Neste fim de semana, duas colunas concordaram com a associação de Javier Milei ao Nazismo. Na coluna de Gustavo González você pode ler:
“Peter Fritzsche, historiador e estudioso dos fenômenos políticos internacionais, em seu livro ‘Dos alemães aos nazistas’, mostra como a combinação de diferentes fatores modifica gradativamente o comportamento de uma sociedade. A alimentação do ódio ao outro durante anos, a síndrome do ‘eu coletivo flagelação’, a crise econômica, o declínio dos partidos tradicionais e, no final, a emergência de um salvador de gestos e oratória espetaculares e agressivos que encarna a necessidade de destruir um sistema e a esperança de construir um outro que trará glória e progresso”.
Sobre o desenvolvimento de Milei, Fritzsche afirmou: “Não encontrei eleitores passivos, assustados ou angustiados, levados de um partido para outro pelas circunstâncias econômicas. Encontrei uma insurreição jovem e enérgica que resiste à esquerda, mas também se recusa a ceder face às elites tradicionais.”
No mesmo dia, foi publicada uma coluna de Beatriz Sarlo uma menção ao romancista alemão Hermann Broch:
“’As massas estão num estado que ainda não atingiu o pânico declarado, que pode ser chamado de pré-pânico , mas onde todos os elementos do pânico, como a minimização do julgamento racional, a completa indiferença aos valores da vida, a complacência em a face das ordens de um Führer já são claramente distinguíveis. É um Estado adequado a cada revolução, à que triunfa e à que é derrotada”. Assim escreveu Hermann Broch, que, como centenas de milhares, passou por momentos ameaçadores e desordenados. Uma diferença não deve ser esquecida: Broch foi um grande pensador, complexo e sutil diante das situações mais difíceis.
No último mês, outros artigos concordaram na comparação entre Milei e o Nazismo. Vários foram publicados no site Perfil.com, mas não é um fenômeno exclusivo de nossas publicações.
Jaime Durán Barba escreveu uma coluna intitulada “O Ovo da Serpente”, na qual afirmava que “os países onde a democracia foi estabelecida são os que mais progrediram em termos económicos, científicos e culturais. São também aqueles em que surgiram e se desenvolveram alguns valores geralmente aceitos na sociedade contemporânea: os direitos das mulheres, o respeito às diferentes raças e culturas, a diversidade sexual, a defesa da vida, do meio ambiente. Existem, no entanto, muitos países autoritários nos quais não existe uma verdadeira democracia e os valores do passado continuam a aplicar-se”.
Durán Barba continua explicando como, nas democracias, se desenvolvem esses “ovos de serpente”. Coincidentemente, o título da contracapa da segunda-feira, 14 de agosto, dia seguinte às eleições, era “O Ovo da Serpente”.
O título refere-se ao filme de Ingmar Bergman lançado em 1977. Em determinado momento do filme, ambientado durante a crise após a Primeira Guerra Mundial e a ascensão de Hitler ao poder no início dos anos 1930. Um cientista nazista explica a um jovem aprendiz o significado da luta do Nacional-Socialismo enquanto eles observam, numa projeção, imagens do povo alemão: “Olhem para essa gente, eles são incapazes de fazer uma revolução, são demasiado humilhados, eles são derrotados. Mas em dez anos, aqueles que agora têm dez anos terão vinte anos, aqueles que agora têm quinze anos terão vinte e cinco. Ao ódio herdado dos pais acrescentarão o seu próprio idealismo. Alguém surgirá para colocar em palavras seus sentimentos, alguém lhes prometerá um futuro, alguém lhes fará exigências, falarão de grandeza e sacrifício. Só então haverá uma revolução e o nosso mundo entrará em colapso em sangue e fogo.”
O diálogo segue: “A velha sociedade baseava-se em ideias enormemente românticas sobre a bondade do homem, era tudo muito complicado, as ideias não correspondiam à realidade. A nova sociedade será baseada em uma avaliação realista do homem, de suas potencialidades e de suas limitações”.
O Discurso de Javier Milei
“Estamos perante o fim do modelo de castas, aquele modelo baseado naquela atrocidade que diz que ‘onde há necessidade nasce um direito’ , mas esquece-se que alguém tem que pagar por esse direito. A expressão máxima disso é aquela aberração chamada justiça social, que é injusta, porque implica um tratamento desigual perante a lei, mas também é precedida de roubo”, foram as palavras pronunciadas pelo candidato de ‘La Libertad Avanza’, no domingo da eleição em seu discurso, depois de conhecer o resultado da eleição.
Poucos dias antes, no final da campanha, Javier Milei afirmou: “No próximo domingo temos a oportunidade de que aquele grito de 2001, o famoso ‘ que se vaya todos ‘, se torne realidade , e mais uma vez abraçaremos o ideias de liberdade”.
Por ocasião do festival Viva 22, organizado pelo partido de extrema-direita ‘Vox’ em Madrid, Milei discursou ao público: “Cada vez que a garra do Estado aparece naquilo que estava a funcionar bem, então começa a funcionar mal, e isso exige mais intervenção, e exige mais Estado e gera pior funcionamento, e assim por diante. O socialismo está crescendo e eles estão roubando a nossa liberdade. Quero deixar a mensagem de que isto não é para os mornos, as soluções intermediárias não são válidas aqui, porque são funcionais para mais socialismo, são funcionais para o comunismo.”
Coincidentemente, a ameaça do comunismo foi o que empurrou o grupo ‘nacional-socialista’ na Alemanha e na Itália. Obviamente, a situação histórica não é comparável, mas há pontos de comparação, que são os que geram tanta divisão na comunidade judaica, com pessoas que veem com grande preocupação o surgimento de Javier Milei.
* Leia a coluna completa em Perfil.com.
* Jorge Fontevecchia é jornalista e CEO do Grupo Perfil.