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Dia do Imigrante: instituto capacita estrangeiros através da gastronomia sustentável

Aulas do Instituto Capim Santo servem para integrar, capacitar e praticar o idioma de estudantes de baixa renda; cursos ocorrem em diferentes unidades espalhas pelo Brasil

imigrante
No dia do imigrante, conheça a história do Instituto Capim Santo, que capacita imigrantes através da culinária – Créditos: Reprodução/Canva

“Imigrante”, segundo o Museu da Imigração do Estado de São Paulo, é aquele que saiu de um país para entrar em outro. Trata-se da pessoa que se deslocou a um novo lugar, e lá permaneceu.

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O imigrante no Brasil

De acordo com o Portal da Imigração, o Brasil possui 1,5 milhão de imigrantes. Deste total, aproximadamente 650 mil são refugiados ou solicitantes de refúgio. Entretanto, somente 228,7 mil estavam inseridos no mercado de trabalho formal ao final de 2021.

Em 2022, dados oficiais indicam que mais de 35 mil vagas foram criadas. Entre contratações e desligamentos, houve aproximadamente 307,6 mil movimentações. Pode parecer pouco, mas, comparado à recepção de imigrantes em outros países, o Brasil apresenta um mercado aquecido.

Por outro lado, uma pesquisa realizada pela ONG Visão Mundial neste ano indica que 67,4% dos imigrantes do país não estão inseridos no mercado de trabalho como um todo. Muitos estrangeiros têm dificuldade na hora de regularizar sua documentação e aprender o idioma.

Tempero brasileiro

Esse foi o caso de Nneka Lois Aniemeka, nigeriana de 30 anos. Ela chegou no Brasil grávida, em maio de 2017, acompanhada do marido. Sua primeira dificuldade foi o idioma. “Meu marido até comprou um dicionário para mim”, lembra, entre risadas. Porém, ela também enfrenta o desafio da busca por emprego. Por isso, começou a dar aulas de inglês para obter um complemento de renda.

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Atualmente, ela é aluna do Programa Cozinha do Amanhã, realizado pelo Instituto Capim Santo (ICS). Originalmente criada pela Chef Morena Leite para disseminar a culinária francesa no Brasil, a instituição foi adaptando seu propósito às novas demandas. Hoje, o seu principal objetivo é conectar pessoas em situação de risco e vulnerabilidade por meio da democratização da gastronomia.

A fim de incentivar a mobilidade social, oferecem diferentes projetos, como o curso do qual Nneka faz parte. “É um trabalho de transformação social, onde os professores são conectores e há encaminhamento para o mercado de trabalho”, explica Luccio Oliveira, presidente do ICS. “Trazemos aprendizados como disciplina, inteligência emocional, e rotina”.

Nas salas de aula de uma universidade em São Paulo, cerca de 30 alunos de baixa renda se reúnem três vezes por semana para aprender sobre gastronomia na prática. Os estudantes do curso gratuito têm aulas de carnes, molhos, ovos, entre outros ingredientes e técnicas especializadas para atuar no mercado da gastronomia.

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No decorrer dos 13 anos de atuação do programa, já foram mais de 7.500 alunos formados em diversas unidades espalhadas pelo Brasil. Conforme o próprio instituto, 80% dos formandos permaneceram na área de gastronomia, tanto como funcionário quanto empreendedor.

Comida é união

A gastronomia parece ser capaz de romper com barreiras geográficas. Pelo menos é o que diz Oliveira. Na visão do presidente do instituto, o ato de cozinhar vai muito além da comida. “É a capacidade de nutrir o corpo e a alma, de nutrir o coração”, diz admirado. “É um prazer receber nossos irmãos de fora”.

A aluna Nneka concorda sobre a universalidade da gastronomia. Todos nós precisamos da comida e da água. Temos isso em comum, independente do país”, afirma. Até agora, seu aprendizado favorito foi a feijoada. “Vou levar tudo para lá para fazer e apresentar para todo mundo”, conta, sorridente. Quando vivia na Nigéria com sua família, não tinha interesse no trabalho da sua mãe, que também é chef. No entanto, tem trilhado um caminho parecido no Brasil.

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Oliveira acredita que a hospitalidade brasileira é uma herança cultural e, simultaneamente, histórica. O Brasil é um país muito acolhedor. Já recebeu imigrantes italianos, franceses, japoneses africanos e mais. Temos, aqui, o elemento da mistura. É algo que faz parte da nossa cultura”, explica. Toda essa influência, segundo ele, acaba aparecendo na diversidade da culinária brasileira. “A gente pega coisa emprestada dos nativos, dos europeus e dos nossos irmãos africanos”.

Para Nneka, a cozinha brasileira e nigeriana se aproximam no uso do feijão e do óleo de dendê. Vatapá e Acarajé são alguns pratos familiares para a imigrante. Ainda assim, ela reconhece que o caminho até a normalidade é longo.

“O Brasil é um país muito receptivo. Ninguém é imigrante porque quer, mas tenho oportunidades aqui que eu não teria no meu país”, reflete. Apesar da hospitalidade brasileira, ela relata dificuldade para ingressar no mercado de trabalho. Seu sonho é conseguir um emprego na área de confeitaria.

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