9 mortos

Após desabamento, prefeitura de Itapecerica da Serra interdita empresa

Vinte e oito pessoas precisaram ser socorridas para hospitais da região e três ficaram feridas de forma leve.

Após desabamento, prefeitura de Itapecerica da Serra interdita empresa
Bombeiros examinam o local do acidente (Crédito: Reprodução/Twitter @BombeirosPMESP)

A prefeitura de Itapecerica da Serra informou que a empresa de contêineres Multiteiner foi interditada após o desabamento ocorrido na terça-feira (20) e que provocou a morte de nove pessoas.

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“A empresa já está interditada. Ela precisa estar interditada. Se houve um desabamento e ela continuar em funcionamento, ela estaria mais uma vez irregular. A fiscalização já foi lá e a interditou”, disse nesta quarta-feira Leonel Novais, secretário municipal de Planejamento e Meio Ambiente. Segundo ele, o prazo de interdição é indeterminado.

O acidente, ocorrido por volta das 8h55 de terça (20) em uma das sedes da empresa, na Estrada Ferreira Guedes, provocou a morte de nove pessoas. Mais 28 pessoas precisaram ser socorridas para hospitais da região e três ficaram feridas de forma leve.

“Lá era uma laje pré-montada e, detalhe, era um auditório de treinamento”, disse Novais. Segundo o secretário, a prefeitura ainda não tem conhecimento sobre quem organizou o evento, lotando uma área que era destinada a ser apenas um local de treinamento. “Foi uma grande irresponsabilidade de quem teve coragem de fazer esse evento. Uma coisa é você subir dez pessoas [na estrutura]. Outra coisa é subir 100 ou 200 pessoas de uma única vez. Temos que buscar responsabilizar quem pediu e quem organizou esse evento”, disse.

“Um detalhe importante é que, quem organizou o evento, quem planejou o evento, não teve a menor preocupação de se atentar com as questões de segurança do local porque colocou um número significativo de pessoas de uma única vez. Detalhe: para que um evento dessa magnitude pudesse acontecer em Itapecerica era preciso entrar com um requerimento de autorização para que pudéssemos vistoriar e dar a autorização da permissão do evento. Mas nada disso aconteceu: nem por parte da empresa nem por parte dos organizadores”, acrescentou o secretário.

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Durante entrevista coletiva, o diretor da Defesa Civil de Itapecerica da Serra, Josiel de Almeida, disse que, logo após a reunião no auditório, que ficava em uma espécie de mezanino, os funcionários foram se reunir em uma área destinada ao café, que ficava ali ao lado. E foi então que a estrutura desabou. “Com base em informações de quem estava dentro do prédio, após a reunião as pessoas se concentraram no local do café. E nessa concentração em excesso, o piso veio a ceder”, falou ele.

As causas do acidente ainda estão sendo apuradas. “Estamos com equipes da Defesa Civil no local. A empresa e os funcionários já foram orientados sobre a movimentação no local. Ainda está sendo feito o processo de vistoria”, falou Almeida.

Irregularidades

Em entrevista coletiva concedida na tarde de hoje, o secretário de Planejamento e Meio Ambiente informou que a empresa fez mudanças no projeto original que foi entregue para ser regularizado. Essas mudanças estavam então irregulares, ou seja, ainda não haviam sido regularizadas pelos órgãos públicos.

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Para poder funcionar, uma empresa precisa regularizar sua documentação junto aos órgãos públicos. Ela precisa, por exemplo, do Habite-se, um documento expedido pela prefeitura que comprova que a obra está regular, ou seja, que o imóvel foi reformado ou construído de acordo com as normas legais do município onde ela está inserida. Além disso, ela precisa ter o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (ACVB), um documento emitido pelo Corpo de Bombeiros e que certifica que, durante a vistoria, a edificação possuía as condições de segurança para funcionamento. E como a Multiteiner está localizada dentro de uma área de preservação ambiental, ela ainda precisava de uma aprovação da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).

No caso da Multiteiner, explicou o secretário, ela havia solicitado aprovação do projeto de construção em 2008 junto à Cetesb. “Mesmo a Cetesb tendo aprovado em 2008, o empresário executou a obra totalmente fora do padrão e dos parâmetros determinados pela Cetesb”, disse ele.

Além de mudanças no projeto que havia sido aprovado, a empresa também modificou a sua função.

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“Essa obra foi aprovada em 2008 por um outro proprietário, que não era esse. Ele aprovou um projeto na Cetesb, mas esse imóvel acabou sendo negociado com a atual Multiteiner. E a Multiteiner realizou mudanças [no imóvel] ao longo do tempo. O projeto que foi inicialmente aprovado pela outra empresa, inclusive era um projeto de galpões comerciais. E quando foi pedida a vistoria, foi visto que [a nova empresa] estava em desacordo. Na época da vistoria, em 2017, se não me falha a memória, ela não só estava em desacordo como também não tinha sido completamente executada”, explicou Marcelo Motta, arquiteto da prefeitura.

“Entre 2017 e 2019, notificamos várias vezes a empresa porque ela está em área de proteção de mananciais. Para o tamanho da empresa, havia necessidade de aprovação preliminar da Cetesb para que depois pudéssemos analisar as leis municipais. O que aconteceu foi que, como eles alteraram a destinação de galpão comercial para industrial, eles excederam nossa capacidade de licenciamento. E aí notificamos a empresa para que ela se dirigisse à Cetesb e corrigisse a aprovação anterior que eles tinham, de galpão comercial para industrial e adequassem o projeto porque você muda a categoria de licenciamento quando se passa de comercial para industrial. Você passa a ter necessidade de licenças de instalação, de funcionamento, etc”, falou o arquiteto. “E esse processo ainda não havia retornado [da Cetesb] para nós [da prefeitura]”.

Segundo o arquiteto, o auditório que desabou ontem, por exemplo, não fazia parte do projeto inicial. “Ele alterou não só o prédio como a finalidade do prédio, de comercial para industrial. O auditório onde ocorreu o sinistro era uma sala de treinamento. Não tínhamos essas informações. Se era uma sala de treinamento e você a utiliza como um auditório, dependendo da capacidade do número de pessoas, você pode provocar um sinistro”, falou o arquiteto.

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Procurada pela EBC, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) informou que é responsável por analisar as questões ambientais e os índices ocupacionais do imóvel, como área permeável e edificada, e que não avalia “questões estruturais e a utilização do espaço para eventos públicos ou privados”. Essas questões, disse a Cetesb, deveriam ter sido analisadas pela prefeitura. “A Cetesb não avalia lotação de auditório ou salas públicas ou privadas”, informou o órgão.

Segundo a Cetesb, houve necessidade de regularização do imóvel junto ao órgão porque ele está inserido em uma área de proteção e recuperação de mananciais. “E, portanto, o uso do solo no local está sujeito à obtenção do Alvará de Licença Metropolitana junto à Cetesb”, disse ela, em nota. A Multiteiner, informou a Cetesb, possuía essa aprovação para uso do local, mas atualmente estava em avaliação um outro pedido de licenciamento com vistas à regularização do empreendimento. Segundo a Cetesb, tratavam-se de pendências administrativas ambientais.

Por meio de nota publicada em suas redes sociais, a Multiteiner disse lamentar “profundamente o ocorrido” e que foi surpreendida “pelo rompimento da estrutura, cuja razão ainda é desconhecida”. Segundo a empresa, seus colaboradores estavam reunidos no auditório para iniciar mais um dia de trabalho. “Informamos que todas as medidas estão sendo adotadas para apurar e esclarecer todo o ocorrido. Contudo, neste momento, estamos priorizando o apoio e a assistência aos nossos colaboradores e seus familiares”, disse ela, em nota.

O acidente está sendo investigado pela Polícia Civil. O Ministério Público de São Paulo informou hoje que vai acompanhar as investigações.

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