Dez anos após tragédia, Região Serrana sedia governo do Rio por 3 dias

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A sede do governo do estado do Rio de Janeiro será transferida por três dias para a Região Serrana para marcar os dez anos das chuvas torrenciais que causaram enchentes e deslizamentos de terra em janeiro de 2011. Segundo dados oficiais, na época 918 pessoas morreram. Além disso, 30 mil moradores ficaram desalojados. O episódio é considerado um dos maiores desastres socioambientais do país.

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Os três municípios mais atingidos na tragédia serão capitais do estado por um dia no início da próxima semana. Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis sediarão o governo, respectivamente, neste domingo (10), na segunda-feira (11) e na terça-feira (12). A transferência da sede do executivo estadual consta em decreto assinado na última terça-feira (5) pelo governador em exercício, Cláudio Castro. Também foi instituído luto oficial nos três dias.

Na agenda de atividades da comitiva liderada pelo governador, constam um sobrevoo pelos municípios mais atingidos, visitas a locais simbólicos, reunião com vítimas da tragédia, encontro com prefeitos e vistoria de obras de unidades habitacionais. 

De acordo com o governo, será um momento para ouvir demandas dos municípios e de suas populações e discutir ações para prevenção de novas tragédias. Também estão previstos atos ecumênicos em memória às vítimas, homenagem aos bombeiros que trabalharam nas operações de resgate e anúncio de melhorias para a região.

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Tragédia em Nova Friburgo completa 10 anos
Tragédia em Nova Friburgo completa 10 anos

Tragédia que também atingiu Nova Friburgo completa 10 anos em janeiro – Tânia Rêgo/Agência Brasil

Temporal

O temporal de 11 de janeiro de 2011 foi previsto pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Um aviso meteorológico especial foi emitido para o governo estadual por volta de 16h20. Frei Marcelo Toyansk, que se incorporou por cinco anos à coordenação da Associação de Vítimas da Tragédia de Teresópolis (AVIT), conta que os sinais de devastação perduraram no tempo. 

“Campo Grande foi o bairro mais afetado. Fui muitas vezes lá. O bairro parecia ter passado por uma guerra. Pedras enormes rolaram lá de cima sobre as casas. No bairro viviam centenas de famílias”, lembra.

Toyansk acredita que, diante do tamanho da tragédia, nem todos as mortes estão oficialmente registradas e avalia que o sofrimento foi agravado com os desdobramentos do episódio, que incluíram morosidade no reassentamento, dificuldade na liberação de recursos, o atraso nas obras e falta de atendimento psicológico adequado, entre outros problemas. 

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“Não é a chuva a vilã. É um problema estrutural mais complexo. Ter toda essa população em área de risco é resultado de um caos social e político. E mesmo após a tragédia houve um descaso muito grande, que gerou mais sofrimento. Muitas vítimas continuaram vivendo em área de risco por muito tempo”, disse.

Vista do Morro do Bumba, onde casas à beira da cratera ainda ameaçam desabar
Vista do Morro do Bumba, onde casas à beira da cratera ainda ameaçam desabar

Vista do Morro do Bumba, em Niterói, onde deslizamentos atingiram várias casas – Arquivo/Vladimir Platonow/Agência Brasil

Reassentamento

Segundo relata Toyansk, muitos dos atingidos de Teresópolis foram reassentados em unidades populares entregues em 2016. Essa era considerada a demanda principal da AVIT, pois inúmeras vítimas entendiam que só com um novo imóvel poderiam reconstruir suas vidas. Havia exceções, pois alguns desalojados preferiam ser indenizados. Enquanto as situações individuais não se resolviam, cada família precisou se virar com o aluguel social, um repasse financeiro do governo estadual.

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“Muitas pessoas perderam tudo, literalmente. Perderam seus parentes, casa e documentos. Muitas ficaram doentes. Receber o apartamento era fundamental para pelo menos sair da situação do aluguel social, que não era suficiente, e, dessa forma, a pessoa acaba indo para outra área de risco, vivendo com medo das chuvas”, acrescenta Toyansk. Ele destaca, porém, que não sabe dizer se todas as vítimas foram contempladas. De acordo com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, 819 famílias ainda recebem o aluguel social atualmente.

Após a tragédia, o governo estadual e federal prometeram conjuntamente 4.707 mil unidades habitacionais para socorrer as vítimas de toda a Região Serrana. Segundo a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Obras (Seinfra), foram entregues até hoje 4.219, das quais 2.337 em Nova Friburgo, 1.600 em Teresópolis, 222 em Bom Jardim, 50 em Petrópolis e 10 em São José do Vale do Rio Preto. 

Ao todo, já teriam sido investidos R$ 521,5 milhões, sendo R$ 302 milhões liberados pelo governo federal e outros R$ 291,5 milhões vieram dos cofres estaduais.

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“Estamos finalizando a infraestrutura para a entrega de 153 unidades em Areal. A Seinfra está buscando com o governo federal recursos para a construção de mais 330 unidades em Petrópolis, 120 em São José do Rio Preto e 128 em Sumidouro”, acrescenta a secretaria. Para prevenir novas tragédias a Seinfra afirma ter concluído 93 contenções de encostas.

Agência Brasil

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