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Saiba mais sobre os três ataques de tubarão que aconteceram em 15 dias em Pernambuco

O estado pernambucano é propenso a esses incidentes e já tem pelo menos 77 casos registrados desde 1992.

Saiba mais sobre os três ataques de tubarão que aconteceram em 15 dias em Pernambuco
A primeira medida de prevenção a ser adotada pelos banhistas é tomar cuidado e respeitar as sinalizações das placas (Crédito: Wikimedia Commons) 

Dentro de um período de 15 dias, ocorreram três ataques de tubarão no Grande Recife, em Pernambuco. O estado pernambucano é propenso a esses incidentes e já tem pelo menos 77 casos registrados desde 1992.

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Nesta segunda-feira (06), uma adolescente foi atacada na praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana de Recife. A vítima foi socorrida pelo Samu. Ela teve parte do seu braço amputada e seu estado de saúde é estável. No domingo (05), outro adolescente foi atacado na mesma praia. Além desses dois casos, na segunda-feira de Carnaval (20 de fevereiro), um surfista foi mordido por um tubarão na praia de Milagres, em Olinda.

Com esses incidentes, as dúvidas sobre os motivos desses eventos serem tão comuns na região se intensificam. Portanto, o g1 realizou uma entrevista com a pesquisadora Mariana Azevedo, coordenadora do Núcleo de Pesquisa Fábio Hazin, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), que esclareceu as dúvidas mais comuns da população.

Primeiramente, a pesquisadora afirmou que existem uma série de fatores que fazem com que os ataques sejam mais frequentes em Pernambuco, como a topografia do litoral da região, com canal profundo perto da costa e antes dos recifes de coral, o que facilita a passagem dos tubarões quando a maré sobe; a escassez de comida, devido à degradação ambiental, nos canais para onde os tubarões são atraídos, a construção de complexos portuários e o esgoto na região.

Recorrência dos ataques

Segundo Mariana Azevedo, a topografia do litoral pernambucano, especialmente no trecho entre a Praia do Pina, na zona sul de Recife, e a Praia do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho, na região metropolitana, favorece a presença dos tubarões na costa, perto da faixa de areia. Essas foram condições que proporcionaram dois casos recentes de ataque em Jaboatão.

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“A gente tem um canal profundo que fica perto da costa onde a gente toma banho e antes dos recifes de coral. Quando a maré sobe, esse animal consegue passar e ficar preso numa posição confortável para estar indo atrás de alimento. Obviamente, a gente sabe que está tudo degradado”, disse Mariana.

Além disso, ela também afirmou que as características econômicas da população influenciam na frequência desses ataques: “O passeio da praia, de mar, é o mais barato. É o que todo mundo pode ir, o mais democrático. Então, o encontro com a população vai ser mais frequente se tem mais pessoas na praia”. 

Mariana também explicou que tubarões não são atraídos pela carne humana, mas são animais curiosos, que gostam de explorar o ambiente: “Infelizmente, a oferta de alimento é muito baixa e eventualmente ele vai investigar o que tem para comer. Não é porque ele gosta da gente. A carne da gente nem presta para ele. Ele nem curte, mas acaba mordendo. Sente o gosto e, eventualmente, até acaba jogando fora, regurgitando quando vê que não é do hábito alimentar dele. Aí, já fez estrago grande”. 

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Os tubarões

A pesquisadora afirmou que esses canais profundos perto da costa são, geralmente, locais onde os tubarões encontram comida. Porém, por conta da degradação do meio ambiente, a oferta de alimento é escassa. Entretanto, eles seguem indo ao litoral por vários fatores.

“As explicações são muito variadas. Não existe um fato isolado que explica esse surto de incidentes aqui no nosso litoral, mas, sem dúvida, a construção de complexos portuários e o esgoto. A gente tinha o matadouro de Jaboatão também, a pesca de arrasto de camarão e descarte dessa fauna acompanhante perto do litoral também acabam atraindo esses animais”, explicou Mariana.

Ela também disse que o lixo agrava a situação: “O lixo atrai muito. Tudo que a gente solta de tampinha. […] Como é um animal muito curioso, o que tiver de lixo, de resíduo, ele vai atrás, para saber o que tem ali”.

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Prevenção

A pesquisadora afirmou que a primeira medida de prevenção a ser adotada pelos banhistas é tomar cuidado e respeitar as sinalizações das placas, ou seja, quando a orientação é não entrar no mar, não entre.

Entretanto, em alguns locais, a sinalização está desgastada. Portanto, é importante saber que as placas de alerta em áreas sujeitas a ataques recomendam que as pessoas não entrem no mar nas seguintes situações:

  • Em áreas de mar aberto;
  • No período de maré alta;
  • Ao amanhecer e ao cair da tarde;
  • Na foz dos rios;
  • Em áreas profundas;
  • Em áreas turvas;
  • Se estiver sozinho;
  • Com sangramento ou com objetos brilhantes;
  • Se estiver alcoolizado.

Mariana disse ao g1 que o tratamento do lixo também é essencial: “Sempre que a gente vem à praia, a gente traz a mensagem de que leve o que você produziu de lixo e também leve o que está ali ao seu redor, porque sempre vai ter lixo”. 

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A pesquisadora afirmou que evitar situações que possam aumentar o risco de ataques de tubarão é um dever de todos. Porém, ela também disse que o poder público tem um papel essencial, que tem sido negligenciado, na prevenção. Por exemplo, o monitoramento em mar dos tubarões é essencial e esse trabalho foi paralisado em 2015.

“Por causa de gestão, o projeto, o Protuba, foi quebrado. Ele foi parado e a gente não conseguiu fazer o monitoramento, tanto na água, como a gente fazia, marcando os animais, quanto também na orla, com a educação ambiental”, afirmou Mariana.

Entretanto, nessa segunda-feira (06), a governadora de Pernambuco Raquel Lyra (PSDB) afirmou que irá investir em mais pesquisas para aprimorar o monitoramento das praias pernambucanas e evitar novos ataques de tubarão.

A pesquisadora disse que é possível que o banho de mar volte a ser seguro: “Sem dúvida, o trabalho de formiguinha, o trabalho contínuo da educação ambiental é o ponto mais importante. Na época que a gente atuava a gente conseguia estar na praia o tempo todo, atuando do Pina ao Paiva, falando com a população, dando essa mensagem e lembrando, mesmo para aqueles que têm acesso às placas, que têm acesso à informação, porque a educação é feita todo dia”.

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