entre a governabilidade e o impeachment

Os desafios de Lula para “Fazer o Brasil feliz”

*Por Cecilia Degl’Innocenti – Cientista política. Licenciatura em Relações Internacionais. Jornalista.

Os desafios de Lula para Fazer o Brasil feliz
Presidente Lula e esposa Janja (Crédito: Andressa Anholete/Getty Images)

Luiz Inácio Lula da Silva já é o novo presidente do Brasil. Longe vão as análises de campanha e as tentativas de golpe dos torcedores de Jair Bolsonaro, órfãos de seu líder que se refugiou primeiro no Alvorada após perder as eleições de outubro e depois em Miami para evitar a foto da transferência da faixa presidencial.

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O líder do Partido dos Trabalhadores (PT) já deu partida nos motores para enfrentar seu terceiro mandato diante do Palácio do Planalto, oficializado no último domingo, 1º de janeiro. Demonstrou isso ao investir imediatamente em seu gabinete de dimensões gigantescas e ao emitir suas primeiras medidas, como o aumento do subsídio do Auxílio Brasil, um dos eixos de sua campanha.

Faça o Brasil feliz de novo. O slogan da campanha Lula-Alckmin teve como eixo as conquistas de seu governo, conhecido como o milagre econômico brasileiro (2003 – 2010). No entanto, cumprir essa promessa será um grande desafio para o período 2023-2027, em que enfrenta uma situação bem diferente do boom de commodities do início do século.

À conjuntura internacional adversa, marcada por um crescimento pessimista e pelas previsões de inflação para 2023, soma-se a frente interna, marcada por uma polarização sem precedentes desde o retorno da democracia em 1985, enquadrada por um governo minoritário que será obrigado a forjar alianças para garantir a governabilidade e escapar da possibilidade de impeachment no curto prazo.

Mapa politico do brasil

Lula terá que governar um Brasil dividido em dois em que 58 milhões de brasileiros não votaram nele. Embora o Executivo nacional tenha vencido, está longe de ter saído vitorioso nas eleições. “O grande desafio do Lula hoje é conseguir governar os dois primeiros anos. Porque ele saiu de uma eleição muito acirrada, com uma diferença muito pequena, coisa que nunca acontecia desde a volta da democracia”, explicou Gustavo Perego, analista político brasileiro e diretor da ABECEB, para a Perfil Argentina.

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De acordo com o mapa político produzido pelas eleições gerais, os partidos conservadores, considerados “de direita” e aliados do Partido Liberal (PL) de Jair Bolsonaro, multiplicaram sua presença no Congresso Nacional, onde têm maioria. Também o fizeram nas legislaturas estaduais e municipais. Além disso, conquistaram o governo de importantes estados, incluindo o cinturão industrial formado por São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

O PT, por sua vez, conquistou 68 cadeiras em deputados e 9 senadores, ante 99 e 14 respectivamente conquistadas pelo PL, que teve de longe um desempenho melhor em relação às eleições de 2018.

A blindagem de Lula: entre a governabilidade e o impeachment

Por isso, Lula será obrigado a fazer alianças e concessões a seus aliados para garantir um plenário de pelo menos 180-200 deputados a seu lado. A razão é de mão dupla: primeiro, conseguir aprovar o orçamento ou as despesas extraordinárias e assim garantir a governabilidade; segundo, para evitar a possibilidade de impeachment no curto prazo, prática comum na política brasileira que custou aos ex-presidentes Fernando Collor de Melo (1992) e à delfina política de Lula, Dilma Rousseff (2016).

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Lula e o desafio de “reconstruir a unidade brasileira” nas frentes interna e externa

“No curto prazo, a possibilidade de impeachment é nula. Mas a realidade é que o governo enfrenta uma polarização nunca vista antes, com grandes dificuldades em mostrar resultados no curto prazo. Não seria de estranhar se movimentos dessas características ocorressem daqui a dois anos. Por isso Lula busca blindar seu governo”, analisou Perego.

Em busca dessa tarefa, Lula anunciou a criação de novos ministérios, chegando ao número de 37, muito superior ao de seu antecessor, que foram distribuídos entre outros partidos minoritários que fazem parte de sua base política. A isso se somam outras concessões, como a presidência dos Deputados (fundamental no caso de um processo de impeachment), ou o Senado. “Lula está abrindo mão de muitas de suas bandeiras para alcançar a governabilidade. Ele tem a característica de não ser uma pessoa ideológica, mas prática, capaz de abrir mão de tudo o que for necessário para sustentar seu governo”, acrescentou o consultor.

Outro dos eixos da governança está previsto para ser assegurado por Geraldo Alckmin, parceiro político do PT e atual vice-presidente eleito do histórico Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

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Crescimento econômico e outros desafios para Lula

Depois de vencer as eleições, o Brasil enfrentou a transição de governo pelas mãos do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, que denunciou que, durante os quatro anos de governo de Bolsonaro, o Brasil “sofreu reveses em todas as áreas”. Especialmente em questões sociais, com 125 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar e 33 milhões passando fome; e ambiental, depois que as políticas de desregulamentação do ex-presidente devastaram a Amazônia e isolaram o Brasil da comunidade internacional.

Nesse sentido, o ex-governador de São Paulo reconheceu que será uma “tarefa hercúlea” ​​reerguer a situação, algo que o próprio Lula definiu como “a tempestade do fascismo”. Somam-se a isso as previsões desanimadoras para a economia global e seu impacto na reintegração do Brasil ao mundo, uma das promessas de Lula em seu discurso de posse.

“Com seu discurso de ‘volta à alegria’, Lula se vê diante do dilema de uma economia que no ano que vem não poderá apresentar grandes conquistas. Por outro lado, encontra um estado com um equilíbrio fiscal tênue. quebrar o teto de gastos e enfrentar uma economia global que ano que vem terá crescimento zero. Terá que ‘fazer felicidade’ sem dinheiro e isso é um grande ponto de interrogação”, encerrou Perego.

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*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Perfil Brasil.

*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.

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