SAÚDE MENTAL

Insônia pode ser sintoma de depressão, diz estudo

A pesquisa examinou a relação entre o risco genético para problemas de sono e sintomas de depressão em pessoas de 20 a 80 anos

A pesquisa examinou a relação entre o risco genético para problemas de sono e sintomas de depressão em pessoas de 20 a 80 anos.
Insônia mão pode mais ser considerado sintoma secundário da depressão – Créditos: Canva

Um estudo inédito conduzido por pesquisadores do Instituto do Sono concluiu que a insônia não é apenas um sintoma secundário da depressão, mas uma parte integral da doença mental. A pesquisa examinou a relação entre o risco genético para problemas de sono e sintomas de depressão em uma amostra do Estudo Epidemiológico do Sono de São Paulo, que incluiu pessoas entre 20 e 80 anos.

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Os participantes foram submetidos a avaliações clínicas, polissonografia noturna completa e responderam a um conjunto de questionários sobre sono. Amostras de sangue também foram coletadas para extração de DNA e genotipagem dos voluntários, com o objetivo de calcular o risco genético para problemas de sono e sintomas depressivos. Os resultados foram apresentados na 38ª Reunião Anual das Sociedades Profissionais Associadas de Sono, realizada em junho nos Estados Unidos.

A privação de sono pontual não potencializa o desenvolvimento da depressão, mas a insônia crônica sim”, explicou Mariana Moysés Oliveira, uma das responsáveis pelo estudo, em entrevista à Agência Brasil. “Em pessoas com sintomas depressivos graves, a insônia está relacionada com a falta de resposta aos tratamentos para depressão. Pessoas com insônia correm mais risco de desenvolver depressão no futuro”.

Segundo Mariana, as descobertas são inéditas. A insônia e os sintomas depressivos partem de origens genéticas muito parecidas, indicando que problemas de sono não podem ser tratados como algo secundário em pessoas com depressão. Para chegar a essa conclusão, foi utilizado um modelo estatístico chamado escore poligênico, que permite prever o risco para doenças complexas ao considerar milhares de variantes genéticas.

“A análise, baseada em estudos de associação do genoma completo para depressão e insônia, indicou que os escores poligênicos foram eficazes em alocar os indivíduos em grupos de alto e baixo risco para problemas de sono e depressão”, destacou Mariana. “Pessoas com má qualidade de sono tendem a apresentar sintomas depressivos mais graves. Quanto maior o risco genético para queixas de sono, maior o risco genético para sintomas depressivos. Os genes que contribuíram para os escores poligênicos se sobrepuseram, indicando uma forte correlação genética entre essas condições”.

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Mariana ressaltou que os resultados podem ser úteis para a saúde pública, permitindo o estabelecimento de políticas que promovam a identificação precoce e o tratamento integrado dessas condições. “As pesquisas podem levar a novos protocolos clínicos que abordem de forma integrada a saúde mental e a qualidade do sono, abrindo caminhos para uma compreensão mais profunda das causas desses problemas de saúde. Além disso, usar dados genéticos para prever a predisposição permite identificar pessoas em risco antes mesmo que os sintomas se manifestem”.

A pesquisa também destacou que as doenças geralmente se manifestam por uma combinação de fatores genéticos e ambientais. “Para doenças comuns, não conseguimos atribuir um único gene. O risco genético é determinado por diversas, muitas vezes milhares de variações genéticas. Apenas quando avaliamos o conjunto dessas variações podemos calcular o risco genético”, explicou Mariana.

Com uma amostra epidemiológica, é possível identificar variações genéticas que podem ser usadas como biomarcadores de risco. Entendendo as conexões genéticas, é possível desenvolver tratamentos que atacam as causas das doenças, não apenas os sintomas, reduzindo a chance de recaídas.

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