A terça-feira (25) foi marcada por confrontos violentos no parlamento do Quênia, onde a polícia disparou contra manifestantes que tentavam invadir o prédio. Pelo menos cinco manifestantes foram mortos a tiros, enquanto partes do parlamento foram incendiadas durante a aprovação de um controverso projeto de lei para aumentar impostos.
Em meio ao caos, os manifestantes conseguiram dominar a polícia temporariamente, afastando-os em uma tentativa de invadir o complexo parlamentar. Segundo a Citizen TV, alguns manifestantes conseguiram entrar na câmara do Senado.
Após tentativas frustradas de dispersar a multidão com gás lacrimogêneo e canhões de água, a polícia optou por abrir fogo. O ministro da Defesa, Aden Duale, declarou oficialmente a mobilização do exército para lidar com a “emergência de segurança”, que resultou em danos significativos à infraestrutura crítica.
Um repórter da Reuters contou pelo menos cinco corpos de manifestantes do lado de fora do parlamento. A Associação Médica do Quênia confirmou que pelo menos cinco pessoas morreram a tiros enquanto recebiam tratamento, relatando ainda 31 feridos, dos quais 13 foram atingidos por balas reais e quatro por balas de borracha.
Diante da escalada da violência, a polícia conseguiu finalmente afastar os manifestantes do prédio, utilizando gás lacrimogêneo e disparos. Os legisladores foram evacuados por túneis subterrâneos, conforme relatado pela mídia local.
Em Washington, a Casa Branca anunciou estar monitorando de perto a situação em Nairóbi, pedindo calma. Embaixadores de países como Grã-Bretanha, EUA e Alemanha expressaram profunda preocupação com a violência durante os protestos anti-impostos e apelaram à moderação de todas as partes.
— U.S. Embassy Nairobi (@USEmbassyKenya) June 25, 2024
A ativista queniana Auma Obama, meia-irmã do ex-presidente dos EUA Barack Obama, também foi afetada pelo gás lacrimogêneo, conforme mostrou uma entrevista da CNN.
Além dos confrontos em Nairóbi, os serviços de internet em todo o Quênia sofreram interrupções severas durante a repressão policial, de acordo com o monitor de internet Netblocks. A Safaricom, principal operadora de rede do país, informou que os problemas afetaram dois de seus cabos submarinos, embora a causa exata das interrupções permaneça incerta.
Os protestos e confrontos se estenderam a várias outras cidades e vilas do Quênia, com muitos manifestantes pedindo a renúncia do presidente William Ruto e se opondo veementemente aos aumentos de impostos propostos.
A razão dos protestos no Quênia
O projeto de lei para o período 2024/25 visa arrecadar 2,7 bilhões de dólares adicionais em impostos para reduzir o déficit orçamentário e o endividamento estatal, que atualmente representa 68% do PIB do Quênia, acima dos 55% recomendados pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional.
Enfrentando desafios significativos de liquidez e incertezas sobre o acesso aos mercados financeiros, o Quênia buscou apoio do FMI, que pressionou o governo a atingir metas de receita para garantir mais financiamento.
Os manifestantes argumentam que os aumentos de impostos planejados prejudicarão a economia e aumentarão o custo de vida para os quenianos já lutando para sobreviver.
Este não é o primeiro embate em torno de projetos de lei financeira no país. No ano passado, o governo de William Ruto introduziu um imposto habitacional e elevou a alíquota do imposto de renda pessoal mais alta, desencadeando protestos, desafios judiciais e críticas públicas.
O parlamento queniano se reunirá na terça-feira para votar as emendas propostas ao projeto de lei. Os legisladores focarão apenas nas áreas passíveis de emendas. Uma vez aprovado pelo parlamento, o presidente Ruto terá 14 dias para assiná-lo como lei ou devolvê-lo para novas emendas.
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