Um estudo conduzido por cientistas da London’s Global University (UCL), publicado na revista científica The Lancet Neutology, revelou que processos de mudanças climáticas poderão afetar negativamente a saúde neurológica das pessoas com doenças cerebrais. O artigo afirma que as consequências poderão ser “substanciais” e que é necessário um debate sobre o impacto na vida dos pacientes.
A pesquisa, publicada nesta quarta-feira (15), chegou ao resultado através da análise de 332 artigos publicados no mundo todo, entre 1968 e 2023. Eles analisaram 19 condições relacionadas ao sistema nervoso, como acidente vascular cerebral (AVC), meningite, epilepsia, esclerose múltipla e enxaqueca. Ainda, eles observaram as consequência das mudanças climáticas em pessoas com distúrbios psiquiátricos, como ansiedade, depressão e esquizofrenia.
Sanjay M. Sisodiya, professor, diretor na Sociedade de Epilepsia dos Estados Unidos e fundador da Epilepsy Climate Change, afirmou em comunicado à imprensa que existem provas nítidas sobre as implicações das mudanças climáticas sob o cérebro. “Há evidências claras do impacto do clima em algumas doenças cerebrais, especialmente acidentes vasculares cerebrais e infecções do sistema nervoso”, escreveu.
“A variação climática, que demonstrou ter efeito nas doenças cerebrais, incluía extremos de temperatura (baixa e alta) e maior variação de temperatura ao longo do dia – especialmente quando essas medidas eram sazonalmente incomuns”, explicou. O especialista ainda completou, dizendo que as variações de temperatura durante a noite podem ser ainda piores para estes pacientes, já que podem perturbar o sono, que é tão importante para o controle de problemas cerebrais.
Além disso, o estudo também revelou que pacientes portadores de demência são mais afetados pelos danos causados por temperaturas extremos e estão mais suscetíveis a serem vítimas de eventos climáticos. Isso acontece devido à possível limitação da capacidade de se adaptar às mudanças que a deficiência cognitiva pode causar.
Mudanças climáticas também pode causar ecoansiedade
A ecoansiedade, também conhecida como ansiedade climática, pode potencializar transtornos psiquiátricos e aumentar os riscos. Este é um termo utilizado pra se referir a um “medo crônico de catástrofe ambiental” e começou a ser usado ainda na década de 1990.
“Todo o conceito de ansiedade climática é uma influência adicional e potencialmente pesada: muitas doenças cerebrais estão associadas a um maior risco de distúrbios psiquiátricos, incluindo ansiedade, e tais multimorbidades podem complicar ainda mais os impactos das mudanças climáticas e as adaptações necessárias para preservar saúde. Mas há ações que podemos e devemos tomar agora”, afirmou Sisodiya.
Com as enchentes que atingem o Rio Grande do Sul desde o final de abril, brasileiros nas redes sociais tem relatado um aumento na manifestação de ecoansiedade. Veja:
Cara eu tô totalmente descaralhada da cabeça com essa catástrofe. Não é só ansiedade climática, pq ansiedade climática é o que q gente tem por saber o potencial da desgraça. Agora ver a desgraça acontecer diante dos próprios olhos e saber que NADA foi feito pra evitar, dói demais
— Aguentou muito, mas não foi simpática (@Sreginae_) May 3, 2024
Ver as notícias do RS está me dando ansiedade climática
— André Montenegro (@andredorural) May 13, 2024
E daí que esporadicamente fico pensando que moro num vale, que próximo de casa tem um rio considerável, que duas ruas pra trás tem um córrego… 🫠
E vamos de exercício mental pra não ter uma ansiedade climática quando chover, pq nunca tive isso aqui (só tenho em São Paulo)!— rafa (@rafagizzi) May 14, 2024
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini