante a guerra têm tido um efeito inibidor em todo o país, especialmente nas artes. A coligação exige que as autoridades alemãs protejam a liberdade artística e combatam o racismo estrutural.
“As instituições culturais estão a vigiar as redes sociais, petições, cartas abertas e declarações públicas em busca de expressões de solidariedade com a Palestina, a fim de eliminar os trabalhadores culturais que não fazem eco do apoio inequívoco da Alemanha a Israel”, alegaram os organizadores.
“Greves e boicotes são muitas vezes eficazes para instigar mudanças políticas. Eles perturbam as estruturas de poder existentes e, se forem feitos de forma eficaz, mobilizam o apoio público. No mínimo, aumentam a consciencialização sobre os problemas sociais e amplificam as vozes daqueles que os defendem“, argumentou Phillip Ayoub, professor de ciência política na University College London, à Al Jazeera.
O professor afirmou que, no caso da “resposta desequilibrada e cada vez mais isolada da Alemanha à catástrofe humanitária em Gaza”, a última campanha poderia desafiar um “status quo arraigado que acadêmicos e artistas criticam cada vez mais como sendo cego ao sofrimento palestino e à desumanização das suas vidas”.
* Sob supervisão de Lilian Coelho