Entrevista exclusiva

Papa Francisco fala sobre o crescimento das igrejas evangélicas no Brasil

“Existem movimentos religiosos que não são religiosos, são políticos”, afirmou o Papa.

Papa Francisco fala sobre o crescimento das igrejas evangélicas no Brasil
Papa Francisco e Jorge Fontevecchia (Crédito: Imprensa do Vaticano)

No marco dos dez anos de seu pontificado, Papa Francisco conversou com Jorge Fontevecchia para o programa “Periodismo Puro”, em uma entrevista de duas horas e meia. O primeiro Papa argentino abordou diversos temas.  Desde questões da filosofia religiosa, da Bíblia e dos filósofos contemporâneos, passando pela guerra na Ucrânia, a política argentina e os altos e baixos de sua relação com Hebe de Bonafini e Cristina Kirchner. O Papa enfatizou ainda seu posicionamento sobre o aborto, o casamento igualitário e até sua atuação no caso  de Francz Jalics e Orlando Yorio na ditadura militar, sem deixar uma questão a ser considerada ou respondida.

Publicidade

Extraímos um trecho onde ele fala sobre política e religião no Brasil.

A que você atribui o crescimento das igrejas evangélicas no mundo? Isso indica de alguma forma uma falta de representação da Igreja Católica em alguns setores?

Uma piada. Tive duas reuniões aqui, quando o presidente Lula estava preso, com o pessoal dele, um grupo que trabalhava para a libertação dele. O chefe era o Celso Amorim e numa dessas reuniões veio uma teóloga brasileira, uma senhora de 45 anos, protestante, luterana, e no final falamos um pouco. Eu disse a ela: “Diga-me, como você lida com a questão dos deputados da Igreja do Reino de Deus?” E ela respondeu: ”Aquela Igreja do Reino de Deus não é evangélica, é demoníaca, porque é política. Eles usam o povo, tudo é pago lá, todo mundo é forte e de alguma forma eles buscam o poder.”

Aquela mulher distinguiu para mim o que é uma religiosidade verdadeiramente religiosa e o que é uma religiosidade política, que também conhecemos desvios deste tipo na Igreja Católica. Acho que, em grande parte, essa divisão no Brasil tem que ser feita para se ter uma boa noção do que é político e do que é religioso. Existem movimentos religiosos que não são religiosos; são políticos. E há movimentos religiosos que são religiosos e não é fácil discernir. Mas [essa divisão] deve ser feita hoje em dia com o que você chamou de seitas evangélicas, movimentos evangélicos, em que alguns são religiosos e outros não são.

Publicidade

A decisão de não visitar a Argentina por enquanto

O Papa Francisco também se referiu à decisão de não ter visitado a Argentina ainda. Ele explicou que poderia ter vindo em 2017, mas coincidiu com a campanha eleitoral no Chile e teve que adiá-la. “O plano era Chile, Argentina e Uruguai, mas o que aconteceu? (Michelle) Bachelet no mês que eu ia embora, que era final de novembro e algo no começo de dezembro, estava em campanha eleitoral para escolher a sucessora porque ela já estava saindo [da Presidência], então ela não poderia ir. Não posso visitar um país durante uma campanha eleitoral, me dói. Tive que deixar para depois a visita ao Chile e para ir a Buenos Aires teria que ir no final de dezembro ou início de janeiro, onde não dá nem para achar ninguém em Buenos Aires definido.”

Sobre a situação mundial, explicou que entende que a Terceira Guerra Mundial está sendo vivida “aos pedaços”. “Há anos venho dizendo que estamos vivenciando a terceira guerra mundial aos poucos. A Síria está em guerra há 13 anos. O Iêmen está em guerra há 10 anos ou mais (…) A luta nunca parou desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a luta não parou”.

Ele também se manifestou contra a ideologia de gênero. “Aqui entra em jogo algo muito perigoso, que é a ideologia de gênero. É, de todas as colonizações ideológicas que estão acontecendo hoje, na minha opinião, a pior, porque despotencializa as diferenças e te leva a não haver diferenças quando o mais rico é o contraste das diferenças que te faz progredir. A ideologia de gênero é desastrosa. Não são as pessoas, que de alguma, forma estão dentro de outra coisa, mas a ideologia que simplifica, unifica, remove as diferenças” .

Publicidade

Francisco também falou sobre sua família antiperonista e a política argentina, incluindo sua relação com a vice-presidente Cristina Fernández Kirchner. O Papa Francisco mergulhou em conceitos teológicos e filosóficos, como sua interpretação do inferno e do céu, bem como em tópicos científicos, incluindo o Big Bang e outros.

Assista à entrevista completa neste sábado (11), às 21h, no Perfil.com e no domingo (12), no Diário Perfil.

*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.

Publicidade

Assine nossa newsletter

Cadastre-se para receber grátis o Menu Executivo Perfil Brasil, com todo conteúdo, análises e a cobertura mais completa.

Grátis em sua caixa de entrada. Pode cancelar quando quiser.