
Em 1° de julho de 1994, há 30 anos, o governo Itamar Franco introduzia o Plano Real. O país passava por uma instabilidade econômica significativa, principalmente devido à hiperinflação. Considerado um divisor de águas, este novo plano econômico interrompeu um ciclo vicioso de disparada nos preços e retorno de capitais.
Fernando Henrique Cardoso, então Ministro da Fazenda do governo de Itamar, foi o responsável por chefiar a equipe que elaborou o plano. Entre os membros estavam os economistas Gustavo Franco, Persio Arida e Pedro Malan.
“O Plano Real é uma política pública que envolveu gente que entende do assunto, que conversa entre si e se organizou sob uma liderança política para explicar conceitos e arregimentar apoios políticos. Depois, entrou toda uma engenharia social de fazer acontecer um empreendimento coletivo tão importante, que precisa engajar todo um país. Isso não é simples”, destacou Franco à TV Brasil.
Como o Plano Real normalizou a economia?
Uma das principais ações foi a criação de uma nova moeda, o real, que substituiu o cruzeiro real, com um valor atrelado ao dólar americano para garantir maior credibilidade e estabilidade. O plano envolveu uma reforma monetária cuidadosa, que incluiu a fase de transição com a Unidade Real de Valor (URV), um indexador temporário que ajustava preços e salários à nova moeda, promovendo uma conversão suave e previsível.
Através da indexação de toda a economia pela URV, o Plano Real conseguiu ajustar os preços relativos, que indicam quanto de diferentes bens e serviços uma mesma quantia pode comprar. Com um câmbio inicial fixo e taxas de juros elevadas para atrair investimentos externos, o plano obteve sucesso. Em junho de 1994, o IPCA alcançou 47,43%. No mês seguinte, caiu para 6,84%, chegando a apenas 1,71% em dezembro do mesmo ano.
Além da nova moeda, o Plano Real implementou políticas fiscais e monetárias rigorosas para reduzir o déficit público e controlar a emissão de moeda. O governo adotou uma política de metas de inflação, aumentou a transparência fiscal e cortou gastos públicos, ao mesmo tempo em que aumentou a arrecadação de impostos.
Outro elemento importante foi a abertura da economia brasileira, com a redução de barreiras tarifárias e a promoção da competitividade interna, o que ajudou a controlar os preços ao incentivar a eficiência e a inovação nas empresas nacionais. O Banco Central (BC) também atuou a favor, uma vez que adotou uma política monetária restritiva, elevando as taxas de juros para conter a demanda e controlar a inflação.
“Ao acabar com a hiperinflação, o plano deu poder de compra ao salário do trabalhador. O salário não derretia mais, e o trabalhador não tinha de correr para o supermercado no primeiro dia em que recebia o seu salário para chegar antes das maquininhas remarcadoras de preços. Todo esse pandemônio que era a vida do brasileiro com a inflação ficou para a história. Para imaginar o legado do plano, compara com a Argentina hoje, que está tentando fazer o que fizemos com sucesso há 30 anos”, afirmou o economista Edmar Bacha, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no início do governo Fernando Henrique.