A agressividade e a violência na disputa política brasileira não são comportamentos inéditos na história do Brasil, diz a professora de história contemporânea da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida de Aquino. Para ela, o fator novo na atual disputa eleitoral está na forma massiva de divulgação das ações violentas por meio das mídias tradicionais ou pelas redes sociais.
“Existem outros momentos na história política brasileira, história republicana, que você teve violência política e violência inclusive em processos eleitorais. Se você for considerar, por exemplo, o pleito para a Presidência da República em 1989, que é o primeiro depois da ditadura, ele foi bastante agressivo, inclusive entre os participantes”, disse Maria Aparecida à Agência Brasil.
História da violência política no Brasil
A história política brasileira tem inúmeros exemplos de situações de violência e agressividade. Na década de 1950, por exemplo, o jornalista e político Carlos Lacerda fazia uma oposição ferrenha a Getúlio Vargas. “Se você pensar numa figura como a de Carlos Lacerda, ele ‘batia no fígado’. Afetava as pessoas de maneira brutal. E isso era uma prática dele. E ele agiu dessa forma e era extremamente violento. Alguns dizem, inclusive, que em 1954, ele foi um dos elementos muito responsáveis pelo episódio que vai levar ao suicídio de Getúlio”, explica a professora.
Por que a violência política parece mais intensa hoje?
Segundo Maria Aparecida, os exemplos históricos mostram que a violênciana disputa política e eleitoral não são práticas distantes do que a sociedade brasileira está vivenciando atualmente. “Só que hoje temos uma coisa que não havia naquela época: você tem uma transmissão direta pela TV, existem as redes sociais e esse processo é bastante aumentado”.
A professora complementa que a novidade está na forma como tudo é mostrado. “Em 1989 você tinha a TV já bastante forte e ativa, mas você não tinha as redes sociais. A situação atual tem o ineditismo dessa questão da forma de divulgação dessa violência política”, diz.
Como combater a agressividade na disputa política?
Na noite do último domingo (15), no debate eleitoral promovido pela TV Cultura com os candidatos à prefeitura da capital paulista, uma discussão entre José Luiz Datena (PSDB) e Pablo Marçal (PRTB) terminou em agressão física. Após uma série de acusações feitas por Marçal contra a reputação de Datena, o candidato do PSDB deu uma cadeirada no candidato do PRTB.
De acordo com a professora, há instrumentos disponíveis à sociedade para o combate de comportamentos agressivos como o registrado no último domingo. No entanto, ela ressalta que esses recursos não estão sendo utilizados.
Maria Aparecida sugere que esses recursos simples e eficazes poderiam amenizar o clima tenso e violento que temos acompanhado nos últimos pleitos. “Temos recursos, sim. É que eles não estão sendo utilizados”, conclui.
Refletir sobre a violência na política brasileira é fundamental para compreender que ela não é uma novidade, mas uma característica que se intensificou com o surgimento das mídias sociais e a ampliação da cobertura midiática. A forma como essas agressões são transmitidas e consumidas pela população acaba potencializando suas consequências e tornando o ambiente político cada vez mais hostil e polarizado.