O CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, informou nesta quarta-feira (20), por meio de suas redes sociais, que a rede varejista decidiu “não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul“. O bloco econômico inclui Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
O anúncio foi direcionado a Arnaud Rousseau, presidente do sindicato FNSEA (Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores), em uma carta publicada nos perfis do executivo no Instagram, X e LinkedIn. A medida acontece durante intensos protestos de agricultores franceses contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.
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Impactos e reações à decisão sobre carne do Mercosul
Na mensagem, Bompard não esclarece se a decisão vale para todas as unidades do Carrefour na Europa ou apenas na França. O Grupo Carrefour Brasil, por sua vez, afirmou ao g1 que a decisão em “nada muda nas operações no país“. A empresa continuará adquirindo carnes de frigoríficos brasileiros para abastecer suas lojas no Brasil.
O conglomerado não revelou o volume de carne comercializado com origem no Mercosul, nem detalhou o impacto econômico da medida.
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) rebateu as declarações de Bompard, enfatizando que a agropecuária brasileira segue rigorosos padrões internacionais e atende à legislação da União Europeia. A pasta destacou propostas feitas ao bloco europeu, como sistemas eletrônicos para rastrear a pecuária nacional em conformidade com o Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR).
Setor critica decisão
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) lamentou o posicionamento do CEO do Carrefour, classificando-o como contraditório, já que a empresa opera mais de 1.200 lojas no Brasil, abastecidas principalmente com carne nacional. A Abiec alertou ainda que a dependência de fornecedores locais na França pode comprometer o atendimento à demanda interna.
Dados da associação apontam que, em 2023, o Brasil respondeu por 27% das importações de carne bovina da União Europeia, enquanto o Mercosul foi responsável por 55%.
Já a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) afirmou que as declarações de Bompard são baseadas em argumentos equivocados e têm viés protecionista. Em nota, a entidade defendeu que as carnes do Mercosul seguem os critérios exigidos pelo mercado europeu.
Polêmica semelhante com a Danone
A decisão do Carrefour surge semanas após outra gigante francesa, a Danone, enfrentar críticas por declarações sobre o Brasil. Em 25 de outubro, o diretor-financeiro da empresa, Juergen Esser, afirmou à agência Reuters que a companhia havia deixado de comprar soja brasileira.
Posteriormente, a Danone Brasil e a presidente da Danone América Latina contestaram a fala, afirmando que a empresa continua adquirindo o produto no país.
O caso ocorreu às vésperas da implementação de uma nova lei da União Europeia, prevista para 2025, que proíbe a importação de mercadorias provenientes de áreas desmatadas.
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