O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou hoje (14) um estudo com indicadores inéditos no Brasil sobre mercado de trabalho e produtividade. Um deles é o Índice de Qualidade do Trabalho (IQT), que analisa dados de escolaridade e de experiência da população ocupada do país.
De acordo com o estudo, a mudança de composição na população ocupada (PO) provocou o crescimento mais acelerado do indicador durante as fases de recessão, com crescimento de 2,7% ao ano entre o primeiro trimestre de 2014 até o quarto de 2016 e de 11,9% a.a. no período do quarto trimestre de 2019 ao segundo de 2020. Em contrapartida, nas fases de expansão econômica, os percentuais de crescimento médio ficaram entre 0,90% e 1,5% a.a., respectivamente.
Conforme o estudo, em períodos de crise há um avanço na proporção relativa de trabalhadores mais qualificados na população ocupada, em razão da maior perda líquida de empregos para os menos escolarizados e com menor grau de experiência. Como resultado, em termos de capacidade produtiva, o efeito composição gera um aumento da qualidade das horas efetivamente trabalhadas no período.
Escolaridade
O estudo mostrou ainda que houve uma perda muito grande de horas trabalhadas na população de baixa escolaridade, o que não ocorre para quem tem escolaridade com nível superior, que não teve perda quando se compara o primeiro trimestre deste ano com o do ano passado e na verdade registrou alta. “Há uma recuperação bastante distinta também na economia, que com a recuperação acabou sendo melhor para a população com mais escolaridade do que da população com baixa escolaridade”, disse o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea e um dos autores do estudo, José Ronaldo Souza Júnior, em entrevista à Agência Brasil.
O diretor disse que estudos feitos até agora indicam um aumento muito grande de produtividade no período da crise da pandemia, o que é incomum em tempos iguais, com o IQT deixou claro que não houve esse aumento tão grande na produtividade e o que ocorreu foi maior participação de pessoas com mais escolaridade na mão de obra. “Na verdade está aumentando a produção do trabalhador porque a participação do com formação melhor está maior”, disse.
O estudo se baseia em dados da Pnad Contínua, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do segundo trimestre de 2012, que corresponde ao início da série, até o primeiro trimestre de 2021, uma vez que a pesquisa de abrangência nacional investiga de maneira permanente características gerais da população relacionada à educação. Os resultados mostram também um crescimento médio de 2,31% ao ano na qualidade da população ocupada no mercado de trabalho brasileiro nesse período.
O Índice Ajustado de Contribuição do Fator Trabalho (IACFT), indicador criado para ponderar o estoque de horas trabalhadas pela qualidade da composição da população ocupada em cada período, apresentou alta de 1,36% no primeiro trimestre de 2021, se comparado ao trimestre anterior. No entanto, em relação ao primeiro trimestre de 2020, subiu 3,75% na contribuição efetiva do insumo trabalho, apesar da queda de 3,01% no fluxo de horas efetivamente trabalhadas. A avaliação é que isso comprova que a mudança na composição da população ocupada mais que compensou a redução no total de horas efetivas trabalhadas no período.
O estudo apontou que a produtividade total dos fatores (PTF) estimada da forma convencional, em que o fator trabalho é mensurado pelas horas efetivamente trabalhadas, superestima em 13,30 pontos percentuais (p.p.) o indicador no período analisado, quando comparado à PTF ajustada pela qualidade do trabalho.
Segundo o Ipea, é a primeira vez, que pesquisadores brasileiros fazem esse tipo de avaliação, que é utilizada para análise de conjuntura por órgãos institucionais internacionais como Federal Reserve Bank of San Francisco (nos Estados Unidos), Office for National Statistics (no Reino Unido), Australian Bureau of Statistics (na Austrália) e Eurostat (na União Europeia). De acordo com o Ipea, a construção do novo indicador contribui também para analisar a evolução da economia brasileira no contexto mundial.
José Ronaldo Souza Júnior disse que a intenção ao criar os indicadores foi avaliar o quanto de capacidade produtiva existe no Brasil com a mão de obra disponível. “A gente consegue avaliar melhor a produtividade diferenciando trabalhadores em indicadores que ajudam a medir melhor a produtividade, como a escolaridade. Também consegue medir melhor o grau de ociosidade dessa mão de obra. Então, tem um desemprego alto, mas qual é o tamanho da ociosidade? Ociosidade que estamos falando é em termos de capacidade produtiva e tem que levar em consideração que há trabalhadores com níveis de escolaridade diferentes”, afirmou.
(Agência Brasil)