O programa de televisão “Mr. Bates versus os Correios“, que começou a ser transmitido em 1º de janeiro no ITV, expôs um dos piores erros judiciais na história britânica. Mais de 700 pessoas foram condenadas injustamente por roubo devido a falhas em um sistema de TI chamado Horizon, utilizado pelos Correios. Entre 1999 e 2015, esses gestores enfrentaram perseguições judiciais, prisões, dificuldades financeiras e problemas de saúde mental, com alguns casos resultando em suicídios.
A série dramática provocou uma reação significativa do público, alcançando uma audiência de mais de 3,5 milhões de espectadores no primeiro episódio e 9 milhões ao todo. Isso pressionou o primeiro-ministro Rishi Sunak a prometer, nesta quarta-feira (10), uma nova lei para exonerar e compensar as vítimas conhecidas. Além disso, a polícia anunciou uma investigação sobre possíveis acusações contra os funcionários dos Correios.
O escândalo envolveu a acusação injusta de centenas de pessoas que administravam filiais dos Correios de roubo devido a defeitos no sistema Horizon. Apesar de um inquérito oficial iniciado em 2020 e mais de 148 milhões de libras distribuídas em compensação, apenas 93 das 700 condenações penais foram anuladas até agora. O programa de TV destacou histórias pessoais, revelando o impacto devastador nas vidas das vítimas.
O caso também expôs a postura obstinada dos Correios, que se recusaram por anos a admitir a culpa do sistema de TI. A ex-chefe dos Correios, Paula Vennells, devolveu uma homenagem concedida pela rainha em 2019, após mais de um milhão de pessoas assinarem uma petição exigindo sua destituição.
O drama televisivo se tornou uma poderosa ferramenta para conscientizar o público sobre a injustiça, superando os esforços de jornalistas e políticos ao longo de uma década. Enquanto políticos prometem ação e a polícia inicia investigações, a série destaca a capacidade da televisão de gerar debates públicos e mudar percepções, tocando o coração do público de maneira que o jornalismo muitas vezes não consegue.
A escritora da série, Gwyneth Hughes, disse ao The New York Times que “por mais brilhante que seja o jornalismo, talvez apele ao seu intelecto, à sua cabeça. Embora o drama seja projetado para apelar ao seu coração – é isso que vem fazendo há milhares de anos“. Já o produtor executivo do programa, Patrick Spence, acredita que “Mr. Bates versus Correios” se tornou “inadvertidamente um drama sobre o estado da nação, articulando uma verdade maior, que é que não nos sentimos ouvidos e não confiamos nas pessoas que deveriam estar nos protegendo”.
* Sob supervisão de Lilian Coelho