Promessas vazias fizeram gerações de moradores do litoral paulista perderem a crença de que um dia a tal ligação seca entre Santos e Guarujá vai se materializar. De pontes colossais, com direito a maquetes cinematográficas, a túneis com arrasadoras desapropriações, projetos inexequíveis foram exaustivamente explorados por grupos políticos, nos últimos tempos.
Em 9 de fevereiro de 2019, recém-eleita deputada federal, tive a primeira reunião com o então ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro, Tarcísio Gomes de Freitas. Enumerei, na oportunidade, as lutas da Baixada Santista, entre elas, a construção do túnel entre as duas margens do Porto de Santos.
Tarcísio, por sua vez, traçou um plano de desenvolvimento para a região e incluiu a obra – até para que a mesma pudesse ser custeada dentro de um pacote, com a gestão do Porto de Santos inserida no programa de privatizações encabeçadas pela União.
Demoradas etapas burocráticas do projeto foram vencidas ao longo dos quatro anos do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). As contas da companhia portuária, que sempre fechavam no vermelho, foram sanadas, após décadas de escândalos de desvio de dinheiro e corrupção.
Quando a obra bilionária do túnel começava a se tornar viável, o governo petista ganhou a eleição para a Presidência da República, barrou a desestatização do porto e levou tudo à estaca zero. Eleito governador de São Paulo, Tarcísio ainda tentou convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a abraçar a privatização da gestão portuária. Contudo, a ideia foi descartada pelo PT.
Mas, nem assim, o governador desanimou. Incluiu o projeto do túnel no pacote de concessões e de parcerias com a iniciativa privada e firmou acordo com a Autoridade Portuária de Santos, para viabilizar, de uma vez por todas, a construção da ligação entre os municípios.
Dias depois, a União, simplesmente, anunciou que tocaria todo o projeto, orçado em R$ 6 bilhões, sem a participação do Estado de São Paulo, e lançando mão, tão somente, do Programa de Aceleração do Crescimento, o velho PAC petista, famoso pelas obras paradas e superfaturadas.
Recusar a parceria e a participação do governo bandeirante soou como represália política contra Tarcísio, e com a população do litoral paulista sendo, mais uma vez, vítima de uma politicagem rasteira e barata travestida de fidelidade ideológica e de boas intenções.
A pressão do governador para que o acordo com a União não fosse desfeito mostrou, de maneira insistente, o espírito público de um gestor que não está preocupado, simplesmente, com disputas populistas, mas, sim, com os compromissos firmados com quem vive, trabalha ou estuda na Baixada Santista.
Encurtar distâncias
São Paulo, na parceria do projeto, nos traz mais segurança de que esta não será como tantas obras do PAC, que nunca saíram do papel. Basta uma simples busca na Internet para conferir que não há exageros em minha fala. Não são poucos os municípios brasileiros que penaram por anos com construções inacabadas, abandonas ou fantasmas.
Em 25 anos como jornalista, acompanhei de perto a história da ligação seca. Como deputada federal em segundo mandato, continuo e continuarei firme, fiscalizando, cobrando e defendendo os interesses da população que represento.
Obrigada, governador, por abraçar a luta da Baixada Santista por essa grandiosa obra. Queremos que este projeto se torne realidade, e, para tanto, a parceria do governo federal com o Estado paulista é fundamental. Não há o que prove o contrário. A conta nem fecha. Neste momento, assim, é indispensável a união dos entes em prol do povo.
Temos de construir pontes e encurtar distâncias; fazer com que o bem comum esteja acima de populismos, de paixões ideológicas e de interesses eleitoreiros e partidários. Isso, sim, é servir!
* Rosana Valle é deputada federal pelo PL-SP em segundo mandato; presidente da Frente Parlamentar dos Portos Brasileiros; presidente da Executiva Estadual do PL Mulher em São Paulo; jornalista há mais de 30 anos; cronista; e autora dos livros ‘Rota do Sol’ – 1ª e 2ª Edição
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