As lágrimas que escorreram do rosto de Mariana D’Andrea no pódio dos Jogos Parapan-Americanos de Santiago, no Chile, não foram apenas pela vitória, mas também pela dor da perda e, acima de tudo, pelo desejo de honrar o legado de seu pai, que morreu de ataque cardíaco neste ano. Neste sábado (18.11), a brasileira conquistou o bicampeonato no halterofilismo e estabeleceu o novo recorde das Américas, ao levantar 141 kg.
O pódio na categoria até 73kg e 79kg foi de dobradinha verde e amarela. Além de Mariana, Caroline Fernandes conquistou para o Brasil a medalha de prata. As duas atletas recebem o apoio financeiro do Programa Bolsa Atleta do Ministério do Esporte.
O choro de Mariana foi para lavar a alma. Esta não era apenas sua primeira competição após a trágica perda de seu pai, mas uma oportunidade de homenagear aquele que sempre acreditou nela. “Foi uma emoção muito intensa, porque quando estive no pódio para receber a medalha de ouro, sei que, naquele momento, ele estava lá assistindo”, revelou.
Aos 25 anos, Mariana é um fenômeno mundial no esporte. Atual líder do ranking mundial, ela conta na carreira com as conquistas dos títulos da Paralimpíada de Tóquio 2020 e o primeiro ouro da história do Brasil em um Campeonato Mundial de halterofilismo. Ela também foi ouro no Parapan de Lima 2019 e agora repetiu a dose em Santiago. “Mariana não tem limite”, disse, confiante, a bolsista nascida em Itu (SP).
Em Santiago, na primeira tentativa na prova da categoria até 73kg e 79 kg, Mariana levantou 130kg. Na segunda tentativa, ela conseguiu avançar a marca pessoal, passando para 135 kg. O título foi sacramentado ao levantar 141 kg, colocando o seu nome na história com o recorde das Américas. A marca anterior era de 140 kg. Caroline garantiu a medalha de prata, sua primeira em Parapan, ao levantar 117 kg na segunda tentativa.
Mariana nasceu com nanismo. O técnico Valdecir Lopes a viu na rua em 2015 e a convidou para praticar halterofilismo. Após a partida de seu pai, o treinador assumiu não apenas a responsabilidade técnica, mas também a de um segundo pai. “Sou muito grata ao meu treinador. Agradeço sinceramente por tudo o que ele fez e continua fazendo por mim. Desde o início, quando eu não queria treinar, ele ia me buscar, investindo tempo e esforço. Ele sempre foi como um segundo pai, incentivando mesmo quando eu estava desanimada, sempre me motivando”, contou a atleta.
Mariana destacou também a importância do apoio do Ministério do Esporte por meio da Bolsa Atleta. “Quero agradecer ao Ministério do Esporte, que tem me apoiado ao longo da minha carreira. Seria mais difícil para o atleta conquistar uma medalha sem esse suporte do Bolsa Atleta. Atualmente, dedico a minha vida somente ao esporte. Graças ao suporte que recebo do ministério, consigo viver, me sustentar e alcançar bons resultados para o Brasil”, frisou.
Prata brasileira
Para Caroline Fernandes, a medalha de prata foi quase como um renascimento. “Depois do meu acidente, eu renasci com o esporte. E essa medalha também me fez ter mais esperança, para dar orgulho para quem está torcendo para o Brasil”, disse.
Caroline jogava futsal até 2013, quando sofreu um acidente de carro que a levou a amputar a perna direita. Foi apresentada ao esporte paralímpico por uma amiga e experimentou o vôlei sentado antes de começar no halterofilismo.
“Nessa jornada no esporte, tenho um parceiro. O Bolsa Atleta é o meu parceiro de treino e de competição. Está sempre ao meu lado, apoiando-me a permanecer no esporte”.