em 1993

Atropelado por Michael Jackson: brasileiro relembra o acidente 30 anos depois

A experiência foi inesquecível para Márcio de Paula. O período após a recuperação, porém, foi marcado por estresse, assédio e difamação

Em 1993, Márcio Alberto de Paula foi atropelado por um dos carros da comitiva de Michael Jackson durante uma visita a São Paulo.
(Crédito: Arquivo pessoal/Márcio Alberto de Paula)

O jornalista brasileiro Márcio Alberto de Paula, 45, foi protagonista do sonho de muitos fãs: esteve cara a cara com Michael Jackson. O caminho que levou até o encontro, porém, não foi tão mágico. Aos 15 anos, Márcio foi atropelado por um dos carros da comitiva do rei do pop, durante uma visita a São Paulo. O evento mudou sua vida completamente e, hoje, 30 anos depois, ele relembra as repercussões do acidente na imprensa e em sua própria jornada.

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Tudo começou em 13 de outubro de 1993, quando Michael Jackson chegou ao Brasil para apresentar dois shows como parte da turnê do álbum ‘Dangerous’ no Estádio do Morumbi. O artista havia planejado uma visita aos pacientes do setor infantil do Hospital Darcy Vargas e levar presentes para as crianças. Por isso, decidiu ir antes para a fábrica de brinquedos Estrela, em Guarulhos.

Márcio morava perto do local, e foi chamado por amigos para ir até a fábrica tentar ver o cantor, mesmo que de longe. Ao portal Hollywood Forever, ele contou que o dia foi “terrível“. “Tanto eu quanto a minha família estávamos em luto, porque no dia 12 de outubro a minha avó materna havia falecido. Então no dia 13 eu fiquei o tempo todo em casa e no dia 14, que foi o dia que meus amigos foram até a minha casa para me dar um abraço, aconteceu esse acidente“,  lembrou.

Chegando aos arredores da fábrica, o rapaz e a irmã se depararam com uma enorme multidão formada por fãs, policiais e imprensa. Tentando manter distância, Márcio se encostou em uma viatura mais afastada, e de lá observou o movimento. O que agravou a situação foi o fato de que, ao serem avisados da visita de Jackson, funcionários da Estrela levaram parentes para o local de trabalho – todos na esperança de ver o astro. No momento em que a comitiva do artista percebeu que a fábrica estava tão cheia por dentro quanto por fora, desistiram de entrar. Foi quando os carros começaram a dar meia-volta.

Fratura exposta

Quando os portões da fábrica se abriram, aquela multidão ficou alvoroçada e os carros começaram a perder o controle, e foram desviando das pessoas, porque as pessoas se jogavam em frente aos carros. E nisso, os veículos dele foram batendo na viatura que eu estava encostado. Então, na verdade, eu fui prensado pelo carro da comitiva dele“, relatou.

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Além de Márcio, outras pessoas se feriram durante a confusão. Uma delas foi sua irmã mais nova, que teve queimaduras. Ele, porém, ficou em estado grave. A maior parte dos ferimentos foram sofridos da cintura para baixo, incluindo uma fratura exposta do fêmur. O jovem precisou ser operado com urgência.

Visita

Passado o dia do acidente, enquanto se recuperava no hospital, ele ficou nervoso no momento em que funcionários entraram no quarto e chamaram seus pais para uma conversa particular. Eles retornaram 40 minutos depois, pálidos. “Eu automaticamente imaginei que era algo relacionado à minha saúde. Pensei, ‘meu Deus, eu vou morrer’“, disse Márcio.

Mais algum tempo se passou, e o nervosismo deu lugar ao choque: a porta do quarto se abriu, e Michael Jackson entrou com uma equipe de reportagem. “Foi uma algazarra, uma barulheira. Ele chegou, segurou o meu rosto… ele virava o meu rosto para a câmera porque eu ficava olhando para ele. Eu não acreditava. Aí ele foi cumprimentar os meus pais. Ele foi muito educado, muito gentil“, contou.

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Depois de tirarem fotos, o artista pediu que os profissionais da imprensa saíssem. Ficaram apenas ele, Márcio e os pais, uma tradutora e três meninos que acompanhavam o cantor. Embora toda a experiência tenha sido marcante, o rapaz lembra com clareza do que sentiu ao ouvir a voz do rei do pop pessoalmente. “Conforme ele começava a falar, eu pensava, ‘meu Deus, eu não estou acreditando nisso’. Parecia que eu estava ouvindo um álbum dele. Eu não acreditava que era real“.

No quarto, Jackson tirou os óculos escuros – que já eram uma de suas marcas registradas – ficou à vontade, brincou, deu uma “voltinha” e fez um passinho de dança para “tentar descontrair a situação“, porque, segundo Márcio, tanto ele quanto a família ficaram “petrificados“.

Consequências

Márcio de Paula recebeu alta depois de cinco dias internado. Em casa, precisou passar três meses de cama para se recuperar. Com o apoio da família nos cuidados, ele felizmente não teve sequelas. O período após a recuperação, contudo, foi marcado por muito estresse, assédio e difamação.

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As pessoas foram muito maldosas, muito cruéis. Enquanto eu estava na minha casa, estava tudo certo, eu ainda não tinha tido contato com o mundo real, não havia passado por nenhuma situação de exposição. Mas quando achei que a minha vida ia voltar ao normal, eu entendi que ela tinha virado um inferno“, lamentou.

O rapaz não era fã de Michael Jackson na época do acidente, mas passou a ser chamado de “interesseiro”. A ideia foi reforçada por publicações feitas em jornais da época, que especulavam que ele havia se jogado na frente do carro intencionalmente, para chegar mais perto do “ídolo”.

Márcio revelou que não tinha noção da grandiosidade da carreira e da fama do artista. “Algumas músicas eu conhecia, eu tinha o álbum ‘Bad’, mas eu não tinha a real dimensão da importância dele para o pop. Então, na época, quando eu sofri o acidente, eu gostava, mas eu não era fã. Eu fui movido pela curiosidade”.

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