No início de 2025, o Centro de Previsão Climática da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (CPC-NOAA) dos Estados Unidos oficializou o retorno das condições de La Niña, embora essa declaração tenha ocorrido de forma inédita em janeiro. Este anúncio chegou mesmo com as discordâncias na comunidade científica acerca da persistência das temperaturas anômalas no oceano Pacífico. O fenômeno La Niña envolve um resfriamento da temperatura da superfície do mar na região do Pacífico tropical central e oriental, influenciando padrões climáticos em escala global.
Uma das razões para essa decisão foi que o índice Niño-3.4, que mede anomalias na temperatura do oceano, alcançou -0,6°C em dezembro de 2024. Os modelos climáticos indicam uma chance de 59% de que essas condições persistam até o trimestre entre fevereiro e abril de 2025. A discussão agora gira em torno dos métodos de confirmação de La Niña e o tempo necessário de observação para confirmar sua permanência.
Quais são os critérios para declarar La Niña?
Para a declaração de um evento de La Niña, a NOAA considera diversos critérios tanto oceânicos quanto atmosféricos. Esses critérios incluem, inicialmente, uma temperatura da superfície do mar (TSM) na região Niño-3.4 que deve ser pelo menos 0,5°C abaixo da média. Além disso, é necessário que essa anomalia de temperatura persista por três meses consecutivos ou mais.
Outras condições atmosféricas como ventos alísios mais intensos e padrões específicos de precipitação também são essenciais para caracterizar o fenômeno. Um aumento na cobertura de nuvens e chuvas na região da Indonésia, juntamente com uma redução no Pacífico leste, sinalizam um sistema acoplado entre oceano e atmosfera, típico de La Niña. Contudo, divergências surgem sobre a suficiência dessas condições para uma declaração oficial.
Por que há discordâncias na comunidade científica?
Apesar do cumprimento dos critérios formais, muitos cientistas argumentam que as anomalias da TSM e suas condições atmosféricas associadas não persistiram o bastante para justificar a declaração de La Niña. A confiança nos modelos climáticos de previsão também está em foco, já que ao longo de 2024 houve flutuações significativas nas projeções. Inicialmente, previam-se condições de La Niña mais precoces e intensas, o que não se realizou.
O Serviço Meteorológico Australiano, por exemplo, mantém o status de neutralidade, reconhecendo que, embora vários indicadores tenham momentaneamente preenchido os critérios, eles ainda não sustentaram a intensidade necessária. Em contrapartida, a NOAA, baseada em previsões otimistas, acredita que o fenômeno está de fato em curso.
Como as mudanças climáticas impactam as previsões?
O ano de 2024 foi marcado por recordes de temperatura em oceanos e continentes, o que provavelmente afetou os padrões usuais de desenvolvimento de La Niña. Este cenário põe em evidência os desafios das mudanças climáticas para os modelos de previsão climática existentes. A capacidade desses modelos de ajustar e prever fenômenos em um clima em transformação tornou-se um ponto de discussão crucial.
Assim, é importante continuar monitorando as condições do Pacífico e as atualizações dos modelos climáticos para entender as possíveis implicações das mudanças climáticas nas condições de La Niña e El Niño. A complexidade deste fenômeno climático exige uma colaboração constante entre os cientistas para aprimorar a precisão das previsões e compreender suas repercussões a longo prazo. Por enquanto, a comunidade científica permanece atenta a novas avaliações e modelos que possam esclarecer ainda mais a evolução deste fenômeno.
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