Uma pesquisa recente, publicada no The New England Journal of Medicine, revelou que a Covid-19 prolongada pode estar associada a um declínio mensurável na função cognitiva, especialmente em áreas como memória, raciocínio e planejamento. O estudo examinou os resultados de testes cognitivos realizados em uma amostra significativa de quase 113.000 pessoas na Inglaterra.
Cerca de 46.000 deles, ou 41%, disseram que nunca tiveram Covid. Outras 46.000 pessoas que foram infectadas pelo coronavírus disseram que sua doença durou menos de quatro semanas.
Os resultados indicaram que os indivíduos que apresentavam sintomas persistentes pós-Covid pontuaram cerca de seis pontos de QI mais baixos do que aqueles que nunca contraíram o vírus. Mesmo entre os infectados que já não manifestavam sintomas, houve uma pontuação de cerca de três pontos de QI mais baixa em comparação com os não infectados, mesmo que a duração da doença tenha sido breve. Ao Globo, o neuropsicólogo James C. Jackson, comentou sobre o estudo: “Essas descobertas emergentes e coalescentes geralmente destacam que sim, há comprometimento cognitivo em sobreviventes da Covid longa é um fenômeno real”.
Embora os especialistas ressaltem que esses resultados não implicam necessariamente que a infecção pelo coronavírus ou o desenvolvimento da Covid prolongada causem déficits graves no pensamento e na função cognitiva, eles destacam a importância dessas descobertas. Os resultados fornecem evidências numéricas para os problemas cognitivos que muitos enfrentam como sequela da doença, como a névoa cerebral e dificuldades de memória.
Uma descoberta encorajadora do estudo foi a sugestão de que, se os sintomas da Covid diminuírem ao longo do tempo, o comprometimento cognitivo também pode diminuir. Pessoas que se recuperaram após meses de sintomas alcançaram pontuações cognitivas semelhantes àquelas que tiveram uma recuperação mais rápida.
No entanto, permanecem questões sobre os efeitos de longo prazo desses pequenos déficits cognitivos, incluindo seu impacto potencial no risco de demência mais tarde na vida. Além disso, os pesquisadores também estão explorando outros fatores que podem influenciar as pontuações cognitivas em pacientes com Covid, visando uma compreensão mais completa dos impactos da doença.
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini