O uso de cadáveres frescos congelados, também conhecidos como fresh frozen, para treinamento em procedimentos estéticos vem ganhando destaque e gerando debates no Brasil. Esses cadáveres são preservados sem o uso de formol, o que mantém a integridade dos tecidos mais próxima da sua condição natural. Institutos como o Centro de Treinamento em Cadáveres e o ITC promovem cursos com essas técnicas, oferecendo treinamento avançado em preenchimentos e outras aplicações investigativas.
No entanto, a prática levanta questões éticas e legais, especialmente porque a compra e venda de cadáveres é proibida no Brasil. A legislação determina que “o cadáver não reclamado junto às autoridades públicas, no prazo de trinta dias, poderá ser destinado às escolas de medicina”. No entanto, não há políticas claras sobre a doação voluntária para fins de estudo ou sobre a importação para fins de formação estética, criando um vazio legal explorado por essas instituições.
Por que os cadáveres fresh frozen estão sendo utilizados?
No contexto educacional e de treinamento em estética, os cadáveres fresh frozen oferecem vantagens significativas. Eles conservam características dos tecidos que podem se perder em processos de conservação química, permitindo um aprendizado mais realista para estudantes e profissionais. Apesar das controvérsias, muitos especialistas defendem o seu uso por proporcionar uma experiência prática mais próxima da intervenção em um ser humano vivo, o que é vital para a segurança e eficácia das técnicas aplicadas.
A importação de cadáveres frescos para o Brasil é feita principalmente dos Estados Unidos. Algumas famílias americanas doam corpos para a ciência, muitas vezes para aliviar os custos de funerais. Instituições locais, como a Universidade de Indiana e a Universidade da Califórnia-Davis, aceitam estas doações, que podem depois ser enviadas a outros países através de empresas especializadas como a Science Care.
Essas transações, porém, não estão totalmente reguladas por agências brasileiras como a Anvisa ou o Ministério da Educação, o que leva a um entendimento diverso do que é permitido. A legislação atual no Brasil não proíbe explicitamente a importação de corpos para fins educacionais, uma brecha que muitos acabam utilizando.
Para doar seu corpo para fins acadêmicos, é necessário visitar uma universidade que aceite cadáveres e preencher a documentação necessária. Após seu falecimento, a instituição possa reivindicar seu corpo. Não haverá velório, mas a família ainda tem o direito de contestar a doação
— luizaprata (@luizaprata) June 24, 2024
Qual é o impacto legal e ético dessa prática?
O debate sobre a ética e a legalidade da prática envolve profissionais como Henderson Furst, da Comissão de Bioética da OAB. Este aponta à Folha de São Paulo que, embora o Código Civil proíba a comercialização de corpos no Brasil, essa proibição não se aplica a negociações internacionais. Este vácuo legal permite que instituições importem cadáveres para estudo, contornando a ausência de legislação específica.
Há um crescente entendimento entre especialistas de que novas diretrizes são necessárias para garantir que o uso de cadáveres, seja por importação ou doações internas, ocorra dentro de parâmetros éticos aceitáveis e regulamentações claras. Assim, o desenvolvimento de políticas que abranjam todos os aspectos do uso de corpos para fins de ensino será crucial para o futuro desse tipo de educação no Brasil.
Quais são os desafios e as considerações futuras?
Apesar das preocupações, a utilização de cadáveres fresh frozen continua a ser uma ferramenta valiosa para o ensino de habilidades práticas em procedimentos médicos e estéticos. A principal dificuldade reside em conciliar a necessidade educacional com uma regulamentação que ainda não está bem definida. O diálogo entre instituições educacionais, órgãos reguladores e a sociedade é essencial para evoluir para um consenso que respeite tanto as questões éticas quanto as demandas de um treinamento eficaz.
Com a crescente demanda por inovação no campo da estética, espera-se que a regulamentação sobre o uso de cadáveres, tanto nacionais quanto importados, evolua para refletir esses novos tempos, permitindo que o Brasil acompanhe os avanços globais de forma legal e eticamente sustentável.