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Jogos, YouTube e abraços: como as mães em Gaza acalmam filhos aterrorizados na guerra?

Para tentar cuidar da saúde mental dos filhos, pais e mães buscam recursos na Internet e no aplicativo WhatsApp

Para tentar cuidar da saúde mental dos filhos, pais e mães em Gaza buscam recursos na Internet e no aplicativo WhatsApp.
(Crédito: Ahmad Hasaballah/Getty Images)

Quando outro ataque aéreo de Israel retumbou em Gaza, a pequena Pretty Abu-Ghazzah, de oito anos, ficou em estado de choque, enquanto os seus irmãos gêmeos de cinco anos correram para os braços da sua mãe, Esraa. O irmão mais novo de Pretty, de dois anos, chorou alto.

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Para escapar dos pesados ​​bombardeios no bairro de Deir el-Balah, no centro da Faixa de Gaza, Esraa levou os filhos para a casa dos seus sogros, em uma área menos atacada. Mas não há como fugir dos efeitos do ataque à saúde mental. “Não suporto ver meus filhos tremendo, com os rostos pálidos de terror. É muito doloroso. Pretty vomitou várias vezes hoje devido ao pânico e ao medo”, disse a mãe de 30 anos.

Representando quase metade dos 2,3 milhões de pessoas presas em Gaza, as crianças sofrem as consequências psicológicas e emocionais de anos de bloqueio e violência. De acordo com um estudo de 2022 da ONG Save the Children, quatro em cada cinco crianças na Faixa enfrentam depressão, tristeza e medo. As informações são da emissora Al Jazeera.

A ofensiva de Israel a Gaza, iniciada após os ataques cometidos pelo pelo braço armado do grupo palestiniano Hamas no dia 7 de outubro, matou pelo menos 2.382 palestinos e feriu outros 9.714 até agora. Também fez com que os pais lutassem para manter os filhos vivos e mentalmente saudáveis, apesar do que descrevem como “a agressão mais feroz que enfrentaram em anos“.

Sintomas e “brincadeiras”

Depois de Israel ter cortado a eletricidade em Gaza na segunda-feira passada (9), os residentes agora vivem no escuro devido à diminuição do abastecimento de combustível, necessário para o funcionamento dos geradores. Muitos pais aproveitam o acesso limitado à Internet para buscar conselhos sobre como acalentar os filhos, pesquisando em plataformas como o YouTube e grupos de apoio do WhatsApp.

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Esraa tem observado as reações dos seus filhos aos ataques aéreos com uma preocupação crescente. Além dos vômitos, eles têm sofrido de micção involuntária, sintoma que ela disse ser recente e que evidencia o aumento do medo. “Nenhum dos meus filhos havia apresentado micção involuntária antes”, disse ela.

A mãe lembrou, ainda, que as brincadeiras dos filhos agora muitas vezes giram em torno da guerra e da imitação dos telefonemas da mãe para os entes queridos. “Os meus filhos olham para mim e fingem ter conversas telefônicas, perguntando uns aos outros: ‘O que está acontecendo na sua área?’. Eles me imitam quando ligo para os meus parentes que vivem em partes diferentes de Gaza, só para se certificarem de que estão bem”, explicou Esraa.

Rawan, outra mãe de 30 anos, disse que suas três filhas estão lutando com a realidade violenta que enfrentam.“Esta é a quinta guerra que vivencio como mãe, e sempre recorro ao YouTube e a artigos online para entender melhor como apoiar minhas filhas em tempos de conflito”, relatou.

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Sua filha mais velha, porém, apresenta sintomas acentuados. “Minhas filhas, Aysel, 9, Areen, 6, e Aleen, 4, são profundamente afetadas pelos sons aterrorizantes dos bombardeios, especialmente Aysel. Ela agora tem idade suficiente para entender as implicações da guerra. Ela parou de comer e beber. Também notei um aumento em sua frequência cardíaca”, lamentou a mãe.

Consequências para as crianças em Gaza

As crianças são inevitavelmente influenciadas pelas consequências da agressão israelita, pelos níveis crescentes de violência, pela disseminação generalizada de imagens que retratam vítimas e devastação e pelos sons contínuos das explosões”, detalhou Muayad Jouda, um psiquiatra baseado em Gaza.

Ele reforçou que as crianças também podem apresentar sintomas como raiva intensa, choro incessante e ataques prolongados de gritos. Os pequenos podem, ainda, discutir sobre a guerra e até mesmo participar de jogos ou brincadeiras com temas violentos.

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Ansam, que é mãe de duas crianças, disse que viu esses comportamentos em suas filhas, de dois e quatro anos. “Eu as abraço e conforto porque esse é um instinto maternal e porque, como mãe e humana, estou apavorada. Mas em meio aos massacres que vivemos e presenciamos, o bem-estar mental é um luxo. Tudo o que queremos é que eles saiam vivos”, admitiu.

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