em pauta

SP: Entidades avaliam que greve estimula debate sobre privatizações

“Nossa proposta não era que o metrô funcionasse 80%, mas sim 100% com a liberação das catracas, mas o governador não quis”, afirmou Camila Lisboa, presidente do Sindicato dos Metroviários

A paralisação feita pelos trabalhadores dos serviços públicos de São Paulo prossegue até a 0h de quarta-feira (29), segundo os representantes dos sindicatos envolvidos na greve.
(Créditos: Paulo Pinto/Agência Brasil)

A paralisação feita pelos trabalhadores dos serviços públicos de São Paulo prossegue até a 0h de quarta-feira (29), segundo os representantes dos sindicatos envolvidos na greve. Durante entrevista coletiva no início da tarde desta terça-feira (28), as entidades avaliaram que a greve já se mostrava vitoriosa no sentido de adesão e entendimento dos trabalhadores sobre as razões do movimento. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintraema), José Faggian, o grande salto da paralisação é conseguir estimular o debate com a população de São Paulo sobre o prejuízo da privatização não só da Sabesp, quanto do Metrô e da CPTM.

Publicidade

Faggian ressaltou que, embora a greve tenha também um caráter corporativo com a defesa dos empregos e interesses dos trabalhadores da Sabesp, a unificação vem para defender que a população de São Paulo tenha direito a serviços públicos de qualidade. “E principalmente no nosso caso aqui da Sabesp, que tenha direito ao saneamento. E Sabesp enquanto a empresa pública presta um serviço de excelência, é lucrativa e tem seus serviços quase totalmente universalizados, operando em 375 municípios e atendendo a 70% da população”.

Na avaliação de Faggian, em virtude disso não há nenhum argumento razoável para insistir na privatização da Sabesp, além de que a experiência observada onde esse tipo de serviço foi privatizado, no Brasil e no mundo, é a de que houve precarização e aumento da tarifa. “Aumentou e o serviço piorou. Nós não queremos colocar em risco a saúde da população de São Paulo e quando a gente fala de saneamento básico, de água, a gente tá falando também disso, da saúde do povo de São Paulo”.

A presidente do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, ressaltou que a categoria propôs ao governo do estado que liberasse as catracas, permitindo que a população utilizasse gratuitamente o transporte sob trilhos. Entretanto, a resposta da administração estadual foi negativa. “Nossa proposta não era que o metrô funcionasse 80%, mas sim 100% com a liberação das catracas, mas o governador não quis”, disse Camila.

Camila afirmou ainda que os sindicatos entendem que a população de São Paulo não elegeu Tarcísio de Freitas para que, durante os quatro anos de mandato, não se pudesse contestar as medidas que estão sendo tomadas. “Particularmente falamos da privatização de setores estratégicos e da eleição para cá muita água rolou debaixo da ponte. Nós tivemos recentemente o apagão da Enel e isso abriu uma reflexão muito crítica sobre as privatizações e principalmente sobre a privatização da Sabesp, porque são serviços correlatos”, disse.

Publicidade

Para Camila e os outros representantes das categorias, o governador deveria aceitar debater o tema e provar que a privatização da Sabesp não vai “virar o caos que virou a Enel” ou que a privatização do Metrô e da CPTM “não virarão o caos que virou a linha 8 e 9”. “Então nós achamos que o governador deve ir ao debate, porque mas da metade da sociedade não aceita as privatizações, particularmente na capital. Ele tem que ter menos intransigência no debate e se abrir para essa discussão com a sociedade, fazer um plebiscito oficial”.

O vice-diretor de políticas sociais do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), Richard Araújo, destacou que a participação dos professores na greve unificada acontece não só pela posição contrária ao projeto de privatização, mas também porque no conjunto da desestatização da Sabesp e do avanço da privatização do metrô e da CPTM o governador enviou para a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) uma proposta de emenda constitucional que reduz 5% do orçamento mínimo obrigatório para a educação descrito na constituição estadual que estabelece um mínimo de 30%.

“Essa flexibilização vai significar a redução de algo em torno de quase R$ 10 milhões do orçamento para educação do estado de São Paulo. Isso é uma expressão do descaso do governo com os interesses da juventude. Nós, professores da rede estadual, vivenciamos uma situação de muito sucateamento das escolas públicas e precarização da categoria, com metade da rede composta por professores sem direito”, enfatizou.

Publicidade

Segundo ele, ainda não é possível fazer um balanço exato sobre a adesão dos professores, mas as informações preliminares indicam que há paralisação de unidades em todas as regiões do estado.

Balanço governo estadual

Segundo balanço do governo estadual, na manhã desta terça-feira, com a volta ao funcionamento da Linha 10-Turquesa da CPTM, 62% do contingente da empresa está trabalhando, cumprindo a decisão judicial que determina o mínimo de 60% dos trabalhadores na ativa entre as 10h e as 16h e após as 21h.

De acordo como  governo, o sindicado dos metroviários, mesmo com a abertura das estações Sumaré e Vila Madalena às 11h15, descumpre a decisão judicial do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) que define que 80% do contingente deve atuar nos horários de pico, 6h às 9h e das 16h às 18h, e 60% nos outros horários. A multa diária prevista pelos magistrados é de R$ 700 mil.

Publicidade

Os ônibus municipais e intermunicipais circulam normalmente, com as linhas metropolitanas da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos funcionando com intensificação da operação e extensão de itinerário em mais de 30 linhas estratégicas. Os pontos finais na capital paulista foram alterados para que os passageiros sigam até as estações que poderão estar funcionando, ou até a conexão com as linhas da SPTrans.

Na Sabesp, todos os sistemas de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos seguem operando regularmente.

Ponto Facultativo

O governo de São Paulo determinou ponto facultativo nos serviços públicos estaduais da capital para reduzir os prejuízos à população, garantindo a remarcação de consultas, exames e demais serviços que estavam agendados para a data da greve. Não foram afetados os serviços de segurança pública, restaurantes e postos móveis do Bom Prato.

Publicidade

As consultas em Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs) da capital e em outras unidades de saúde estaduais terão seus reagendamentos garantidos, assim como nos postos do Poupatempo. Os postos de coleta da Fundação Pró-Sangue funcionam normalmente. “O ponto facultativo não se aplica à Secretaria de Educação em virtude da preparação do Provão Paulista Seriado e da manutenção do calendário escolar”.

Os representantes dos grevistas, em coletiva de imprensa, garantiram que a greve não se estenderá e terá seu fim hoje. Os sindicalistas protestaram contra a privatização da Sabesp, na tarde desta terça-feira, em frente à Alesp. Segundo o presidente da assembleia, André do Prado, a discussão sobre o projeto de desestatização da empresa de saneamento básico deve começar na próxima terça-feira (5).

Assine nossa newsletter

Cadastre-se para receber grátis o Menu Executivo Perfil Brasil, com todo conteúdo, análises e a cobertura mais completa.

Grátis em sua caixa de entrada. Pode cancelar quando quiser.