Desde seu nascimento como nações soberanas, Argentina e Brasil foram destinadas a percorrer juntas o caminho da história. O ex-presidente argentino Roque Sáenz Peña foi quem melhor resumiu o compromisso inicial da Argentina com o Brasil , expressando, durante sua visita ao Rio de Janeiro em 1910, que com nosso vizinho parceiro “tudo nos une e nada nos separa”.
Inicialmente, nossos países se apoiaram em marcos de grande importância para nossa integridade territorial: a Argentina foi o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil em 1822, assim como o Brasil foi o primeiro país a reivindicar a soberania argentina sobre as Ilhas Malvinas em 1833.
Mais tarde, no século XX, inúmeros esforços foram feitos para a integração bilateral, que começou com os encontros presidenciais entre Julio Roca e Campos Salles (1899 e 1900), e se aprofundou com a Declaração de Uruguaiana assinada pelos presidentes Arturo Frondizi e Jânio Quadros, em 1961.
O desejo de integração materializou-se no histórico encontro entre os presidentes Raúl Alfonsín e José Sarney, em Foz do Iguaçu, em 1985. O encontro deu início a um processo que culminou, em 1991, com a criação do Mercosul e da Agência Brasil-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares, dois pilares fundamentais de nossa parceria estratégica com o Brasil e decisivos para a criação de um espaço de paz, comércio e cooperação na região.
Com esse marco, entramos no século XXI junto de importantes acordos bilaterais nos governos de Lula da Silva , Dilma Rousseff, Néstor Kirchner e Cristina Fernández de Kirchner, fortalecendo os mecanismos de cooperação existentes e criando novas instâncias para aprofundar a cooperação bilateral e intra-regional.
Atualmente, estamos diante de um novo contexto global. A crise da globalização exige o fortalecimento da regionalização. O impacto da pandemia, da guerra na Ucrânia e da demanda global por alimentos e energia nos faz refletir sobre nossa estratégia de inserção regional e internacional. Quando falamos nesses termos, devemos partir de nossa ligação com o Brasil como eixo central e da oportunidade de reformular nossa aliança estratégica para alcançar uma maior integração bilateral, que por sua vez fortalecerá a região como um todo.
Temos condições para isso: nossos países representam quase dois terços do território, população e economia da América do Sul. Juntos temos o maior complexo agroalimentar do mundo; juntos somos uma potência energética; juntos somos uma potência industrial automotiva; juntos podemos garantir a soberania energética e alimentar na região e responder às novas demandas globais.
Nesse contexto, neste domingo (02), serão realizadas as eleições presidenciais no Brasil, e por ser nosso maior parceiro, isso nos obriga a acompanhar de perto a evolução de seu processo democrático, com atenção. Agora estão reunidas as condições para avançarmos para uma integração mais ambiciosa entre nossos países.
A primeira etapa da missão que me foi confiada pelo Presidente Alberto Fernández quando me nomeou Embaixador no Brasil consistiu em trabalhar para reconstruir a relação bilateral, concentrando esforços para que o Brasil voltasse a ser nosso principal parceiro comercial, objetivo alcançado com recorde de exportações.
Agora, diante da nova configuração do cenário internacional, nos deparamos com uma oportunidade histórica de desenhar um acordo de integração bilateral renovado com maior profundidade, dotado de uma visão desenvolvimentista e progressista que nos permita ampliar nossas capacidades em benefício de nossos povos e que o mundo exige.
Para isso, desenvolvi um Plano Estratégico que aprofunda a relação bilateral entre Argentina e Brasil, composto pelos seguintes capítulos: integração financeira; enérgico; industrial; agroalimentar; Logística; a infraestrutura; conhecimento econômico; telecomunicações; promoção de investimentos; Facilitação de comércio; promoção das exportações regionais, estaduais, provinciais e PMEs; conectividade e integração aérea; Ciência e Tecnologia; Atlântico Sul; Antártica; assuntos nucleares; assuntos espaciais; defendendo; recursos hídricos compartilhados; questões de fronteira; meio Ambiente; direitos humanos e gênero; Educação; passeios turísticos; cultura e esporte.
Essa agenda de integração e complementaridade com o Brasil fortalece nossa soberania, autonomia energética e alimentar e garante o sucesso perante os desafios no presente e no futuro. Aqui vamos nós.
*Embaixador da Argentina no Brasil.