A cidade de Caxias do Sul, um dos municípios afetados pelas fortes chuvas e inundações que acometem o Rio Grande do Sul, registrou dois tremores de terra na madrugada desta segunda-feira (13). Os moradores sentiram abalos de 2,3 graus às 2h58 e 3h03 em quatro bairros do município: Jardim América, Universitário, Madureira e Pio X.
Em nota, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente disse não haver riscos para a população. Mas será que o surgimento desses abalos pode estar de alguma maneira relacionado à água acumulada nas últimas semanas?
O professor Marcos Vasconcelos, do Centro de Pesquisa em Geofísica e Geologia da Universidade Federal da Bahia (CPGG-UFBA), em entrevista à BBC News, menciona que há casos documentados na literatura científica onde grandes volumes de água causaram tremores.
“Há um fenômeno conhecido como sismicidade induzida por reservatório”, diz o especialista. “Ele acontece quando um rio é represado e esse volume de água aumenta a pressão na porosidade das rochas. Essa pressão hidrostática pode causar fraturas e deslocamentos”, acrescenta.
Outro processo está relacionado com os chamados olhos d’água, que são tipos de nascentes onde os rios começam. Nestes locais, a água “brota” ou emerge de dentro das rochas para formar os rios.
Durante períodos de chuvas extremamente intensas, que depositam água na superfície, os olhos d’água podem parar de jorrar água para o ambiente externo. Isso leva ao acúmulo de água dentro das rochas, o que cria uma pressão subjacente aos sismos.
Influência das fortes chuvas nos tremores
O geofísico da UFBA afirma que, de acordo com eventos similares observados em países como Alemanha, Suíça e França, os tremores ligados à pressão das águas geralmente são de menor magnitude.
“Vale dizer que ainda não sabemos se é isso o que está acontecendo em Caxias do Sul. Por enquanto, essas são apenas possibilidades teóricas, que sabemos serem possíveis em cenários parecidos”, reflete Vasconcelos.
Para determinar se os tremores estão relacionados à sismicidade induzida por reservatório ou ao bloqueio de olhos d’água, os cientistas precisam localizar o epicentro dos tremores e a profundidade em que ocorreram.
Com esses dados, eles poderão esclarecer as causas exatas do fenômeno, e se ele está associado (ou não) às chuvas. Em um comunicado nas redes sociais, a Rede Sismográfica Brasileira (RSB) afirmou que a chance de os tremores estarem relacionados às chuvas é pequena.
“Em geral, seriam necessários alguns meses depois das chuvas para tremores desse tipo ocorrerem, mas não se pode descartar essa possibilidade. De qualquer forma, são necessários estudos aprofundados para afirmar com precisão as causas desses sismos”, declarou Bruno Collaço, do Centro de Sismologia da USP, na mesma publicação.
A RSB também relembrou que “a região do Rio Grande do Sul já possui um histórico de ocorrência de tremores de terra de magnitudes entre 2.0 e 3.0”. “Nos últimos dez anos, a região da Serra Gaúcha registrou 27 sismos. Portanto, é mais provável que esses sismos tenham causas naturais”, conclui o texto.
A Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), por meio do Observatório Sismológico da UnB e do Centro de Sismologia da USP, registrou uma série de pequenos tremores de terra no Rio Grande do Sul na madrugada desta segunda-feira, dia 13 de maio.
++ pic.twitter.com/g7Q51pkMlt— Rede Sismográfica Brasileira (@RSBR_Oficial) May 13, 2024
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini