Idosos LGBTs têm mais dificuldades em acessar os serviços públicos de saúde e sofrem com uma dupla discriminação: homofobia e etarismo.
O acesso à saúde vai muito além de entrar por uma porta em qualquer unidade de serviço da rede pública, pois existem considerações que devem ser feitas: se esta unidade é perto, se tem estrutura adequada, quais são os remédios de graça, qual o horário de atendimento, a qualidade do atendimento às pessoas, entre outras tantas.
O médico geriatra, Milton Crenitte, afirma que são várias as dinâmicas que influem no acesso à saúde. “A maneira como qualquer pessoa percebe a disponibilidade do serviço vai impactar na nossa decisão de procurar este serviço de saúde”, explica.
A partir desta análise, “a gente vai pensar nas barreiras de acesso à saúde da população LGBT. São inúmeras. Principalmente experiências prévias negativas e o medo de sofrer discriminação por parte de alguns funcionários”.
Milton também é coordenador do Ambulatório de Sexualidade da Pessoa Idosa do Hospital das Clínicas (vinculado à Faculdade de Medicina da USP).
O geriatra realizou uma pesquisa com cerca de 7 mil pessoas em todo o Brasil para a finalização de seu curso de doutorado. “Eu consegui comparar os dados de pessoas 50 anos + LGBTs com um grupo não LGBT”.
Os dados revelaram que a população idosa LGBT sinalizou haver maiores dificuldades no acesso à rede pública. “53% não acham ou não acreditam que os profissionais de saúde sejam capacitados para lidar com suas particularidades de saúde”. Ele afirma, então, que esta é mais uma barreira ao correto acesso à saúde por parte dos LGBTs 50+.
O geriatra também chama atenção para um dado importante que incide diretamente em parte da população idosa LGBT: uma volta ao armário.
Este retorno se dá, principalmente, por uma “lgbtfobia” estrutural no país. O geriatra cita o exemplo que se alguém desta população idosa precisa de cuidados diários “será que a instituição vai te acolher você sendo uma pessoa LGBT? Ou será que você vai ter que entrar no armário para ser acolhido e bem tratado?”.
Alguns idosos apresentam problemas cognitivos, como demência, com o passar dos anos. “Será que o profissional vai respeitar a identidade deste LGBT?”, questiona Milton.
“Só que, infelizmente, quando chega à velhice, boa parte dos serviços profissionais não está capacitada, ou ainda exerce preconceitos que faz que a pessoa volte ao armário para ser acolhida”, explica o médico.
Cada um dos idosos LGBTs tem uma biografia diversa e uma linha do tempo única. A função dos profissionais de saúde é respeitar esta pessoa. Crenitte finaliza afirmando que “no Brasil envelhecer com direitos ainda não é um direito de todos”.