Dia 15 de setembro de 1995. Era – ou deveria ter sido – uma sexta-feira como qualquer outra. Gildo Gonçalves Arrudas, à época com 25 anos, trabalhava como bancário na região de São Bernardo do Campo, em São Paulo. Ele começou o serviço sem saber que, dali em diante, sua vida mudaria para sempre. Durante seu expediente, assaltantes entraram no banco e, durante o roubo, Gildo foi abordado e forçado a garantir o acesso dos homens ao dinheiro. Ele tentou, mas, em meio à tensão, não conseguiu abrir o cofre.
“Ele atirou na minha cabeça. Fui socorrido pro hospital. Dizem que eu saí do lugar consciente, mas não lembro de nada disso”, conta Gildo. A bala ficou alojada em seu cérebro, e foi preciso uma cirurgia delicada para remover o projétil. Em um processo similar ao caso do ator Gerson Brenner, o bancário passou dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) antes de ir para o quarto. A alta só foi concedida depois de 30 dias.
Já em casa, as sessões de fisioterapia o acompanharam por quatro anos, e Gildo só conseguia mexer o braço direito. Os atendimentos foram parte crucial do processo que permitiu que ele voltasse a andar. Quando os movimentos começaram a retornar, foi hora de iniciar a hidroterapia e, mais tarde, a natação.
“Os médicos falam que não posso parar. Hoje faço pilates e musculação pra não perder massa [muscular]. A questão da mobilidade é bem dificultante, impede bastante. Além da questão motora, tenho um déficit de equilíbrio. Preciso ter muito cuidado, e também preciso conhecer o local em que estou andando“, explica.
Para Gildo, o acompanhamento psicológico desempenhou um papel central em outro tipo de recuperação do trauma. Ele foi aposentado definitivamente pelo INSS em 1999 e, com isso, veio a “perda da possibilidade de escolher ou tentar ser algo diferente“. “Acabei tendo outras consequências em relação a isso. Estresse pós-traumático. Fui obrigado a seguir um caminho que não tive opção de escolher“, lamenta.
Esforço e superação
Aos 53 anos, Gildo Gonçalves reflete sobre a própria dedicação para melhorar e se adaptar à nova realidade – e o apoio que recebeu nessa jornada. Ele e a esposa Ana Maria se casaram três anos antes de Gildo sofrer a tentativa de homicídio, e ela o incentivou ao longo de todo o processo, especialmente para voltar a dirigir e, assim, dar mais um passo rumo à reconquista de sua autonomia. “Não foi fácil, mas foi uma das maiores superações. Eu não tinha condição de ter um carro adaptado, então tive que ir na raça“, lembra. E garante: “Hoje nem me imagino sem ela [Ana Maria]“.
O casal teve dois filhos, Mariana e Pedro, hoje com 23 e 20 anos, respectivamente. Mesmo tendo nascido anos após o incidente, para Gildo, os dois também fizeram parte de sua superação. “É uma coisa incrível, mas acho que isso que aconteceu comigo os afetou também. No jeito de ser, nas preocupações comigo no dia a dia, nas questões de segurança“, pondera.
“Tem gente que vê de fora e minimiza, dizendo que passei pelo que passei e estou ‘bem’. Mas ninguém imagina como é devastador“, diz. Hoje, Gildo reforça a importância de valorizar esforços individuais, especialmente quando não se sabe “o que cada um passou“. “Amigos e família colaboraram de diversas formas, tive uma rede bem grande de pessoas que ajudaram. Mas eu me esforcei muito“, afirma.