Uma tecnologia inovadora que utiliza os próprios mosquitos para disseminar larvicidas conseguiu reduzir em 29% a incidência de dengue em bairros de Belo Horizonte (MG). Essa estratégia também resultou em uma queda de 21% nos casos em regiões vizinhas.
O projeto foi desenvolvido por institutos da Fiocruz Amazônia e da Fiocruz Minas, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, e seus resultados foram publicados na respeitada revista científica The Lancet Infectious Diseases. A abordagem envolveu a instalação de estações disseminadoras de larvicidas (EDLs) em diversos bairros da cidade.
As EDLs são dispositivos simples que consistem em recipientes com dois litros de água parada contendo o larvicida piriproxifeno. O produto atrai as fêmeas do mosquito Aedes aegypti, para que depositem seus ovos no recipiente. A substância fica impregnada em um tecido sintético que cobre o pote, aderindo ao corpo das fêmeas, que posteriormente transportam o larvicida para outros criadouros.
Essa estratégia interrompe o ciclo de vida dos mosquitos ao afetar ovos e larvas em diferentes locais, inclusive em criadouros que muitas vezes não são alcançados pelas ações tradicionais de controle. Exemplos incluem prédios fechados, terrenos baldios ou locais muito pequenos.
Quais foram os resultados da tecnologia contra dengue?
A intervenção com as EDLs foi implementada ao longo de dois anos (de novembro de 2017 a dezembro de 2019) em nove bairros de Belo Horizonte. Nove bairros adjacentes foram designados como “área tampão” e os 258 bairros restantes da cidade como área de controle. Baseado nos registros de notificação de dengue, foi estimado que em um cenário de surto de 100 mil casos, a estratégia poderia reduzir a pressão sobre o sistema de saúde em ao menos 29 mil casos sintomáticos de dengue.
Embora os resultados sejam promissores, Belo Horizonte não está atualmente utilizando as EDLs. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a permanência das estações na capital foi estipulada pela Fiocruz. Entretanto, a cidade está em negociações com o Ministério da Saúde para avaliar a viabilidade de retomar o uso dessa ferramenta no combate à dengue.
Os pesquisadores estão agora planejando replicar os ensaios de campo em outras cidades e examinar a possibilidade de utilizar larvicidas alternativos com a tecnologia das EDLs. Isso é essencial, considerando que pode haver a eventual aparição de vetores resistentes ao piriproxifeno.
Outras iniciativas em andamento
Em abril deste ano, o Ministério da Saúde lançou um plano de ação para reduzir os impactos das arboviroses, incluindo a expansão do uso das EDLs para controlar a dengue nas periferias brasileiras. Inicialmente, 17 municípios de todas as regiões do país receberão as armadilhas.
Além disso, o Ministério da Saúde tem expandido o método Wolbachia, que envolve uma bactéria que impede o desenvolvimento dos vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela nos mosquitos, contribuindo para a redução dessas doenças.
O Brasil fechou o ano de 2023 com um recorde de mortes por dengue, totalizando 1.094 vidas perdidas, segundo dados do Ministério da Saúde. No primeiro semestre de 2024, o país viveu uma explosão de casos de dengue, com 6,1 milhões de casos prováveis e um total de 4.200 mortes.
Este projeto é uma parceria com a Umane, uma associação que apoia iniciativas na área de saúde pública, indicando o compromisso contínuo com a inovação e a eficácia na luta contra a dengue.