O Brasil é um dos líderes mundiais em transplante de órgãos, mas ainda enfrenta desafios significativos. Um dos principais obstáculos é a alta taxa de recusa familiar para doação. Nesse cenário, a cada ano, cerca de 3.000 brasileiros morrem enquanto esperam por um transplante.
No primeiro semestre de 2024, foram registradas 1.793 mortes, incluindo 46 crianças. O caso de Maycon de Almeida Moreno, de 35 anos, que recebeu um coração depois de um ano e meio de espera, ilustra a importância do ato. “A doação de órgãos mudou minha vida”, declara Maycon à Folha de São Paulo.
Entre janeiro e junho de 2024, foram realizados 4.579 transplantes de órgãos, 8.260 de córnea e 1.613 de medula óssea no país. No entanto, a lista de espera do Sistema Nacional de Transplantes ainda contava com 64.265 adultos e 1.284 crianças aguardando por um órgão.
Obstáculos e fatores que influenciam na recusa da doação
A principal barreira à doação de órgãos no Brasil é a recusa familiar. Atualmente, a média nacional de recusa é de 45%, com variações regionais significativas. No Paraná, por exemplo, a taxa de recusa é de 25%, enquanto no Acre chega a 77%. A falta de informação e a desconfiança em relação ao sistema são fatores que contribuem para essa situação.
De acordo com o médico Valter Garcia, da ABTO, à Folha de São Paulo, vários fatores influenciam a decisão de Família durante o processo de doação. Dentre eles está o que ele chamou de percepção prévia. Se a família tem uma visão negativa da doação, é improvável que mude de opinião durante um momento de luto intenso.
Além disso, a questão do atendimento hospitalar, uma vez que o tratamento recebido no hospital pode afetar a decisão. Um atendimento inadequado pode aumentar a desconfiança dos familiares. Por fim, há também a circunstância do acolhimento. A forma como a notícia da morte é comunicada e a abordagem da equipe médica são cruciais. Um atendimento humanizado pode fazer toda a diferença.
Formas de melhoria e desafios
Santa Catarina é um exemplo positivo, com programas de treinamento contínuo para equipes de transplante. Outra iniciativa recente é a Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (Aedo), que facilita o processo de registro de doadores. Em três meses, mais de 7.000 pessoas se inscreveram, embora 55% ainda não tenham concluído o processo.
Um dos desafios na doação de órgãos é a subnotificação de morte encefálica. Para atestar a morte encefálica, são necessários dois especialistas e exames específicos, como o doppler. A falta de estrutura em alguns hospitais impede a confirmação da morte, resultando em menos doações.