A Amazônia foi densamente povoada no passado e a ação humana moldou a floresta existente hoje. Pesquisas arqueológicas revelaram que a região da Amazônia já foi habitada por 8 a 10 milhões de pessoas e que esse povoamento se situa entre 8 a 10 mil anos atrás.
O arqueólogo Eduardo Góes Neves, diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP), foi protagonista dessa descoberta, que, segundo ele, configurou uma pequena revolução na arqueologia brasileira.
O tema, tratado por Neves em seu livro Sob os tempos do equinócio: oito mil anos de história na Amazônia Central, foi objeto de reportagem da Agência FAPESP (link: agencia.fapesp.br/39387/).
A arqueologia brasileira realizou, nas últimas décadas, uma “pequena revolução”, segundo Neves, desmistificando conceitos anteriores.
“Ao contrário do que diz a cronologia oficial, que remonta o início da história do Brasil à chegada dos colonizadores europeus, em 1500, o território que compõe atualmente o país tem uma história muito antiga, de aproximadamente 12 mil anos. A arqueologia descobriu que, nesse longo período, a Amazônia sempre foi uma região densamente povoada. Fragmentos de artefatos encontrados sob florestas supostamente virgens, geoglifos e a chamada terra preta são sinais importantes dessa encorpada presença humana na região”, relatou Neves à Agência FAPESP.
Os fragmentos de artefatos incluem peças de cerâmica bastante sofisticadas feitas pelos povos originários, semelhantes às feitas pelas cultura pré-colombianas. Os geoglifos, que são estruturas geométricas feitas no chão pela disposição organizada de sedimentos ou pela retirada de sedimentos superficiais, de modo a expor o terreno subjacente, foram identificados às centenas no Amazonas, Rondônia, Acre e Bolívia. E a terra preta, formada pela atividade humana nas áreas de seus antigos assentamentos, compõe hoje os terrenos mais férteis da Amazônia, cujo solo original é naturalmente pobre.
AÇÃO HUMANA
Outro indício da presença humana é dado pela própria composição vegetal das matas amazônicas. Existem cerca de 16 mil espécies de árvores conhecidas nesse bioma. Desse conjunto, apenas 227 espécies, ou seja 1,4%, correspondem a quase a metade de todas as árvores existentes na região. Essa hiperdominância observada hoje foi, em grande parte, fruto do manejo humano no passado. “A ideia, ainda muito difundida, de uma formação florestal virgem, intocada, não corresponde à realidade. As florestas amazônicas são produtos da ação humana. O manejo criou a composição de árvores que existe hoje”, afirmou o arqueólogo.
As árvores que se tornaram hiperdominantes devido ao manejo incluem espécies muito importantes do ponto vista econômico e social, como o açaí, o cacau, a castanha, a seringa e o cupuaçu.
“Antes se dizia que as populações indígenas da Amazônia não haviam completado sua transição para o neolítico, devido à dependência que ainda mantinham em relação a espécies não domesticadas, como o açaí e a castanha. Mas hoje compreendemos que essas plantas não foram domesticadas porque não havia necessidade. A mandioca e o cacau foram domesticados. Mas o açaí e a castanha estavam logo ali, na mata, e não era preciso domesticar, bastava manejar para obter abundância”, sublinhou Neves.
Amazônia Legal ocupa 5.015.068,18 km², ou de 58,9% do território brasileiro, segundo dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Siga a gente no Google NotíciasEstou no Rio de Janeiro, na sede do BNDES, em um momento de satisfação e celebração do fato histórico da reinstalação do Comitê Orientador do Fundo Amazônia – COFA, no qual passo integrar com o Ministério dos Povos Indígenas (MPI). pic.twitter.com/7TQ46Q45cf
— Sonia Guajajara (@GuajajaraSonia) February 15, 2023