ENTENDA

Revista científica invalida estudo que fundamentou uso de cloroquina contra Covid-19

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Medicamento – Créditos: depositphotos.com / rafapress

A hidroxicloroquina e a cloroquina são medicamentos tradicionalmente usados para tratar a malária. Durante o início da pandemia de Covid-19, essas drogas ganharam destaque devido ao seu potencial no combate ao vírus. A polêmica em torno dessas substâncias começou em fevereiro de 2020. Didier Raoult, um médico francês de renome na época, promoveu a hidroxicloroquina como tratamento eficaz contra a Covid-19, apoiando suas afirmações em estudos que, mais tarde, foram amplamente criticados pela comunidade científica. Depois de mais de quatro anos, esse estudo foi invalidado pelo editor da revista científica na qual ele foi publicado.

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Quais fatores impulsionaram a popularidade da cloroquina?

A divulgação de informações sobre a potencial eficácia da cloroquina ocorreu rapidamente. Em março de 2020, um estudo liderado por Didier Raoult foi publicado na revista International Journal of Antimicrobial Agents, sustentando que a hidroxicloroquina, combinada com azitromicina, poderia ser eficaz. No entanto, em outubro de 2023, a editora Elsevier retratou o artigo devido a questões éticas e metodológicas descobertas em uma investigação aprofundada.

A publicitação desse tratamento gerou expectativas entre a população e autoridades governamentais, como Emmanuel Macron na França e Jair Bolsonaro no Brasil, que apoiavam abertamente seu uso. Em vários países, a hidroxicloroquina foi promovida para tratamento precoce da Covid-19 antes das vacinas terem sido amplamente disponibilizadas.

Como a comunidade científica respondeu a esse movimento?

Em meio à comoção pública, muitos cientistas e pesquisadores iniciaram estudos mais abrangentes para avaliar a eficácia real da hidroxicloroquina contra a Covid-19. Investigações como o estudo britânico Recovery e a pesquisa Solidariedade da Organização Mundial da Saúde concluíram que a hidroxicloroquina não era eficaz na prevenção ou tratamento do coronavírus.

Além de questionar a eficácia, a comunidade médica destacou os possíveis efeitos colaterais adversos, principalmente problemas cardiovasculares associados ao uso dos medicamentos, que reforçaram a necessidade de precaução ao prescrever as substâncias.

Durante o auge da pandemia, a hidroxicloroquina se tornou um tópico polarizador, não apenas no campo médico, mas também no cenário político. No Brasil, o governo de Jair Bolsonaro emitiu várias medidas que facilitavam a prescrição da droga. Um exemplo foi o lançamento do aplicativo TrateCov, que sugeria o uso da hidroxicloroquina entre outras drogas, retirado do ar após críticas. Essas medidas foram criticadas por especialistas em saúde pública e suscitavam preocupações sobre a confiança pública na ciência. Os debates político-científicos dividiram opiniões e levaram à reavaliação das estratégias de comunicação e informação em contextos de crise de saúde.

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