Três maneiras de usar a Educação Midiática para combater fake news

Escola tem papel fundamental na formação de cidadãos mais críticos e informados, dizem especialistas

Três maneiras de usar a Educação Midiática para combater fake news
Três maneiras de usar a Educação Midiática para combater fake news (Crédito: Pixabay)

Informações chegam por todos os lados, na tela do celular, no computador, pela televisão, podcasts, aplicativos de mensagem… Estar conectado 24 horas por dia faz com que nem mesmo as crianças e jovens estejam livres da disseminação desenfreada de notícias falsas. Embora as fake news não sejam uma novidade do século XXI, hoje elas se espalham com muito mais velocidade e com um alcance inédito.

Publicidade

Como a escola pode contribuir para que os estudantes desenvolvam seu senso crítico e, assim, não sejam vítimas de informações mentirosas e manipuladoras? De acordo com especialistas no tema, isso é possível com o desenvolvimento de uma análise crítica, que as pessoas só têm condições de exercitar a partir do domínio de competências e habilidades de leitura e escrita que estão no cerne da formação de leitores críticos e, portanto, mais preparados para identificar as armadilhas das fake news. Prevista na nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular), a Educação Midiática é a abordagem que permite a construção dessa aprendizagem sobre o que é e como se produz a informação, com o objetivo de combater a desinformação.

Para a consultora pedagógica do Sistema de Ensino Aprende Brasil, Yasmim Forte, um dos principais objetivos da escola atualmente deve ser oferecer uma preparação que permita ao aluno analisar situações complexas, desenvolver a capacidade de olhar uma informação e fazer uma interpretação coerente. É preciso que ele enxergue o que está por trás da notícia, o que ela reflete, qual a influência do contexto, da cultura local e a quem ela interessa. “A BNCC coloca a cultura digital como uma competência geral. Um dos desafios da Educação como um todo é garantir que o aluno adquira a capacidade de ter diferentes olhares sobre um mesmo assunto e, para isso, precisamos envolver todas as áreas do conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas e Sociais. A Educação Midiática é um caminho tão importante para a escola percorrer com os alunos porque ela faz parte da vida do aluno o tempo todo”, destaca Yasmim.

E, para que a Educação consiga formar cidadãos com independência e senso crítico para decidir sobre o consumo de qualquer tipo de informação, Yasmim defende que aprender a fazer essa curadoria deve ser uma prática já na infância. “O ideal é trabalhar essa abordagem em todos os níveis do ensino, promovendo uma construção – permeada tanto pela análise dos meios de comunicação, das diferentes mídias, como também por um aprendizado mediado pela tecnologia”, afirma. Educadores indicam algumas iniciativas simples de Educação Midiática para serem trabalhadas em sala de aula ou mesmo em casa…

Como é feito um jornal?

Conhecer o trabalho da imprensa profissional é fundamental para que qualquer pessoa entenda melhor os processos de checagem e apuração dos fatos. Até mesmo as crianças mais novas podem participar de projetos de jornais laboratórios. A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, por exemplo, mantém, há vários anos, o programa Imprensa Jovem, que permite que crianças e adolescentes produzam suas próprias notícias e, assim, possam se tornar agentes ativos da construção de informações.

Publicidade

Daniela Machado, jornalista e coordenadora do Educamídia – programa de Educação Midiática do Instituto Palavra Aberta -, explica que “a escola tem muito a ajudar para reconstruir a ponte entre a sociedade e a imprensa, que está tão desgastada. É preciso colocar esses jovens não apenas no papel de consumidores, mas também de produtores de informação. É importante mesclar atividades em que eles analisam criticamente, mas também em que se colocam no papel de produtores”.

2. Verdadeiro ou falso?

Muito utilizada em avaliações, a brincadeira de classificar informações entre as categorias “verdadeiro” ou “falso” é uma ferramenta importante para treinar leitores mais atentos. Trata-se de um exercício simples, que apresenta uma série de notícias às crianças e pede que elas apontem quais consideram reais e quais consideram enganosas. Durante a atividade, é possível mostrar e fazer com que elas reflitam sobre características típicas das fake news e aprendam a identificar peças potencialmente mentirosas.

Em um mundo cada vez mais conectado, impedir que os estudantes tenham contato com informações falsas é impossível, mas eles saberão melhor como procurar boas fontes de informação se forem acostumados a isso. Para Alexandre Le Voci Sayad, diretor da Zeitgeist, co-chairman do think tank GAPMIL, da UNESCO, e apresentador do programa Idade Mídia, do Canal Futura, “a ideia é qualificar o acesso à informação, que significa encontrar o que está baseado em evidências, saber diferenciar opinião pessoal de fatos, distinguir ironia e humor de uma afirmação de fato, entre outros”. Ele ressalta que isso passa por desenvolver habilidades como curadoria, busca e seleção de fontes, e também pela prática de pesquisa. Ele lembra que “nada disso passa pela censura ou proibição, isso está fora de jogo. Esse exercício passa, sim, pela Educação, pela qualificação e pela autorregulação”, enumera

Publicidade

3. Eu só acredito vendo

A leitura de imagens também é muito importante no cotidiano do mundo contemporâneo. Muitas vezes, uma imagem pode trazer uma informação falsa, fora de contexto ou até mesmo antiga. Analisar criticamente imagens e incentivar a leitura crítica é um exercício que pode ser feito com crianças de todas as idades, até mesmo na Educação Infantil. Uma das maneiras de fazer isso é mostrando às crianças diferentes imagens e pedindo que elas discorram sobre o que estão vendo.

Em um segundo momento, as crianças são apresentadas ao contexto em que cada imagem foi feita, à história completa da imagem. A seguir, elas podem voltar a compartilhar suas percepções sobre as fotografias e, com a ajuda do professor, refletir sobre as mudanças de opinião entre a primeira e a segunda rodadas de análise. “As pessoas precisam estar preparadas para fazer essa curadoria. Cabe a nós sermos os curadores da nossa experiência nesse universo da informação, que é muito poderoso, mas exige esse preparo”, destaca Daniela. Quanto antes as crianças começarem a ser preparadas para integrar esse mundo repleto de informações, melhor será sua vivência nele.

Publicidade

Assine nossa newsletter

Cadastre-se para receber grátis o Menu Executivo Perfil Brasil, com todo conteúdo, análises e a cobertura mais completa.

Grátis em sua caixa de entrada. Pode cancelar quando quiser.