entenda os casos

Quem é a deputada que teria ajudado a milícia de Zinho?

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) investiga a participação da deputada Lucinha (PSD) na milícia de Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho

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A deputada estadual Lucinha (PSD) é investigada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) – Crédito: Alerj/Divulgação

A deputada estadual Lucinha (PSD) é investigada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) pela participação da parlamentar na milícia de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho. A deputada é alvo de mandados de busca e apreensão pelo MP como braço político da milícia. Lucinha só não foi presa nesta segunda-feira (18) por ser deputada, a lei garante que parlamentares só podem ser presos por crime flagrante e inafiançável.

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Segundo Polícia Federal e o MP, há cinco casos que a deputada Lucinha teria tentado ajudar milícia de Zinho. Segundo os investigadores, Lucinha e sua assessora Ariane de Afonso Lima, agiam para proteger o grupo de ações das autoridades de segurança.

Nas investigações, há fortes indícios de que a “Madrinha”, como Lucinha foi identificada, usou de sua influência para intermediar a soltura de milicianos presos em uma operação do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidões. Além dessa conversa, Lucinha e sua assessora Ariane também foram flagradas em mais quatro situações suspeitas. Acompanhe as ligações:

Presença do prefeito

Na apuração, Ariane (assessora da deputada) teve um diálogo com o miliciano Domício Barbosa de Souza, o Dom, um dos homens de confiança de Zinho, chefe da maior milícia do Rio de Janeiro. A partir da quebra de sigilo telefônico de Dom, as autoridades encontraram o diálogo de Ariane com o miliciano.

Na conversa, Dom pergunta sobre a data em que o prefeito Eduardo Paes (PSD) estaria presente na Zona Oeste. Segundo a denúncia, Ariane responde imediatamente e essa informação permitiu ao miliciano que pudesse “se programar” e “retirar das ruas sua tropa armada”, impedindo, assim, a atuação do Poder Público na identificação e prisão dos integrantes do grupo.

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Esquema de vans

A partir das investigações, a participação de Lucinha era frequente. Nas conversas capturadas, a deputada ouviu do miliciano que seria interessante para o grupo “manter o sistema de brecha da P5”. O MP indica que a fala de Domício se refere ao Sistema de Transporte Público Local (STPL) da área de planejamento 5 – AP5, que corresponde ao transporte de vans nos bairros da Zona Oeste.

O controle ilegal do transporte alternativo é a maior fonte de recursos da milícia na região. O MP concluiu que os diálogos travados entre Lucinha e o miliciano Dom no mês de setembro de 2021 já demonstram que a deputada atuou junto ao Poder Executivo para a manutenção da “brecha da P5”, a pedido do miliciano.

Milícia rival

Segundo investigações, a deputada Lucinha teria beneficiado o grupo criminoso controlado por Zinho com a morte do empresário Alberto César Romano Junior. Segundo o MP, Ariane e Dom conversaram sobre a morte e a presença do corpo do empresário na área dominada pela milícia de Zinho. Os procuradores afirmam que Dom contou para a assessora de Lucinha que Alberto foi morto pelo grupo rival, conhecido como Bonde do Tandera.

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Domício teria mencionado também o desejo de que fosse realizada uma operação policial contra o Bonde do Tandera. Dom pediu à Ariane que solicitasse que Lucinha falasse sobre isso com o presidente da Alerj, na época, o deputado André Ceciliano (PT).

O MP concluiu que Zinho determinou a Domício que o fato fosse levado à deputada Lucinha, para que esta desse conhecimento a uma terceira pessoa (não identificada) e adotasse providências contra a milícia rival.

Livrar milicianos

No dia seis de novembro de 2021, Lucinha foi acionada por Domício para atuar em benefício de milicianos do Bonde do Zinho que haviam sido detidos. Os criminosos foram detidos por policiais militares do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidões (Recom) com armas de uso restrito de forças de segurança e fardas militares.

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Segundo a denúncia, a prisão aconteceu às 13h18 e cinco minutos depois a deputada fez uma ligação via WhatsApp, o que impossibilita a interceptação ou o armazenamento. Uma hora depois da ligação de Lucinha, Domício envia uma mensagem fazendo referência ao sargento Turquês, informando um número de telefone.

Ainda de acordo com o MP, “é possível inferir que na ligação via WhatsApp, os interlocutores tenham tratado da obtenção de informação a respeito de quem seriam os policiais responsáveis pela condução dos milicianos à delegacia de polícia para que a intercessão preiteada pudesse ser levada a termo”.

Aproximadamente 50 minutos depois da troca de mensagens, a deputada encaminha uma mensagem recebida de um contato não identificado, que afirma ter falado com o comandante do Recom, coronel Silvio, e que este teria informado que o “sargento estava junto com o tenente, encaminhando a ocorrência para a 35 DP, sem presos, apenas com a apreensão de armas e fardamento”.

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No dia seguinte Lucinha e Domício voltaram a se falar. Na troca de mensagens, Lucinha diz que “fez sua parte” e que iria quebrar o telefone utilizado no contato. A deputada pede que o miliciano faça o mesmo.

Comando da PM

Os investigadores capturaram diversos diálogos entre a deputada e sua assessora com o miliciano Domício. Na ocasião, os envolvidos atuaram para influenciar na troca do comando do 27º Batalhão de Polícia Militar, em Santa Cruz.

A primeira troca de mensagens mostra Domício falando com outro miliciano e avisando que tinha pedido à Lucinha para intervir na posse do “major Santa Cruz”. Segundo Domício, a deputada iria falar com o comandante geral da PM para reforçar o pedido ao “presidente”, em uma possível referência ao deputado André Ceciliano, presidente da Alerj.

De acordo com o MP, não existe qualquer dúvida de que “o Bonde do Zinho, por meio da deputada e sua assessora, tentou remover o comandante do 27º BPM, juntamente com o outro oficial (major Elton), com o objetivo de não ser incomodado pelos policiais”.

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