TECNOLOGIA ESTRANGEIRA

Cadeirantes testam novos exoesqueletos que permitem ‘caminhar’

Equipamentos acabam de chegar ao Brasil e estão sendo avaliados na Rede Lucy Montoro, em São Paulo

Pacientes da Rede de Reabilitação Lucy Montoro foram os primeiros a utilizar exoesqueletos de nova geração recém-chegados do exterior.
Helena Torres Souza testa o equipamento com a ajuda de fisioterapeuta – Crédito: Reprodução/TV Globo

Na última quinta-feira (14), equipes da Folha de São Paulo e do Fantástico, da TV Globo, puderam acompanhar os primeiros pacientes da Rede de Reabilitação Lucy Montoro a utilizar exoesqueletos de nova geração recém-chegados do exterior. São dois novos modelos: o Atalante X, da francesa Wandercraft, que ganhou destaque quando foi testado pela senadora Mara Gabrilli (PSD), e o exoesqueleto da ExoAtlet, empresa russa adquirida em 2018 por uma companhia sul-coreana. Segundo a Folha, também está em negociação a vinda de um modelo chinês.

Publicidade

“Trazer todos eles para nós experimentarmos qual é a melhor opção para cada tipo de limitação funcional é nosso primeiro desejo. Depois, conhecendo todos esses exoesqueletos, queremos identificar um modelo que seja flexível, sirva a um grande número de pessoas com limitações funcionais e que possa ser construído no território brasileiro”, diz Linamara Rizzo Battistella, presidente do Conselho Diretor do Instituto de Medicina Física e Reabilitação da USP e ex-secretária estadual de Direitos da Pessoa com Deficiência em entrevista à Folha.

O desejo de um equipamento nacional conta com os esforços de muitos profissionais e a expertise de anos trabalhando com o Lokomat, um exoesqueleto de geração anterior, mas depende principalmente dos feedbacks e resultados dos pacientes.

“Primeiro o pé direito”, avisa a fisioterapeuta que acompanha o teste com o Atalante e atua na configuração do equipamento para cada usuário. Com a ajuda de dois profissionais e da máquina, Helena Torres Souza, de 70 anos, —acometida de um tumor cerebral que afetou a mobilidade dos membros— fica em pé e dá os primeiros passos. Após alguns minutos de treino, caminha em direção ao marido e os dois se abraçam de pé. “Você sente que está andando, não parece que é uma máquina que está ajudando”, afirma Helena após o exercício.

Levi Silva Castro, 25, que lesionou algumas vértebras do pescoço em um acidente de moto, também testou o ExoAtlet. O aparelho é configurado com suas medidas e os primeiros passos são dados com apoio de um andador. Na sequência, este é substituído por muletas.

Publicidade

Ao contrário do Atalante, que tem um suporte de tronco mais alto, sensor de movimento no pescoço e 12 motores, o ExoAtlet é mais baixo, seus sensores estão localizados nos joelhos e no quadril e há quatro motores, compara o fisioterapeuta Rafael Francisco Vieira de Melo. “No exoesqueleto sul-coreano, o paciente precisa ter força nos membros superiores”, acrescenta.

Nos dois casos, os movimentos são monitorados por tablets. A tela permite configurar a ação —levantar, andar ou rotacionar, por exemplo— e mostra dados do paciente em tempo real. No caso de Levi, os batimentos cardíacos chegaram a 120 por minuto e, ao final, contrações musculares involuntárias (espasmos) e suor evidenciavam o esforço.

“Para mim, é tão grande e tão importante viver essas experiências. Eu não ando e ficar em pé é algo que é importante. É importante para a minha reabilitação e para o meu corpo”, avalia.

Publicidade

São vários os benefícios, explica André Sugawara, médico fisiatra da Rede de Reabilitação Lucy Montoro. “A tecnologia não traz a cura da lesão medular, de um AVC ou da paralisia cerebral, infelizmente. Mas temos outras coisas a comemorar com esses equipamentos. Eles ajudam a diminuir a osteoporose, a melhorar problemas intestinais, urinários, inclusive de movimentação, de condicionamento cardiovascular, e melhoram o bem-estar”, diz o médico.

Além disso, apesar de parecerem terapias exclusivamente motoras, elas ativam as vias neurológicas para a realização dos movimentos. “O cérebro tem que pensar no movimento que você vai fazer, então o cérebro cansa mais do que as pernas”, confirma Helena. Após o teste, ela sonha que um dia seja possível levar o equipamento para casa.

Levi é mais cauteloso. Ele ressalta que se trata de um incremento no processo de reabilitação e o desejo é ver as equipes e os aparelhos se espalharem para outras unidades do SUS (Sistema Único de Saúde), chegarem à periferia, ao hospital da zona leste em que ouviu violências como “levanta e anda” e “para de graça”. “Minha dor não era validada”, recorda.

Publicidade

“Eu sabia que existia a Rede Lucy Montoro, toda equipada. E era tão distante porque eu estava lá na cama, lá em São Mateus. E eu sabia que eu precisava disso. Hoje estou aqui dentro, faço a reabilitação com vários profissionais, só que quantos outros Levis não estão esperando na fila? Quantos outros Levis não têm acesso a isso?”, questiona o rapaz, membro da Uneafro Brasil e do Movimento Vidas Negras Com Deficiência Importam.

*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini

Publicidade

Assine nossa newsletter

Cadastre-se para receber grátis o Menu Executivo Perfil Brasil, com todo conteúdo, análises e a cobertura mais completa.

Grátis em sua caixa de entrada. Pode cancelar quando quiser.