Coalizão que governa Alemanha começa a gerar sinais em assuntos internacionais

Por Patricio Carmody – Analista Internacional. Membro CARI

Coalizão que governa Alemanha começa a gerar sinais em assuntos internacionais
Chanceler Olaf Scholz, um social-democrata, com seus aliados, incluindo Annalena Baerbock (Crédito: Michele Tantussi/Getty Images)

A Ampel-Koalition – coalizão semáforo– que governa a Alemanha começa a gerar sinais em assuntos internacionais. Assim, essa coalizão liderada pelo chanceler socialista Olaf Scholz, e identificada pelas cores de seus três partidos membros – colorado (partido socialista: SPD), amarelo (partido liberal: FDP) e verde (Partido Verde)– começa a dar sinais concretos de sua política externa, algo que a Argentina deve levar em conta.

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É esperado algum grau de continuidade com as posições de Angela Merkel, uma vez que três líderes socialistas foram ministros das Relações Exteriores durante seu mandato: Frank-Walter Steinmeier (2005-2008/2013-2017), Sigmar Gabriel (2013-2017) e Heiko Maas (2018-2021). Mas o foco está em novos sinais, nuances e diferenças que possam surgir, além de como as ameaças imediatas serão abordadas.

Um sinal importante será a atualização do papel da Alemanha na Europa. Por um lado, a Ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, já manifestou a sua intenção de integrar a Sérvia e Montenegro na União Europeia (UE). O objetivo de longo prazo também é integrar a Bósnia-Herzegovina, Macedônia do Norte, Kosovo e Albânia, um objetivo declarado do Partido Verde ao qual a Baerbock pertence.

Por outro lado, será necessário conviver com a liderança do presidente francês, Emmanuel Macron, na UE, que de presidente “júnior” do eixo Paris-Berlim, agora é o mais experiente. Ao mesmo tempo, é preciso enfrentar uma nova versão do desafio histórico de lidar com a Rússia, que se sente ameaçada pelo avanço gradual da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em direção às suas fronteiras. Segundo alguns observadores, como o historiador Niall Ferguson, a Rússia pretende – embora agora prometa o contrário – invadir o leste da Ucrânia, que considera historicamente russo. Putin também não quer que a Ucrânia se junte à OTAN. Diante do dilema russo, enquanto Baerbock finge ter uma política externa “baseada em valores” – direitos humanos, liberdades individuais, democracia – o chanceler Scholz assume uma posição mais pragmática, afirmando que uma nova Ostpolitik ou política deve ser implementada em direção ao , como a do chanceler socialista Willy Brandt (1969-1974), de aproximação e entendimento com a Rússia.

Um segundo sinal será a posição da Alemanha no confronto econômico, político e econômico entre os Estados Unidos e a China. Isso significa estabelecer novos equilíbrios entre as duas estratégias características da política externa alemã do pós-guerra: uma transatlântica e outra eurasiana. Este último, além da Rússia, agora inclui a China.

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Dando um sinal claro, a ministra Baerbock, que como candidata a chanceler do Partido Verde expressou a necessidade de criar uma “nova agenda transatlântica”, já visitou seu colega norte-americano Anthony Blinken em Washington. Essa agenda deve dar importância aos “valores comuns” –direitos humanos, liberdades individuais, democracia–, além de ambas as nações se tornarem emissoras neutras de gases causadores da mudança climática.

Baerbock, que tem sido chamado de “o candidato transatlântico”, é mais crítico do governo chinês do que o mais pragmático Scholz. E que a chanceler cessante Angela Merkel, acusada de ter priorizado o comércio com a China sobre os valores mencionados. Durante sua visita a Blinken, foi mencionado o caso da Lituânia, que está sendo pressionada pela China para estreitar as relações com Taiwan, o que ambos os países consideram errado. Baerbock também enfatizou que, no espírito desta nova agenda transatlântica, as decisões sobre a Europa – referentes à já mencionada ameaça russa à Ucrânia – não podem ser tomadas sem a presença da Europa.

Um terceiro sinal será como a ministra do Verde Baerbock promove e defende a política energética alemã, com seu correspondente impacto no meio ambiente, internacionalmente, o que ela já fez com Blinken. A Alemanha fez um esforço impressionante para garantir que 45% da energia que usa hoje venha de fontes renováveis ​​– eólica e solar. Assim, promove a capacidade e o “know-how” das suas empresas na área das energias renováveis. Por sua vez, a Alemanha continua a implementar uma transição notável, renunciando à energia atômica –hoje 11% do consumo total de energia–, processo que deve ser concluído em 2022. No entanto, deve enfrentar a França, que em uma nova taxonomia de energias verdes da UE quer classificar a energia atômica como uma fonte amigável (eco-friendly) com o meio ambiente.

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À medida que essas transições se materializam, a Alemanha continua usando gás (16%) da Rússia e carvão (24%) – que planeja usar até 2038 – com algumas importações da Polônia. O chanceler Scholz procura evitar que o gás da Rússia (através do gasoduto Nordstream 1 direto e do gasoduto Nordstream 2 concluído, mas não operacional) seja afetado pelo conflito russo/ucraniano, chamando essa conexão de gás o resultado de um acordo “entre privados. Ironicamente, a candidata Baerbock se opôs a esses oleodutos como candidata do Partido Verde, mas agora ela deve adotar a posição pró-Nordstream acordada pela coalizão.

Diante desses desafios, é importante que a Argentina entenda as atuais prioridades da política externa da Alemanha, para poder interagir de forma mais produtiva com esse parceiro histórico econômico, político e comercial.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Perfil Brasil.

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*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.

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