A escritora Conceição Evaristo doou, na quarta-feira (13), seu acervo completo ao Arquivo-Museu de Literatura Brasileira (AMLB), parte da Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Fundado em 1972 por iniciativa do poeta Carlos Drummond de Andrade, o AMLB reúne obras, cartas e manuscritos de grandes nomes da literatura brasileira, preservando a memória de importantes figuras culturais do país.
“Estou orgulhosa de ser a primeira escritora negra a ter um acervo na Casa, mas espero que não seja a única. Esse processo pode e deve se aprofundar. Então, na verdade, ser a primeira só tem um significado, que é o de abrir espaços para que outros venham; é perspectiva. Que esse meu momento de acolhimento pela Casa realmente possa ser um momento de acolhimento para outras escritoras, para outros, para outras artistas”, disse a escritora, cuja obra é conhecida por sua força literária e por abordar questões sociais e raciais no Brasil.
Arquivo reúne grandes nomes da cultura nacional
O AMLB, localizado na Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), possui atualmente mais de 150 arquivos pessoais de escritores brasileiros, abarcando diversos períodos e movimentos literários. No acervo, encontram-se nomes como Cruz e Sousa, Manuel Bandeira, Clarice Lispector, Maria Clara Machado, Vinicius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade. Além dos documentos textuais, o arquivo preserva um vasto acervo de cerca de 2 mil itens museológicos, disponíveis para consulta presencial, mediante agendamento.
Conceição Evaristo ressaltou a importância de ampliar o espaço na literatura brasileira para a diversidade cultural e social. “Que isso possa inclusive ser exemplo para outras instituições também”, afirmou, destacando a relevância de que as vozes de autores de origens diversas sejam incorporadas ao acervo da fundação.
Medalha Rui Barbosa reconhece personalidades da cultura
A cerimônia de doação aconteceu durante as celebrações do Dia Nacional da Cultura, comemorado em 5 de novembro, e também premiou personalidades com a Medalha Rui Barbosa, uma homenagem concedida pela fundação desde 1949 para reconhecer contribuições relevantes à cultura brasileira. Neste ano, foram premiados o líder indígena e ambientalista Ailton Krenak, a roteirista Antonia Pellegrino, o jornalista Ancelmo Gois, o advogado e cenógrafo Gringo Cardia, a historiadora Hildegard Angel, o historiador Luiz Antonio Simas, o curador de arte Paulo Knauss, o senador e historiador Randolfe Rodrigues (PT-AP), o advogado e historiador Cesário Mello Franco, a professora de direito Carol Proner, o antropólogo Adair Rocha e a curadora de arte Isabel Portella.
O historiador Luiz Antonio Simas celebrou a homenagem, destacando sua dedicação à “cultura de rua” e às manifestações populares brasileiras. “Escrevo sobre cultura de rua e festas populares. Então, esse reconhecimento, de uma instituição da importância da Casa Rui, por um trabalho fundamentado nas ruas, nos saberes que a rua proporciona, me alegra. Receber hoje essa medalha, essa comenda, me alegra profundamente, sobretudo por conta da valorização da cultura de rua, que é o meu trabalho. Trazer a rua para instituição pública é sempre bom. Vamos trazer aí o axé”, declarou.
Antonia Pellegrino expressou gratidão pela medalha e refletiu sobre a importância da cultura em sua vida. “A cultura cuidou de mim quando eu precisei muito, eu era uma garota, uma criança muito sozinha, muito tímida, e a minha companhia era a cultura. Eu acho que a medalha me diz que eu estou cuidando de quem cuidou de mim”, disse a roteirista. Ela ainda mencionou o simbolismo da premiação acontecer na Casa de Rui Barbosa, onde está guardado o acervo de seu avô, o poeta e psicanalista Hélio Pellegrino.
Além dessas figuras de destaque, a Fundação Casa de Rui Barbosa também homenageou oito de seus funcionários com a Medalha Rui Barbosa em reconhecimento às suas contribuições: André Luiz de Lima Farias, Guilherme Esteves Lopes Trotta, Rafael de Oliveira Amaro, Bianca Panisset, Monica Cunha, Alan Silva Henrique, Christian Lynch e Claudio Marcio.
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