NOTA DE REPÚDIO

“Demonizaram a polícia”, dizem delegados de SP sobre desfile da Vai-Vai

A escola de samba teve como enredo deste ano “Capítulo 4. Versículo 3 – Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano”

O desfile da Vai-Vai na noite do último sábado (10) no Sambódromo do Anhembi gerou uma repercussão negativa por parte dos delegados de polícia de São Paulo.
“Demonizaram a polícia”, dizem delegados de SP sobre desfile da Vai-Vai – Créditos: Reprodução / Escola de Samba Vai-Vai

O desfile da Vai-Vai na noite do último sábado (10) no Sambódromo do Anhembi gerou uma repercussão negativa por parte dos delegados de polícia de São Paulo. O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) divulgou uma nota de repúdio.

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A Vai-Vai teve como enredo deste anoCapítulo 4. Versículo 3 – Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano“. A escola cantou sobre os locais ocupados por pessoas negras e a sua importância na criação e manutenção do rap e no hip-hop. 

O sindicato que representa a categoria afirma que a escola “tratou com escárnio a figura de agentes da lei“. “Com direito a chifres e outros itens que remetiam à figura de um demônio, as alegorias utilizadas na ala Sobrevivendo no Inferno, demonizaram a polícia“, diz a nota. 

O Sindpesp aguarda que a Vai-Vai, num momento de lucidez e de reflexão, reconheça que exagerou e incorreu em erro na ala em questão, e se retrate, publicamente“, afirma o documento.

Confira a nota na íntegra enviada à redação de Perfil Brasil.

Nota de repúdio SINDPESP 

O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) manifesta, veementemente, repúdio ao Grêmio Recreativo Cultural e Social Escola de Samba Vai-Vai, que, na noite de sábado (10/2), no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo-SP, durante seu desfile, tratou com escárnio a figura de agentes da lei.

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Com direito a chifres e outros itens que remetiam à figura de um demônio, as alegorias utilizadas na ala “Sobrevivendo no Inferno”, demonizaram a Polícia – algo que causa extrema indignação.

Ao adotar tal enredo, a escola de samba, em nome do que chama de “arte” e de liberdade de expressão, afronta as forças de segurança pública, desrespeita e trata, de forma vil e covarde, profissionais abnegados que se dedicam, dia e noite, à proteção da sociedade e ao combate ao crime, muitas vezes, sob condições precárias e adversas, ao custo de suas próprias vidas e famílias.

É de se lamentar que o Carnaval seja utilizado para levar ao público mensagem carregada de total inversão de valores e que chega a humilhar os agentes da lei.

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O Sindpesp não compactua com este tipo de manifestação e presta solidariedade aos profissionais da segurança pública de todo o País – estes, sim, verdadeiros heróis, que merecem homenagens, reconhecimento e mais respeito por parte da agremiação, para dizer o mínimo.

Outrossim, o Sindpesp aguarda que a Vai-Vai, num momento de lucidez e de reflexão, reconheça que exagerou e incorreu em erro na ala em questão, e se retrate, publicamente. Não estamos falando, afinal, apenas dos policiais, sejam civis ou militares, mas, sobretudo, de uma instituição de Estado que representa e está a serviço de toda a sociedade bandeirante.

Jacqueline Valadares
Presidente
Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp)

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O que diz a Vai-Vai

A Vai-Vai disse em nota que o enredo do Carnaval deste ano “tratou-se de um manifesto, uma crítica ao que se entende por cultura na cidade de São Paulo, que exclui manifestações culturais como o hip hop e seus quatro elementos – breaking, graffiti, MCs e DJs”. Também afirma que o desfile “buscou homenagear e dar vez e voz aos muitos artistas excluídos que nunca tiveram seu talento e sua trajetória notadamente reconhecidos”.

Segundo a escola, “nesse contexto, foram feitos, ao longo do desfile, uma série de recortes históricos, como a semana de arte de 1922 e o lançamento do álbum Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MCs, em 1997”.

A nota ainda aponta que, segundo a revista Rolling Stone Brasil, “que ranqueou o álbum na 14ª posição da lista dos 100 melhores discos da música brasileira, ‘Sobrevivendo no Inferno colocou o rap no topo das paradas, vendendo mais de meio milhão de cópias. Racismo, miséria e desigualdade social — temas cutucados nos discos anteriores — são aqui expostos como uma grande ferida aberta, vide Diário de um Detento, inspirada na grande chacina do Carandiru’”.

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Ou seja, a ala retratada no desfile de sábado, da escola de samba Vai-Vai, à luz da liberdade e ludicidade que o Carnaval permite, fez uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais MCs, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação, mas sim uma ala, como as outras 19 apresentadas pela escola, que homenageiam um movimento”, explica a escola.

Vale ressaltar que, nesse recorte histórico da década de 1990, a segurança pública no estado de São Paulo era uma questão importante e latente, com índices altíssimos de mortalidade da população preta e periférica. Além disso, é de conhecimento público que os precursores do movimento hip hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundo, sofrendo repressão e, sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado pra época. Ou seja, o que a escola fez, na avenida, foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto que eles ocorreram, no enredo do desfile”, finaliza a Vai-Vai.

*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini

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