A Netflix tem investido em conteúdo local nos países onde atua e, por isso, está disposta a trabalhar até com seus principais concorrentes da mídia tradicional, como a Globo no Brasil. Foi isso que disse Francisco Ramos, vice-presidente de conteúdo do canal de streaming na América Latina.
Em entrevista à Folha de São Paulo, Ramos afirmou que vai “chegar lá em algum momento“, quando questionado sobre o trabalho conjunto. Além disso, ele também disse que as duas empresas têm um relacionamento amigável e conversam sobre o assunto. “A TV linear é muito importante. A Globo especialmente, por causa da presença dominante dela no mercado. É quase um monopólio“, disse.
A busca de sucessos domésticos é a principal estratégia da Netflix fora dos Estados Unidos. E a plataforma vem investindo economicamente no plano, já que para 2023 e 2024 a empresa desembolsou o maior valor já visto no Brasil: R$ 1 bilhão.
A Globo, por sua vez, disse para a Folha que tem orgulho de ser escolhida por milhões de brasileiros e que “sempre teve concorrência de players brasileiros e internacionais“. Além disso, a empresa afirmou que as parcerias tendem a se ampliar no cenário atual e que as companhias podem e devem “se complementar”. A Globo tem acordo com empresas como a Amazon, o Google, a Disney, o TikTok e outras.
A estratégia da Netflix
A estratégia principal da Netflix é o investimento local. Séries como Round 6 foram criadas para fazer sucesso em seu país e, se explodirem mundialmente, é apenas um lucro.
Pensando nisso, a plataforma tem focado em produções que representam algum símbolo cultural da América Latina. Ainda este ano, há prévia de lançamento para a série Cem Anos de Solidão, adaptação do livro de mesmo nome, escrito pelo colombiano Gabriel García Márquez. No México, a aposta é no filme Pedro Páramo, que adaptará o romance de mesmo nome, de Juan Rulfo. Já na Argentina, o foco é a produção de O Eternauta, que adaptará os clássicos quadrinhos.
No Brasil, a maior aposta atual é na série Senna, que contará a história de Ayrton Senna, craque da Fórmula 1. A produção é a mais cara realizada no Brasil até o momento, tendo custado R$250 milhões e envolvido gravações em quatro países diferentes. Veja trailer:
Ramos afirmou que esta forma de agir da Netflix é uma forma de corrigir as decisões tomadas no começo da operação da empresa na América Latina. Naquele período, os executivos estadunidenses decidiam aquilo que seria produzido em todos os países, o que nem sempre gerava produções satisfatórias ao público local.
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini