Recentemente, pesquisas revelaram que a avaliação de microRNA no sangue pode ser crucial na identificação precoce do Alzheimer. Diagnosticar a doença cedo é fundamental para prevenir sua progressão e melhorar a eficácia dos tratamentos.
Atualmente, o diagnóstico de Alzheimer é um processo complexo. Segundo Claudia Suemoto, pesquisadora e professora da USP, à Folha de São Paulo, é necessário primeiro diagnosticar a demência através de sinais como alterações de memória e dificuldade de tomada de decisões. Depois de confirmar a demência com testes cognitivos, exames de neuroimagem e sangue buscam causas reversíveis antes de focar no Alzheimer.
Por que o microRNA é importante para o diagnóstico de Alzheimer? No Brasil, testes de biomarcadores como proteínas beta-amiloides e tau, apesar de eficazes, são caros e indisponíveis para a maioria da população. Esses testes exigem envio de amostras para laboratórios no exterior, tornando a prática clínica pouco viável.
Os miRNAs, ou micro-RNAs plasmáticos, surgem como alternativa promissora. Essas moléculas, influenciadas pelo nosso ambiente e estilo de vida, estão associadas à neurodegeneração anos antes das proteínas beta-amiloide e tau. Portanto, podem indicar uma janela ideal para intervenção preventiva.
Testes de microRNA
Para validar o uso dos miRNAs no diagnóstico de Alzheimer, pesquisadores nos EUA e Alemanha usaram dados de 800 pacientes da Alzheimer’s Disease Neuroimaging Initiative. Eles identificaram miRNAs ligados a proteínas beta-amiloides e tau, além de outros relacionados à neurodegeneração.
Fases da Pesquisa com microRNA:
- Identificação Inicial: 800 pacientes participaram da coleta de dados para identificar miRNAs associados ao Alzheimer.
- Exame de Plasma: Amostras de plasma de pacientes saudáveis e com comprometimento cognitivo foram analisadas em busca dos miRNAs identificados.
- Testes Neuropsicológicos: Pacientes passaram por testes neuropsicológicos, normalmente usados para identificar o Alzheimer, combinados com os exames de miRNA.
Os resultados mostraram que exames de miRNA aumentam a precisão dos testes neuropsicológicos, melhorando a identificação da evolução da neurodegeneração e oferecendo uma alternativa diagnóstica valiosa.
Próximos passos para a validação do diagnóstico
Ivan Okamoto, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein, enfatiza à Folha de São Paulo a necessidade de validar novas metodologias para o diagnóstico de Alzheimer, especialmente exames de sangue. É crucial avaliar a reprodutibilidade dessas análises na população brasileira, visto que grande parte da pesquisa é realizada na Europa e nos EUA.
Os miRNAs são biomarcadores estáveis, envolvendo múltiplas vias metabólicas como neuroinflamação. Estes aspectos os tornam ideais para prever a evolução de transtornos cognitivos leves para demência, permitindo medidas preventivas ou tratamentos mais eficazes.
De acordo com Suemoto, a prevenção é ainda mais importante que o diagnóstico. Eliminar 14 fatores de risco pode reduzir o risco de Alzheimer em quase 50% das pessoas. Tais fatores incluem nível educacional, perda auditiva, depressão, obesidade, tabagismo, hipertensão, diabetes, isolamento social e poluição do ar.