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“Neve de melancia”: Saiba mais sobre o fenômeno que se espalha pela América do Norte e pode ameaçar as geleiras

Seu surgimento marca o final da primavera e o início do verão no Hemisfério Norte, mas a intensidade da cor e a frequência estão chamando a atenção dos pesquisadores

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A perigosa “neve de melancia” preocupa os cientistas – Crédito: Fabiano de Abreu Agrela/MF Press Global

Um fenômeno popularmente conhecido como “neve de melancia” está chamando a atenção de pesquisadores no Hemisfério Norte. Também chamado de “glacier de sangue“, o tom rosado da neve marca o final da primavera e o início do verão. Porém, a intensidade da cor da neve e a frequência deixa os estudiosos em alerta.

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O que causa a ‘neve de melancia’?

De acordo com o biólogo com especialização em genômica e membro da Royal Society of Biology no Reino Unido, Fabiano de Abreu Agrela, esse fenômeno é causado pelo florescimento de algas cor-de-rosa chamadas Chlamydomonas nivalis. “Essa espécie contém um pigmento carotenoide além da clorofila, conhecido como astaxantina. Na transição do inverno para o verão, as algas são aquecidas pela luz solar e adquirem uma coloração vermelha. Esse composto serve como protetor solar natural para as algas, protegendo-as da radiação ultravioleta (UV) nos ambientes de altitude elevada onde se desenvolvem. Ao contrário da maioria das espécies de algas que vivem em água doce, a Chlamydomonas nivalis é amante do frio, uma planta criofílica, encontrada em águas geladas”, explica o especialista.

O biólogo afirma que a “neve de melancia” é observada no mundo há um bom tempo. “Uma das primeiras vezes que ela foi documentada foi através do Capitão John Ross, que  a registrou no Ártico em 1818, quando liderou quatro navios ingleses que partiram rumo ao Círculo Polar Ártico”.

Risco às geleiras

O biólogo explica que esse fenômeno provoca o derretimento da superfície das geleiras: “Isso acontece porque, à medida em que as geleiras ficam coloridas, elas derretem mais facilmente, uma vez que as algas rosadas fazem com que a luz solar seja absorvida em vez de refletida, aquecendo o gelo. Elas utilizam a luz solar para converter dióxido de carbono e água em compostos orgânicos, fazendo fotossíntese através da neve translúcida”.

Durante o inverno, quando a neve as cobre, as algas ficam adormecidas. Na primavera, os nutrientes, o aumento dos níveis de luz e da água em estado líquido estimulam a germinação.  O que chama atenção é que a neve pigmentada tem um albedo (refletividade) mais baixo que a neve normal. Isso acontece por exemplo quando saímos com roupas mais escuras no verão e passamos mais calor, pois os tecidos mais escuros tendem a absorver mais calor ao invés de refletir.  “E como as células dessa planta precisam de água para sobreviver, este derretimento rápido estimula mais ainda o seu crescimento, escurecendo mais a coloração e absorvendo mais calor. É, literalmente, uma bola de neve” alerta.

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