hiperinflação

30 anos do Plano Real: como o projeto normalizou a economia brasileira?

Considerado um divisor de águas, o novo plano econômico interrompeu um ciclo vicioso de disparada nos preços e retorno de capitais

30 anos do Plano Real: relembre como era a vida antes do projeto
Plano Real completa 30 anos – Créditos: Canva

Em 1° de julho de 1994, há 30 anos, o governo Itamar Franco introduzia o Plano Real. O país passava por uma instabilidade econômica significativa, principalmente devido à hiperinflação. Considerado um divisor de águas, este novo plano econômico interrompeu um ciclo vicioso de disparada nos preços e retorno de capitais.

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Fernando Henrique Cardoso, então Ministro da Fazenda do governo de Itamar, foi o responsável por chefiar a equipe que elaborou o plano. Entre os membros estavam os economistas Gustavo Franco, Persio Arida e Pedro Malan.

O Plano Real é uma política pública que envolveu gente que entende do assunto, que conversa entre si e se organizou sob uma liderança política para explicar conceitos e arregimentar apoios políticos. Depois, entrou toda uma engenharia social de fazer acontecer um empreendimento coletivo tão importante, que precisa engajar todo um país. Isso não é simples”, destacou Franco à TV Brasil.

Como o Plano Real normalizou a economia?

Uma das principais ações foi a criação de uma nova moeda, o real, que substituiu o cruzeiro real, com um valor atrelado ao dólar americano para garantir maior credibilidade e estabilidade. O plano envolveu uma reforma monetária cuidadosa, que incluiu a fase de transição com a Unidade Real de Valor (URV), um indexador temporário que ajustava preços e salários à nova moeda, promovendo uma conversão suave e previsível.

Através da indexação de toda a economia pela URV, o Plano Real conseguiu ajustar os preços relativos, que indicam quanto de diferentes bens e serviços uma mesma quantia pode comprar. Com um câmbio inicial fixo e taxas de juros elevadas para atrair investimentos externos, o plano obteve sucesso. Em junho de 1994, o IPCA alcançou 47,43%. No mês seguinte, caiu para 6,84%, chegando a apenas 1,71% em dezembro do mesmo ano.

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Além da nova moeda, o Plano Real implementou políticas fiscais e monetárias rigorosas para reduzir o déficit público e controlar a emissão de moeda. O governo adotou uma política de metas de inflação, aumentou a transparência fiscal e cortou gastos públicos, ao mesmo tempo em que aumentou a arrecadação de impostos.

Outro elemento importante foi a abertura da economia brasileira, com a redução de barreiras tarifárias e a promoção da competitividade interna, o que ajudou a controlar os preços ao incentivar a eficiência e a inovação nas empresas nacionais. O Banco Central (BC) também atuou a favor, uma vez que adotou uma política monetária restritiva, elevando as taxas de juros para conter a demanda e controlar a inflação.

Ao acabar com a hiperinflação, o plano deu poder de compra ao salário do trabalhador. O salário não derretia mais, e o trabalhador não tinha de correr para o supermercado no primeiro dia em que recebia o seu salário para chegar antes das maquininhas remarcadoras de preços. Todo esse pandemônio que era a vida do brasileiro com a inflação ficou para a história. Para imaginar o legado do plano, compara com a Argentina hoje, que está tentando fazer o que fizemos com sucesso há 30 anos”, afirmou o economista Edmar Bacha, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no início do governo Fernando Henrique.

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A experiência de quem viveu a hiperinflação

Antes do Plano Real, a inflação elevada corroía rapidamente o poder de compra dos brasileiros, que enfrentavam constantes aumentos de preços nos produtos e serviços essenciais. A desvalorização do dinheiro era tão rápida que os preços nos supermercados eram ajustados diariamente, e, em alguns casos, até várias vezes ao dia. Isso gerava insegurança e dificuldades para o planejamento financeiro das famílias e das empresas.

Os salários, apesar de serem ajustados periodicamente, não acompanhavam o ritmo da inflação, o que levava à perda constante do poder de compra. As pessoas corriam para gastar seus salários assim que os recebiam, antes que os preços aumentassem novamente. Os consumidores também recorriam ao estoque de bens duráveis, como alimentos não perecíveis e produtos de higiene, para tentar se proteger da inflação.

Além disso, o acesso ao crédito era restrito e os juros eram exorbitantes, o que dificultava a aquisição de bens de maior valor, como imóveis e automóveis. As empresas enfrentavam grandes desafios para planejar investimentos e produção, já que a volatilidade econômica tornava o cenário imprevisível. Muitas vezes, os empresários repassavam os custos da inflação aos preços finais dos produtos, contribuindo para a perpetuação do ciclo inflacionário.

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