O Rio Grande do Sul estima que o número de pessoas com leptospirose decorrente das enchentes deve chegar a mil até o fim da calamidade, com duas mortes e 19 casos confirmados. As autoridades temem o aumento de doenças infecciosas e contagiosas, monitorando quadros de tétano, hepatite A, ataques peçonhentos, diarreia, sarna, piolho e síndromes respiratórias como gripe e Covid-19. A situação pode piorar com a redução do nível das águas.
A maior preocupação do estado no momento é a leptospirose, transmitida pelo contato direto ou indireto com a urina de animais infectados pela bactéria Leptospira, muito comum entre ratos. As duas primeiras mortes que acenderam o alerta no estado foram registradas na última sexta-feira (17) pelas secretarias de Saúde dos municípios de Travesseiro e Venâncio Aires. O amplo contato com a lama e a água aumenta a exposição da população à doença.
Tani Ranieri, diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde do estado, em entrevista ao jornal O Globo, aponta que 15% dos casos têm demanda de internação. “Nossa estimativa com base na experiência do ano passado (durante as enchentes de setembro) nos municípios afetados é de mil casos confirmados de leptospirose durante a calamidade. O número deve ser maior porque nem todos chegam ao sistema de saúde”, afirma.
Eldo Gross, de 67 anos, foi a primeira vítima da doença. Ele deu entrada no hospital de Marques de Souza na terça-feira da semana passada (14), de onde foi transferido para uma unidade de internação. A morte foi confirmada na sexta-feira. Para evitar novas contaminações e mortes, Tani explica que a recomendação é que a população use botas de cano alto, calças, use luvas ou outras formas de proteção ao fazer limpezas e não leve as mãos à boca e aos olhos.
Saiba quais são as doenças pós-enchente
A leptospirose, principal doença das enchentes, pode ser letal se não tratada a tempo, mas não é a única preocupação; existem mais de 20 doenças que podem afetar as vítimas das enchentes. A Secretaria Estadual da Saúde no Rio Grande do Sul divulgou uma nota técnica recomendando a quimioprofilaxia, com avaliação médica, contra a leptospirose para pessoas expostas à água de enchente por período prolongado, como equipes de resgate e voluntários. A recomendação foi publicada em conjunto com a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
🚨 O Laboratório Central do Estado acaba de confirmar o primeiro óbito por leptospirose após o início da calamidade que asola o Rio Grande do Sul. Amostra do material havia sido entregue para o Lacen, nesta segunda-feira. Paciente do município de Travesseiro.
— Secretaria Estadual de Saúde do RS (@SaudeGovRS) May 20, 2024
A hepatite A, embora não tenha recomendação do SUS, pode ser combatida com uma vacina disponível para crianças a partir de 1 ano e 3 meses. É crucial também tomar cuidado com os animais peçonhentos, como cobras e escorpiões, que buscam abrigo em locais secos.
De acordo com a médica infectologista Amanda Nazareth Lara, em entrevista ao Jornal da USP, a aglomeração de pessoas nos alojamentos requer maior atenção. Especialmente com os vírus respiratórios circulando no país desde o início do ano, como a influenza, H1N1, Covid-19 e vírus sincicial respiratório.
Muitos animais domésticos, como cães e gatos, estão sendo resgatados nas águas contaminadas, e a infectologista alerta para o cuidado com a raiva em caso de mordida. Outra preocupação é a dengue, que pode se alastrar devido às águas paradas. A expectativa é que as baixas temperaturas interrompam o ciclo do mosquito. Uma orientação importante é o tempo de incubação dessas doenças, que pode variar os sintomas em até um mês.
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini