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As novas vacinas poderão acabar com a malária na África?

Em 22 de Janeiro, profissionais de saúde em Camarões iniciaram a administração das primeiras doses em bebês e crianças menores de cinco anos

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Vacina – Crédito: Reprodução/Youtube

Depois de décadas de pesquisa, em uma iniciativa ampla para erradicar a malária na África, uma nova vacina contra a doença está sendo introduzida em toda a região da África Ocidental. Vale ressaltar que a malária é a segunda principal causa de morte entre crianças no continente.

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Desenvolvida pela farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK) em parceria com a PATH, uma organização de saúde sem fins lucrativos, essa vacina recebeu o nome RTS,S em referência aos genes do parasita a partir dos quais foi produzida. Além disso, há uma segunda vacina chamada R21, aprovada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em dezembro.

Em 22 de Janeiro, profissionais de saúde em Camarões iniciaram a administração das primeiras doses da vacina em bebês e crianças menores de cinco anos. As crianças de Burkina Faso serão as próximas a receberem a vacina, começando neste mês. Ainda, a vacina R21 deve ser lançada dentro de alguns meses. Mas ela está sendo utilizada em alguns países africanos, sendo que Gana foi o primeiro a aprová-la no ano passado.

Essas vacinas foram criadas como parte de uma iniciativa global para combater a malária, uma doença que pode ser fatal para crianças e mulheres grávidas. Vale destacar que quase todos os mais de 200 milhões de casos anuais no mundo ocorrem na África.

A vulnerabilidade dos países africanos 

Dentre os fatores que influenciam na incidência de malária na África, estão padrões climáticos, falta de saneamento e sistemas de saúde pública precários. Em 2022, quase todas as mortes por malária em todo o mundo ocorreram no continente africano. Quatro países – Nigéria (27%), República Democrática do Congo (12%), Uganda (5%) e Moçambique (4%) – representaram quase metade de todos os casos.

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A malária se desenvolve em regiões tropicais, onde as condições climáticas são propícias para o mosquito Anopheles. Lugares alagados e úmidos são os ambientes mais propícios para a reprodução desses insetos. Nesse sentido, durante a estação chuvosa, consequentemente, as taxas de transmissão da malária tendem a aumentar.

Além disso, as famílias que residem em áreas infestadas por mosquitos, e que não têm recursos para adquirir redes mosquiteiras ou inseticidas, muitas vezes suportam o ônus da doença. Os custos dos tratamentos podem ser significativos. Um estudo de Moçambique em 2019 revelou que uma família precisaria gastar aproximadamente 3,46 dólares para tratar um caso simples da doença, mas até 81,08 dólares para tratar um caso grave. Ainda, o rendimento médio mensal de uma família em Moçambique é cerca de 149 dólares.

Eliminação da malária na África até o momento

Três nações africanas já conseguiram eliminar a malária na África. Elas são: Maurício em 1973, Argélia em 2019 e Cabo Verde, que recentemente recebeu certificação da OMS como livre da doença, após não relatar nenhum caso de transmissão por três anos seguidos.

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Mas o esforço é muito grande. Cabo Verde, por exemplo, levou muitas décadas para conquistar a certificação da OMS. A malária afetou todas as 10 ilhas na década de 1950. Por meio de campanhas direcionadas de pulverização de inseticidas, o país declarou-se livre da malária em 1967 e novamente em 1983. Contudo, posteriormente novos casos da doença surgiram mais tarde.

A erradicação global pode ser viável, mas não será alcançada somente por meio de vacinas. Nesse sentido, o bilionário filantropo Bill Gates antecipa que a erradicação pode ocorrer até 2040, com base em metas de eliminação estabelecidas a nível nacional.

Próximos passos

Existe uma demanda muito alta pelas vacinas, o que sugere que a oferta será insuficiente. Segundo a Gavi, uma aliança global que busca disponibilizar vacinas para os países mais pobres, apenas 18 milhões de doses estão atualmente disponíveis para cobrir 12 países até 2025. A quantidade necessária de doses não está clara, tampouco o déficit existente.

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Contudo, considerando que existem 207 milhões de crianças com menos de quatro anos no continente, estima-se que os países africanos precisarão de cerca 40 a 60 milhões de doses contra a malária anualmente até 2026.

As implementações também podem enfrentar obstáculos sociais. No passado, a propagação de rumores de que as vacinas causavam infertilidade em mulheres levou as pessoas a evitarem a vacinação contra a poliomielite. Levar as doses para áreas rurais e remotas, além de garantir um fornecimento de eletricidade adequado para armazená-las em temperaturas frias requeridas, também pode representar desafios significativos.

 * Sob supervisão de Lilian Coelho

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