Desde agosto, as vítimas de violência sexual fazem parte do grupo prioritário do Sistema Único de Saúde (SUS) para a vacinação de papilomavírus humano, o HPV, um dos principais agentes de desenvolvimento do câncer do colo do útero transmitido sexualmente.
Antes, essa vacina era aplicada somente em crianças de 9 a 14 anos e em pessoas de 9 a 45 anos portadoras de HIV; em pessoas com órgãos sólidos ou medula óssea transplantados; pacientes oncológicos, imunossuprimidos por doenças e/ou tratamento com drogas imunossupressoras.
A Nota Técnica nº 63, que incluiu vítimas de violência sexual no grupo prioritário de vacinação pelo SUS, foi assinada de forma conjunta pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Meio Ambiente (SVSA), Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) e a Secretaria da Saúde Indígena (SESAI), em um período que marca ações voltadas para o enfrentamento da violência contra as mulheres, o Agosto Lilás. O protocolo de atendimento às vítimas de violência sexual já incluía a imunização contra Hepatite B, Difteria e Tétano (dT).
De acordo com Marcos Maia, médico especialista em ginecologia oncológica, essa medida é fundamental para o controle da doença, que, excluídos os tumores de pele não melanoma, figura como o terceiro tipo de câncer mais incidente entre as mulheres.
“Somente para este ano, são estimados mais de 17 mil casos novos, o que representa um risco considerado de 13,25 casos a cada 100 mil mulheres. Este tipo de câncer é a quarta causa de morte da população feminina em nosso país, e a medida vem somar com todo o trabalho que a comunidade médica vem realizando para o rastreamento e prevenção da doença, que envolve desde ações de educação para a sociedade, campanhas de conscientização sobre a importância das consultas de rotina até a adesão da vacinação“, explicou o especialista.
Câncer do colo do útero
Quase todos os casos de câncer do colo do útero podem ser atribuídos à infecção pelo HPV, que também pode provocar uma proporção de cânceres do ânus, vulva, vagina, pênis e orofaringe, que são evitáveis usando estratégias de prevenção primária semelhantes às do câncer do colo do útero.
“Sem dúvidas, a infecção pelo HPV, que é transmitido sexualmente, é o principal fator de risco, mas é importante alertar as mulheres que a maioria dessas infecções não evoluem para o câncer. E aqui estamos falando de 80% da população feminina sexualmente ativa em nosso país e que irá adquirir o vírus ao longo da vida mas, na maior parte dos casos, vai regredir espontaneamente entre seis meses a dois anos após a exposição”, ressaltou o médico.
Outro fator importante é que o câncer do colo do útero se desenvolve de forma lenta, seguindo alguns estágios de evolução, e isso aumenta as chances de ser diagnosticado precocemente. “Em muitos casos, o quadro pode ser evitado, seja pela detecção por meio do exame preventivo, o papanicolau, ou justamente pela vacina contra o HPV. Além disso, o rastreamento de lesões pré-cancerosas, seguido de tratamento, é uma intervenção efetiva para a prevenção e o diagnóstico precoce deste tipo de câncer”, enfatizou Marcos Maia.