Embora não represente um risco à vida, a alopecia areata é desafiadora por atingir um aspecto ligado intimamente à saúde mental e à confiança do paciente: a autoestima. A condição é caracterizada pela queda dos pelos em todas as regiões do corpo, sobretudo no couro cabelo, nas sobrancelhas e cílios.
A alopecia é considerada uma doença inflamatória e não é contagiosa. De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a condição pode acometer homens e mulheres, e costuma se manifestar entre crianças e jovens. Embora tenha sido discutida com mais frequência nos últimos anos, a alopecia afeta apenas cerca de 1% da população no Brasil – e o tema carece de atenção.
“Hoje, se eu puder ajudar quem sofre dessa ou qualquer outra condição que implique em constrangimento pela aparência, eu irei“, afirma a vereadora Cris Monteiro. Ela começou a apresentar sintomas ainda na infância, e ainda lembra da vergonha que sentia por “ser diferente das outras crianças“.
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“Perdi cabelo em áreas da cabeça, e tinha poucos recursos para lidar com a questão. Na fase adulta, a condição piorou muito. Perdi placas enormes do cabelo e já não dava pra disfarçar, como fiz por muito tempo“, relata. Ela chegou a economizar o próprio salário para buscar tratamento nos Estados Unidos. Lá, ouviu de um médico que não existiam mais opções para o seu caso, e que a recomendação seria usar peruca.
“Voltei para o Brasil e levei 15 anos tentando inúmeros tratamentos até abraçar a realidade de ser uma pessoa com peruca“, conta Cris. “Foi num dia muito difícil, me lembro perfeitamente. Estava andando em uma rua perto de casa, passei em frente a um salão de cabeleireiro. Entrei e falei para a funcionária: ‘Raspa a minha cabeça’. Ali, finalmente aceitei que precisava assumir que a alopecia, no meu caso, não tinha tratamento eficaz, e eu deveria aceitar a condição. Hoje estou bastante confortável com a situação, tanto externa quanto internamente“, garante a vereadora.
O caminho até reconhecer a própria beleza e construir autoestima também foi percorrido pela modelo Yasmin Brito, de 23 anos. Ela foi a primeira pessoa em sua cidade – Montes Claros, em Minas Gerais – a nascer com alopecia, o que dificultou o diagnóstico inicial. Ela chegou a viajar para o Rio de Janeiro com a mãe para passar por tratamento, mas a família não pode arcar com os custos na época.
“Usei peruca dos 12 aos 19 anos por justamente querer me igualar a sociedade. Sempre fui uma menina feliz e alegre, mas como nem tudo são flores, na escola foi bem difícil a aceitação dos meus colegas e até mesmo o bullying que eu sofria“, revela.
O caso de Yasmin reforça a necessidade da conscientização sobre alopecia areata: no começo, ela chegou a acreditar que ninguém mais convivia com a doença além dela. “Nunca havia ouvido falar em alguém com a mesma condição ou até mesmo algum caso na minha família, mas hoje há muitas informações na internet e acaba sendo mais fácil conhecer pessoas iguais a mim. E claro, falar sobre alopecia nas minhas redes abertamente também foi uma maneira que encontrei de informar as pessoas“, pondera.
Hoje, a modelo não sente vontade de fazer tratamento nem deseja que seu cabelo cresça. Ela espera, na verdade, que mais pessoas com o mesmo diagnóstico possam se sentir seguras e confortáveis com a aparência.
“O meu conselho é: a sua dor e o seu tempo são somente seus! Seja forte e tenha a certeza de que um cabelo não te define. Sei que é difícil, pois é algo que nos apegamos muito, mas já passei por tudo e hoje sou mais feliz que nunca. Leve o tempo que for necessário para se amar, mas não deixe o tempo te fazer esquecer de quem você realmente é!“, afirma.