Nas últimas semanas, o Rio Grande do Sul (RS) vem enfrentando fortes chuvas que já deixaram 148 pessoas mortas, 127 desaparecidas e 806 feridas, segundo últimas informações da Defesa Civil. A quantidade de desabrigados subiu para 619 mil, sendo 76 mil acolhidos em abrigos e 538 mil ainda desalojados. A chegada de uma forte frente fria deixa a situação ainda mais dramática.
Caso seja surpreendido pelo tempo severo, busque abrigo, e não atravesse alagamentos a pé ou, mesmo, de carro.
— Defesa Civil RS (@DefesaCivilRS) May 11, 2024
Além das tempestades responsáveis pelas tragédias, o estado vem encarando outros eventos climáticos, como ondas de frio, tremores terrestres e tornados. Sobretudo, existe uma explicação para tudo isso estar acontecendo ao mesmo tempo. Antes mesmo do episódio no Rio Grande do Sul, especialistas vem alertando sobre fenômenos que vem acontecendo ao redor do mundo, como ondas extremas de calor que atingiram o Brasil no último verão.
O doutor em meteorologia da ‘Tempo OK’, Luiz Fernando dos Santos, explica à CNN que tanto a temperatura dos oceanos quanto a dos continentes se encontram mais altas que o normal. Isso intensifica os eventos extremos. “Falar em temperaturas elevadas é o mesmo que falar em energia, ou seja, a atmosfera está bastante energética, o que potencializa os eventos extremos (tempestades, ondas de calor, etc). Então, tudo o que deveria ser normal é potencializado pelo excesso de energia”.
Além disso, ele explica que entre os meses de maio e junho, grande parte do país tem uma condição de tempo seco, com exceção do Sul, que é uma das únicas regiões que recebe chuva. Na região central do Brasil, há um sistema de alta pressão intenso, enquanto no Sul, as áreas de instabilidade e as frentes frias estão sendo barradas por essa área de alta pressão ao tentarem avançar para o Sudeste. Sendo assim, as fortes chuvas ficam concentradas apenas no Sul, enquanto o resto do país sofre com o clima seco.
Fenômenos climáticos que intensificam a situação do RS
Santos também ressalta que os fenômenos estão correlacionados e relata que, quanto mais calor na atmosfera, as regiões de alta pressão no interior do país ficam mais intensas. Além disso, com as ondas de calor deste outono, a formação de nuvens para tempestade é favorecida. As chamadas Comulonimbus, além de provocarem chuvas volumosas, causam rajadas de ventos, queda de granizos e tornados.
Outro evento climático que afeta as tempestades é o famoso El Niño, que vem sendo muito comentado para explicar o aumento das temperaturas no país. O fenômeno, que é marcado por temperaturas oceânicas acima da média, está chegando ao fim. Todavia, especialistas indicam que as alterações atmosféricas continuarão ocorrendo, apesar da conclusão deste ciclo. “Mesmo com a transição para a neutralidade na região do Pacífico, ainda há bastante energia na atmosfera, que leva um tempo para se dissipar”, comenta o meteorologista.
Segundo o último boletim semanal disponibilizado pela MetSul Meteorologia, a instabilidade de temperatura da superfície do mar era de 0,3ºC na região chamada Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central. A região é usada oficialmente para definir se há um El Niño na forma clássica e de impacto global. Esse valor, por sua vez, é considerado dentro de uma faixa de neutralidade, o que configura que as anomalias de temperatura da superfície do mar não mais são de El Niño.
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O fenômeno já tinha previsão para terminar entre abril e junho de 2024. A projeção foi divulgada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), na 7ª edição do Boletim Painel El Niño 2023-2024. Segundo a ANA, desde junho do ano passado, o El Niño apresentou uma faixa de águas quentes em grande parte do Pacífico equatorial. Apesar de apresentar atividade anômalas desde agosto, o fenômeno mostrou sinais de enfraquecimento em relação a meses anteriores.
A posição geográfica do estado
A posição geográfica que se encontra o estado gaúcho favorece para os eventos climáticos, de acordo com Luiz Fernando. Isso porque, as instabilidades que vem do Pacífico passam pela Cordilheira dos Andes e se intensificam ao se formar entre a Argentina e o Rio Grande do Sul. “A alta pressão que se forma no interior do Brasil é tão ampla que “barra” as nuvens carregadas entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina”, complementa.
Especialistas indicam que a umidade responsável pelas chuvas veio da Amazônia, através da Cordilheira dos Andes, aumentando ainda mais a concentração de chuvas no Sul.
* Sob supervisão de Lilian Coelho