Ronnie Lessa, um dos acusados de assassinar a vereadora Marielle Franco, revelou, em sua delação premiada, que um miliciano da organização de Rio das Pedras, do RJ, se infiltrou no PSOL para monitorar os passos da ativista. Segundo o depoimento, a decisão veio dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, presos no último domingo acusados como mandantes do assassinato.
A delação apontou que o miliciano Laerte Silva e sua mulher, Erileide Barbosa da Rocha, filiaram-se ao partido exclusivamente para reportar informações que ajudariam no planejamento do crime.
As rusgas entre o deputado Chiquinho Brazão e Marielle tomaram uma nova proporção quando ela se opôs a um projeto de flexibilização de regras de regularização fundiária na Zona Oeste da capital fluminense. Segundo o assessor da deputada à Polícia, Brazão mostrou uma irritação fora do normal.
Laerte, miliciano
Ele já foi preso em outras instâncias da investigação do assassinato da deputada. Em 2019, a Operação Intocáveis conseguiu detê-lo, porém, um ano depois, adquiriu liberdade condicional.
Em 2023, ele foi preso novamente. Desta vez, em uma ação do Ministério Público que investigava as ações milicianas em Rio das Pedras. Laerte foi apontado como um dos responsáveis pelo recolhimento da taxa de manutenção do grupo, paga por comerciantes e moradores do local. Além disso, as investigações o acusaram de agiotagem.
A esposa do miliciano, Erileide, também já foi presa por formação de quadrilha e, de acordo com a PF, “ajudava Laerte a tocar os negócios do grupo paramilitar, atuando na área de contabilidade.”
Filiação ao PSOL
O casal entrou no PSOL pouco depois das eleições municipais de 2016. Com o intuito inicial de monitorar Marielle, eles também queriam registrar qualquer oposição que os membros do partido apresentassem a decisões que beneficiavam sua organização criminosa.
Segudo Lessa, o fato que mais irritou os irmãos Brazão e instigou o assassinato foi quando eles souberam que Marielle pronunciou-se à população e pediu para que não aderisse a loteamentos em territórios controlados pela milícia.
Entretanto, o delator também revelou que os infiltrados, às vezes, exageravam em seus relatos de espionagem, levando os Brazão a interpretarem errado as decisões da vereadora. “Nesse momento, ponderou-se a possibilidade de que este poderia ter sobrevalorizado ou, até mesmo, inventado informações para prestar contas de sua atuação como infiltrado”, disse a PF.
Laerte e Erileide foram expulsos do partido quando a notícia de seu envolvimento com a milícia veio à tona, em 2020.
Ronnie Lessa efetuou os disparos, Domingos Brazão deu a ordem e fez o pagamento, mas quem realmente matou Marielle Franco foi o infiltrado Laerte, ao superestimar a oposição da vereadora à atuação de milícias na Zona Oeste só pra ter o que dizer ao patrão. pic.twitter.com/BtaVGAkT55
— Diogo Cadarn (@DiogoCadarn) March 26, 2024